Saída da Huawei do 5G do Reino Unido custará caro aos britânicos, alerta China
Por Rui Maciel |
Na última terça-feira (14), o Reino Unido anunciou que os equipamentos da Huawei que estão na infraestrutura 5G britânica sejam banidos da Grã-Bretanha até 2027. Além disso, a partir do final deste ano, fica proibida a compra de componentes da marca para as redes móveis de quinta geração na região. Se essa decisão agradou os EUA, que travam uma guerra comercial / tecnológica, obviamente não deixou os chineses nada felizes. E eles já avisaram os ingleses: a expulsão da Huawei custará caro a eles, principalmente na questão de investimentos.
E essa ameaça velada é especialmente preocupante quando se analisa o tamanho de ambas as economias: a China tem um PIB de US$ 15 trilhões, cinco vezes maior que o do Reino Unido. Após o anúncio do banimento da Huawei feito pelo primeiro-ministro Boris Johnson, o governo chinês alertou que a decisão prejudicaria os investimentos do seu país, pois as empresas chinesas observaram como Londres "despejou" a gigante das telecomunicações de seu país.
"Agora eu diria que isso não é apenas decepcionante - é desanimador", afirmou o embaixador chinês Liu Xiaoming ao Centro de Reforma Europeia, acrescentando que a Grã-Bretanha "simplesmente abandonou a Huawei". Ainda de acordo com Xiaoming, "a maneira como você trata a Huawei está sendo seguida de perto por outras empresas chinesas, e será muito difícil para elas ter a confiança necessária para investir mais", disse ele.
Em Pequim, o Ministério das Relações Exteriores classificou a Grã-Bretanha como "um lugar relativamente pequeno" e que estava se tornando subserviente aos Estados Unidos. "O Reino Unido quer manter seu status independente ou ser reduzido a ser um vassalo dos Estados Unidos, ser a pata dos gatos dos EUA?", questionou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying. "A segurança do investimento chinês no Reino Unido está sendo ameaçada."
Dependência da China
Segundo a agência de notícias Reuters, o Reino Unido tornou-se cada vez mais dependente das importações chinesas. Cerca de 9% de todos os bens importados para a Grã-Bretanha em 2018 - algo em torno de US$ 54 bilhões - vieram da China. Isso corresponde ao dobro da proporção dos 15 anos anteriores.
Mas as empresas britânicas também investiram cada vez mais na China. Entre 2013 e 2018, eles mais que dobraram sua posição de investimento na economia do país asiátivo, com aportes no valor de 16 bilhões de libras, de acordo com dados oficiais do governo britânico.
Por outro lado, o investimento chinês em empresas britânicas ficou em 1,8 bilhão de libras em 2018 - muito abaixo do dos Estados Unidos, que é o maior investidor estrangeiro na Grã-Bretanha.
A pressão de Trump
Trump identifica a China como o principal rival geopolítico dos Estados Unidos e acusou o Estado governado pelo Partido Comunista, mesmo sem aproveitar provas, de usar a tecnologia da Huawei para espionar outros países. Além disso, o país norte-americano afirma que os chineses estão aproveitando as questões comerciais para não dizer a verdade sobre o novo surto de coronavírus, que ele chama de "praga da China".
"Convencemos muitos países, muitos países - eu fiz isso pessoalmente - a não usar a Huawei, porque achamos que é um risco à segurança, um grande risco à segurança", disse Trump a jornalistas no Jardim de Rosas da Casa Branca na última terça-feira. “Conversei com muitos países sobre o uso: se eles querem fazer negócios conosco, não podem usá-lo. Ainda hoje, acredito que o Reino Unido anunciou que não o usará. ”
A Grã-Bretanha disse que sua proibição da Huawei é motivada por suas próprias preocupações de segurança e por preocupações de que o fornecimento de equipamentos da Huawei possa ser interrompido por sanções dos EUA. No entanto, Boris Johnson negou que Trump fosse o único responsável pelo banimento da gigante chinesa. Questionado sobre os comentários do mandatário norte-americano, o secretário de saúde britânico Matt Hancock disse: "Bem, todos nós conhecemos Donald Trump, não sabemos".
Entenda o banimento
O banimento da Huawei do 5G do Reino Unido foi determinado pelo Conselho de Segurança Nacional da Grã-Bretanha (NSC), presidido pelo primeiro-ministro, Boris Johnson. Até 2027, a infraestrutura da nova geração de redes móveis da região não deverá ter mais nenhum equipamento da marca chinesa. E a compra de componentes da mesma também passa a ser proibida já no começo de 2021.
As medidas acertam em cheio os interesses da empresa chinesa, já que o Reino Unido era visto como a principal cartão de visitas da companhia no Ocidente. A decisão do primeiro ministro do Reino Unido foi corroborada pelo braço cibernético da agência britânica de espionagem GCHQ e pelo Centro Nacional de Segurança Cibernética. As entidades disseram aos ministros que não poderiam mais garantir o fornecimento estável de equipamentos da Huawei depois que os Estados Unidos impuseram novas sanções à tecnologia de chips.
Além disso, o largo prazo para abandonar os equipamentos da Huawei também agrada as operadoras de telecom britânicas, como a British Telecom (BT), a Vodafone e a Three. Essas empresas estavam preocupadas em gastar bilhões de libras para se substituir os componentes da Huawei a curto prazo, o que atrasaria a implementação do 5G em todo o país. Para além do 5G, as empresas de telecomunicações também serão instruídas a parar de usar a Huawei em suas infraestruturas de banda larga fixa nos próximos dois anos.
"Esta não foi uma decisão fácil, mas é a certa para as redes de telecomunicações do Reino Unido, para nossa segurança nacional e nossa economia, agora e a longo prazo", afirmou ao parlamento Oliver Dowden, secretário de Digital, Cultura, Mídia e Esportes da Grã-Bretanha, "Até a próxima eleição, teremos implementado por lei, um caminho irreversível para a remoção completa dos equipamentos Huawei de nossas redes 5G".
A Huawei afirma ainda que os Estados Unidos querem interromper seu crescimento, porque nenhuma empresa norte-americana poderia oferecer a mesma gama de tecnologias que ela, a um preço competitivo. Para completar, a China diz que a proibição de atuação de uma de suas principais empresas globais de tecnologia teria ramificações de longo alcance.
Fonte: Reuters