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Crítica O Urso do Pó Branco | Uma viagem tão ridícula que é maravilhosa

Por| Editado por Jones Oliveira | 30 de Março de 2023 às 09h30

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Universal Pictures
Universal Pictures

O Urso do Pó Branco é um filme idiota — no melhor sentido que isso pode ter. Afinal, somente abraçando o ridículo é que você consegue contar uma história tão bizarra quanto a do urso que comeu quilos de cocaína no meio da floresta. E é ao ostentar sem vergonha toda essa loucura e estranheza que o filme se torna uma comédia incrível.

O grande mérito do longa dirigido por Elizabeth Banks é justamente não se levar a sério em momento algum. Ele se reconhece como algo que beira o trash e tira o máximo de proveito que isso pode oferecer, o que é um acerto enorme. Tudo é tão insano e acelerado que parece que o próprio filme cheira uma carreira e leva o espectador em sua viagem.

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E o mais surpreendente disso é o quanto essa coisa caótica funciona. Sem esconder em momento algum o ridículo da proposta — que é baseada em uma história real, sempre bom lembrar — e a pretensão de ser uma comédia escrachada, a diretora explora o exagero e brinca com outros gêneros de uma forma tão divertida que é fácil entender porque O Urso do Pó Branco se tornou tão viciante.

Para além da comédia

Banks é muito mais conhecida por seu trabalho como atriz do que realmente como diretora. Só que ela imprime bem sua assinatura por aqui ao trazer um tipo de humor bastante ácido, irreverente e até bastante errado. O Urso do Pó Branco é uma comédia que dialoga muito mais com alguns filmes que a gente costumava ver nos anos 1980 e 1990 e que perderam espaço em Hollywood.

Mais do que isso, ela tem uma noção muito boa da linguagem cinematográfica para brincar com o roteiro. A ideia de transformar esse urso chapado em uma máquina de matar é boa, mas o modo como isso é colocado na tela é o que torna essa viagem tão divertida.

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Há momentos em que a comédia é escrachada, com o animal simplesmente curtindo o barato dado pela droga. Em outros, Banks usa elementos vindos de filmes de terror para transformar o urso em um monstro ao estilo Tubarão.

E a comparação com o clássico de Steven Spielberg não é à toa. Da trilha sonora escolhida para esses momentos à própria construção das cenas, com a fera sendo mostrada aos poucos e criando uma tensão incômoda no público, é perceptível o domínio da linguagem para criar novas camadas para O Urso do Pó Branco para além do humor inerente à proposta.

O mesmo acontece com a trama policial. Em paralelo ao surto do urso, há toda uma história de traficantes tentando recuperar a droga e um policial tentando capturá-los que também funciona muito bem. Ainda que não seja o ponto alto do roteiro, cumpre bem seu papel, assim como o próprio núcleo infantil, que reproduz todo aquele espírito caótico de comédias adolescentes dos anos 1980.

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É essa combinação de gêneros que faz de O Urso do Pó Branco uma surpresa tão agradável. Caso fosse apenas um besteirol sobre um urso chapado, muito provavelmente cairia no mesmo balaio de comédias sobre drogas, como muitas feitas por James Franco e Seth Rogen, por exemplo, com piadas batidas e previsíveis.

Ao brincar com muito mais estilos e até mesmo situações, todo esse surto se torna mais atraente e divertido. Elizabeth Banks consegue imprimir um humor que pode ser até controverso, mas não cai no mau gosto. No fim, a piada é a própria situação como um todo e as implicações em torno do ursinho pó.

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Reforços humanos

Embora a estrela de O Urso do Pó Branco seja o próprio Pablo Eskobear, o elenco humano do filme é um acerto enorme. Não apenas por serem ótimas vítimas para a fúria brutal da fera, mas por enriquecerem a trama para além da matança ou das situações bizarras que a viagem de cocaína cria.

São três núcleos que vão até a reserva florestal onde o urso drogado está por diferentes razões, seja para buscar a droga, capturar os traficantes envolvidos na operação ou para encontrar crianças que se meteram lá no meio. E o quanto esses personagens adicionam a esse humor caótico é o que torna tudo muito bom.

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Do traficante enlutado de Alden Ehrenreich ao trombadinha de gangue típico dos anos 1980 vivido por Aaron Holiday — que está a cara do brasileiro Rafael Portugal —, todo mundo entrega ótimas cenas e em situações que não dependem apenas do urso e da cocaína.

Nesse sentido, porém, a grande estrela do filme é o pequeno Christian Convery. O garoto entrega um papel bem diferente do seu herói em Sweet Tooth, vivendo aquele típica criança de comédias clássicas, que quer parecer mais adulto do que uma criança de 8 anos. E ele é ótimo não só pelo contraste da sua cara extremamente infantil com as situações absurdas que ele enfrenta, mas pela própria expressividade que ele incorpora a cada cena.

Tiro certo

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O Urso do Pó Branco tinha tudo para dar errado. Embora seja livremente baseado em uma história real marcada pelo bizarro, o filme poderia seguir pelo caminho do mau gosto ou mesmo de um humor mais pobre que o colocaria na mesma categoria dessas produções questionáveis com animais assassinos.

Só que ele acerta muito bem na sua própria loucura. Sem medo de se assumir como galhofa e aproveitando cada oportunidade que o senso do ridículo oferece, ele abraça o absurdo para criar uma comédia exagerada e caótica como há tempos não víamos no cinema.

Não se levar a sério é uma virtude, mas saber o que fazer com a liberdade que isso oferece é o que realmente importa e algo que nem todo mundo domina. E, mesmo completamente entorpecido de uma loucura bastante particular, O Urso do Pó Branco é muito centrado naquilo que quer ser e em como fazer isso acontecer. No fim, prova que ser idiota está longe de ser um problema quando se usa isso a seu favor.

O Urso do Pó Branco está em cartaz nos cinemas de todo o Brasil; garanta o seu ingresso na Ingresso.com.