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Napster completa 20 anos; relembre a história do polêmico programa de downloads

Por| 03 de Junho de 2019 às 21h30

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Napster
Napster

O Napster, primeiro programa de compartilhamento de arquivos online, completou duas décadas no último sábado (1º). Fundado no ano de 1999 e desativado dois anos depois após diversas batalhas judiciais, o sistema foi a base para os demais serviços do tipo em sua época, como o KaZaa e o LimeWire, e para o que hoje é o que temos de melhor em termos de streaming, torrent e afins.

Vamos relembrar um pouco do que foi o Napster, seus processos na justiça e como ele contribuiu para a indústria musical — e, por que não, para toda a internet.

Como tudo começou

Esse tipo de invenção é sempre colocada na prática por acaso, mas não sem uma mente brilhante por trás. No outono de 1998, Shawn Fanning, um usuário do canal de IRC w00w00 com o nickname "Napster", entrou em uma sala de bate-papo na rede EFnet, ocupada por algumas dezenas de "hackers" de elite. "Napster" compartilhou uma nova ideia com o grupo. O desenvolvedor de 17 anos de idade queria criar uma rede de computadores que pudessem compartilhar arquivos entre si. Mais especificamente, faixas de música.

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Para muitas pessoas, incluindo algumas do próprio canal do IRC, essa ideia parecia absurda. Na época, já era possível baixar arquivos da Internet, mas em uma escala muito limitada. E, mesmo assim, as transferências eram muito pouco confiáveis. Criar uma rede de centenas, milhares ou até mesmo milhões de pessoas que abrissem seus discos rígidos para o resto do mundo e oferecessem largura de banda era algo totalmente estranho.

"Napster", no entanto, tinha a sensação de que as pessoas poderiam estar interessadas. Esse sentimento foi compartilhado por outro adolescente fanático por computadores chamado Sean Parker, ou "Man0War", também membro do canal. Ambos trocaram figurinhas e logo se encontrariam para tirar a coisa do papel.

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O que havia começado como um sonho distante agora era uma programa completo que estava pronto para abalar o mundo, valendo milhões de dólares. O software, que carregava o nickname de seu inventor, logo encontrou o caminho para milhões de computadores em todo o mundo. De lá, as coisas se desenvolveram rapidamente. Após cerca de três meses, o Napster já fornecia acesso a quatro milhões de músicas e, em menos de um ano, 20 milhões de pessoas haviam instalado o programa.

Para muitos usuários do Napster, o aplicativo representava algo mágico. Era uma porta de entrada para a exploração musical que superava até as maiores lojas de discos da cidade. E tudo de graça.

Metallica, os processos e o começo do fim

Enquanto uma gravadora — A & M — apresentou o primeiro processo contra o Napster, ironicamente foi uma banda que capturou a atenção do público. O Metallica levou o Napster ao tribunal depois de encontrar uma mixagem alternativa para a música I Disappear, canção-tema do filme Missão Impossível II, no serviço — uma versão que nunca havia sido lançada oficialmente.

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Em 13 de abril de 2000, o Metallica entrou com uma ação contra o Napster por violação de direitos autorais, extorsão e uso ilegal de dispositivos de interface de áudio digital em um tribunal distrital no norte da Califórnia. O Metallica rastreou os nomes de 335 mil usuários do Napster que compartilharam suas músicas e pediram ao Napster para bani-los do serviço (coisa que o Napster fez). A cruzada do Metallica criou uma reação adversa, com alguns de seus próprios fãs vendo isso como um ataque pessoal contra eles.

Para que o amigo leitor possa entender um pouco do que foi essa briga, dois documentários podem ajudar. Downloaded - A saga do Napster, de 2013, que mostra toda a trajetória deste programa, e Some Kind of Monster, de 2004, um filme que tinha como objetivo mostrar o resnascimento do Metallica e a produção do controverso álbum St.Anger, de 2003.

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Por mais que Dr. Dre e outros artistas também tenham processado o serviço, foi Lars Ulrich, baterista e cofundador do Metallica, que tomou à frente no campo artístico para combater o Napster, indo à maioria das audiências.

