Sweet Tooth | 6 diferenças entre a série e os quadrinhos
Por Durval Ramos • Editado por Jones Oliveira |
A série Sweet Tooth pegou muita gente de surpresa. Não só por trazer um mundo pós-apocalíptico relativamente fofinho e bem diferente do que a gente costuma ver no gênero, mas por trazer uma abordagem bem diferente do material original. A produção da Netflix é baseada em um famoso quadrinho da Vertigo, o selo de histórias adultas da DC Comics, mas traz mudanças bem significativas em relação à HQ.
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O principal ponto está justamente no tom. Enquanto a série traz essa história até bastante otimista e com um protagonista simpático e aventureiro — o que faz do seriado uma versão até mais infantil de um The Last of Us, por exemplo —, o gibi é bem mais pesado em quase todos os sentidos.
Do clima sombrio e decadente aos próprios acontecimentos que não poupam ninguém (muito menos o leitor), o quadrinho de Sweet Tooth é um soco no estômago que a adaptação decidiu evitar. Assim, a história optou por seguir algo mais lúdico sobre essa criança de comercial de leite ao invés de trazer uma realidade em que os híbridos são violentados e até abusados pelos humanos que os odeiam.
E, para ilustrar como a série e HQ são diferentes, o Canaltech listou 6 diferenças entre a série e os quadrinhos de Sweet Tooth.
6. Gus não é nada esperto
O primeiro ponto está em torno do próprio protagonista, o pequeno Gus. Na série, o menino-cervo vivido por Christian Convery (O Urso do Pó Branco) é o coração da história e facilmente a melhor coisa da adaptação como um todo. Ele é uma criança bastante esperta e curiosa que está ávida para descobrir o mundo para além das cercas em que foi criado. E, mesmo sendo bastante ingênuo, ele é sagaz o suficiente para se virar sempre que necessário.
Só que nada disso existe no quadrinho. Na trama original, Gus é de uma ingenuidade quase bestial mesmo. Enquanto o seriado mostra que o menino foi treinado desde muito novo para sobreviver em um mundo hostil, sua contraparte do gibi cresceu sendo escondido de tudo e de todos, o que faz dele alguém extremamente vulnerável a tudo e a todos.
Ele é tão inocente que chega a ser burro e, de certo modo, o deixa muito mais próximo de um animal mesmo do que uma criança de verdade. Assim, enquanto a série traz essa imagem da criança prodígio que é tão comum em histórias do tipo, o gibi não esconde que a natureza de Gus é mesmo ser um animal a caminho do abate e inapto para sobreviver.
5. Aimee não existe
Além de Gus e de Jepperd (Nonso Anozie), a adaptação de Sweet Tooth traz outra protagonista para a trama. A humana Aimee (Dania Ramirez) é apresentada como uma mulher que adota uma criança híbrida e a cria como sua filha, mostrando que nem todo mundo se tornou um monstro assassino nessa nova realidade.
Só que essa é uma personagem criada especialmente para a série. No quadrinho, a ideia de que a humanidade se perdeu com o surgimento dos híbridos é bem mais forte e não há espaço para alguém como Aimee dentro dessa proposta.
Isso significa que todo aquele arco em que ela cria a menina-porco Wendy (Naledi Murray) não existe. No máximo, vemos essa híbrida já no campo de concentração quando Gus é capturado, mas o gibi não se preocupa em aprofundar a história da jovem suína.
4. O Dr. Singh é um babaca desde o início
Uma mudança bem radical que a série apresenta diz respeito ao doutor Aditya Singh (Adeel Akhtar). Ele é o responsável pelas pesquisas e experimentos envolvendo os híbridos a fim de descobrir o que causou seu surgimento e uma eventual cura para a doença que acompanhou o surgimento dessas crianças-animais.
Só que a série se preocupa em mostrar que o cientista não é alguém monstruoso, imoral, antiético ou mesmo sádico como os outros humanos. É desenvolvido todo um arco que justifica suas ações e mostra que, no fim das contas, ele está sendo quase que obrigado a realizar sua pesquisa em crianças e que, acima de tudo, sua principal motivação é encontrar uma cura para sua mulher.
É uma tentativa bem clara de humanizar Singh que, nos quadrinhos, está bem longe de ser esse cientista martirizado. No caso, ele é apenas alguém muito mais egocêntrico e narcisista que não vê problema algum em dissecar crianças. E tudo isso por uma razão bem simples: tudo o que ele almeja é ser reconhecido como a pessoa que descobriu a cura e salvou o mundo.
Uma possível explicação para essa mudança pode estar no timing. A primeira temporada de Sweet Tooth saiu ainda no início da pandemia de covid-19 e a série da Netflix parece ter se preocupado em não vilanizar o cientista em um momento em que o mundo inteiro estava pesquisando uma vacina para uma doença.
3. As últimas crianças
Já na segunda metade da série, Gus e Jepperd se deparam com um grupo do que parecem ser as últimas crianças humanas do mundo. São adolescentes que cresceram já nessa realidade pós-apocalíptica e que, por isso, enxergam os híbridos de maneira diferente do que os adultos. Ao invés de temerem as crianças-animais, eles os admiram.
O grupo liderado por Bear (Stefania LaVie Owen) acolhe a dupla de heróis rapidamente e não esconde essa devoção que tem com os híbridos, mostrando como se inspiram em animais em seu modo de agir. Por isso mesmo, são personagens bem interessantes quando surgem na tela.
Só que os quadrinhos de Sweet Tooth colocam esse pessoal dentro daquela perspectiva mais sombria que acompanha toda a HQ. No caso, eles aparecem em outro contexto e não são esses adolescentes até bastante simpáticos. A versão do gibi trata esse pessoal como uma seita tão doentia quanto qualquer humano que sobreviveu ao Flagelo, a doença que devastou a humanidade.
Eles aparecem como adultos que realmente têm essa devoção com os híbridos. Só que eles não são tão bonzinhos quanto no seriado e é mostrado que muitos deles mataram os próprios filhos em uma tentativa de absorver o poder que eles carregam de nascença. É uma concepção tribal bastante perturbadora que a Netflix achou melhor deixar de fora.
2. Jepperd é uma pessoa horrível
Voltando às comparações com The Last of Us, o Jepperd de Sweet Tooth é uma versão um pouco mais amena do Joel que a produção da HBO apresentou. Ele é um sobrevivente que encontra Gus por acaso e reluta a aceitar que o garoto o acompanhe, já que o menino que cruzar o país para encontrar a mulher que acredita ser sua mãe.
É apenas depois de algum tempo que o Grandão aceita essa função de tutor e leva Gus em sua jornada — o que resulta na grande virada de roteiro ao final da primeira temporada. E, apesar dessa reviravolta, é fácil comprar a relação de pai e filho que se desenvolve entre os dois protagonistas.
Só que, na HQ, é muito mais difícil aceitar Jepperd como alguém minimamente bom. Para começo de conversa, ele é bem mais atuante na hora de encontrar Gus. A história começa com o menino-cervo sendo perseguido por dois caçadores na área em que vive e é o Grandão quem dá conta dos homens, matando-os sem pestanejar. E, a partir dessa confiança rapidamente conquistada por salvar a criança — lembre-se, Gus é ingênuo feito um animal mesmo —, ele convence o garoto a acompanhá-lo.
Assim, os dois partem em viagem desde o início. Jepperd promete que vai levar Gus até uma espécie de santuário onde outros híbridos vivem em segurança e, assim, o menino não precisa mais viver escondido e sob constante ameaça. E é dessa forma que ele conduz o garoto até a reviravolta que a série também apresenta.
Nesse meio tempo, inclusive, o quadrinho dedica alguns momentos para mostrar como o humano é também alguém desprezível. Em nenhum momento ele é apresentado como alguém de bom coração que age apenas para sobreviver. Desde o início, ele é tratado como alguém violento e detestável.
1. Pubba é um maluco
A primeira temporada traz apenas alguns poucos momentos com Pubba (Will Forte). O pai de Gus aparece em alguns flashbacks e sempre em torno dessa imagem bastante paterna e afetiva que o menino tem dele. É assim que vemos como o velho cientista criou o garoto com muito amor e o preparou para encarar um mundo extremamente hostil. Foi uma criança muito bonitinha e que justifica o fato de o menino-cervo ser tão otimista como é retratado aqui.
Só que o Pubba dos quadrinhos é um completo maluco e bem longe de ser esse pai amoroso. Na verdade, ele é uma pessoa quebrada pelo seu trabalho e envolvimento no surgimento dos híbridos e do Flagelo e isso é algo que reverbera tanto em seu comportamento quanto na própria relação com Gus.
Ele é retratado, no original, quase como um fanático religioso. Ele trata suas anotações como algo à beira do divino e vive à espera desse mal inevitável que se aproxima. E a forma que ele encontra de lidar com isso é simplesmente se escondendo no meio do mato. É por isso que o Gus da HQ é ingênuo e inapto, já que ele foi criado como um animal mesmo.
Sweet Tooth está disponível na Netflix.