Como a maioria das gravadoras, esses artistas viam o software de compartilhamento de arquivos como uma ameaça. Eles achavam que isso destruiria a indústria da música, que estava no auge na época. No entanto, também houve artistas que viam a situação com bons olhos, caso de Chuck D, que descrevera o Napster como 'o novo rádio'. Críticos da época, no entanto, viam os defensores do Napster como artistas em decadência. Fazia algum sentido, já que, segundo a Billboard, o Metallica foi a banda que mais levou público a turnês nos anos 1990, além de ter seu álbum homônimo, Metallica, de 1991, no topo das vendas da Nielsen Soundscan desde seu lançamento.

Mas os usuários do Napster não estavam preocupados com o que as gravadoras e artistas pensavam. Eles apenas estavam interessados ​​em expandir suas bibliotecas de música digital. Embora não existam números oficiais, o Napster foi responsável por uma parcela significativa do tráfego global da Internet na época.

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Enquanto isso, a base de usuários atingiu um pico de mais de 26,4 milhões de usuários em todo o mundo em fevereiro de 2001. Mas, apesar do crescimento epidêmico e do apoio de investidores, o pequeno império de compartilhamento de arquivos não conseguiu superar os desafios legais.

O caso da A&M resultou em uma liminar, que ordenou o fechamento da rede. Isso aconteceu em julho de 2001, pouco mais de dois anos após o lançamento do Napster. Em setembro daquele ano, o caso havia sido liquidado por milhões de dólares.

Tudo mudou e para melhor

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Enquanto a "febre" do Napster acabou, o compartilhamento de arquivos se agigantou, conquistou de vez as massas e hoje está mais vivo do que nunca. Grokster, KaZaa, Morpheus, LimeWire, AudioGalaxy, eMule e muitos outros surgiram e forneceram alternativas para que esse novo hábito proseguisse.

Esses portais de download, no entanto, nunca chegaram perto do que o Napster oferecia. Muitos fãs de música não estavam interessados ​​em comprar algumas faixas aqui e ali: eles queriam milhões de arquivos na ponta dos dedos, prontos para serem tocados, do jeitinho que o Napster oferecia. Isso incluiu um adolescente sueco chamado Daniel Ek. A experiência do Napster acabou por levar Ek a encontrar uma alternativa legal e, assim, nascia o Spotify, que por sua vez provocou um boom de assinaturas de streaming de música.

Embora o Napster fosse frequentemente associado à pirataria, ele teve um impacto importante no desenvolvimento de serviços jurídicos. As pessoas sinalizaram claramente que havia interesse em baixar músicas, então as primeiras lojas de downloads foram lançadas, com o iTunes assumindo a liderança em um primeiro momento.

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O próprio Metallica se reinventou e deu a letra para que outros artistas seguissem o caminho da internet. O lançamento do álbum Death Magnetic, de 2008, foi feito simultaneamente em versões físicas e digitais, além de ter tido um hotsite, na época, que dava pequenos teasers sobre as músicas como forma de minimizar eventuais vazamentos. A banda também começou a vender áudios de suas turnês em altíssima qualidade e foi uma das primeiras a ter programação completa em um canal de YouTube próprio.

Até mesmo a marca Napster, que trocou de proprietário várias vezes, hoje é um serviço de assinatura musical. Os fundadores do Napster, enquanto isso, criaram várias outras empresas de sucesso: Sean Parker agora é um bilionário, em parte graças ao seu envolvimento precoce com o Facebook, que também pode ser visto em outro filme/livro, A Rede Social, de 2010. Fanning também não está indo mal, com um patrimônio líquido de mais de 100 milhões de dólares.

Portanto, se hoje temos serviços de qualidade em streaming de música e vídeo, dentro da legalidade e à disposição 24 horas por dia, devemos, em parte, ao polêmico Napster que, na virada do século, abriu as portas para o que temos hoje.

Fonte: TorrentFreak , BBC Music