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Quiet on Set | Documentário expõe série de abusos em produções da Nickelodeon

Por| Editado por Durval Ramos | 21 de Março de 2024 às 14h00

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Divulgação/Max
Divulgação/Max

O documentário Quiet on Set: The Dark Side of Kids TV jogou novo combustível em uma das histórias mais escabrosas do entretenimento recente. Em quatro capítulos, a série da Discovery ainda inédita no Brasil, mas disponível no serviço de streaming Max nos EUA, se volta aos casos de abuso e assédio envolvendo menores de idade nos bastidores dos programas de televisão infantil entre o final dos anos 1990 e o início dos 2000.

No centro, como não poderia deixar de ser, está Dan Schneider, produtor todo-poderoso da Nickelodeon e grande nome por trás de shows de sucesso do canal como iCarly, Kenan & Kel, Drake & Josh, Zoey 101 e vários outros. Ele já havia sido exposto em 2018, quando se afastou da Nickelodeon e, agora, volta a ter seu nome mencionado em revelações ainda mais graves, a partir de depoimentos dos próprios atores envolvidos nas produções.

O documentário lançado no último dia 17 de março reacendeu as polêmicas em torno do executivo, principalmente ao dar mais detalhes sobre o ambiente tóxico nos bastidores de produções infantis e teen da Nickelodeon entre o final dos anos 1990 e início de 2010. Com diversos depoimentos de artistas que passaram pelo canal nesse período e relatos de outros profissionais que viram muita coisa, as situações descritas chocaram o mundo.

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Atenção: o texto terá descrições e menções a casos de abuso psicológico e assédio sexual infantil.

A favorita

Amanda Bynes (A Mentira) é citada como uma das preferidas de Schneider. Em uma cena que voltou a circular nas redes sociais após o lançamento de Quiet on Set, ela aparece de maiô em uma banheira ao lado do produtor, completamente vestido, durante as gravações de uma cena de The Amanda Show, protagonizado pela atriz. Na época, ela tinha 16 anos.

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A criação de uma série com o nome dela teria a ver, justamente, com a preferência de Schneider por Bynes, que também envolvia reuniões individuais e até uma tentativa de emancipação. Enquanto outros membros do elenco não citam casos de assédio envolvendo os dois, a atriz teria tentado ir morar com o produtor e sua esposa após fugir de casa, alegando abuso moral da parte de seus pais biológicos.

Como a série do Max explica, a emancipação não somente permitiria que Bynes e Schneider passassem mais tempo juntos, mas também que ela estaria livre de leis americanas que regulam o trabalho infantil. Assim, ela poderia passar mais horas no set e gravar mais episódios por dia caso a tentativa tivesse dado certo, o que não aconteceu.

O padrão de manipulação em busca de afastar os atores mirins dos pais, responsáveis e amigos é citado como comum por diferentes membros do elenco e das produções capitaneadas por Schneider. Angelique Bates (Shirley), por exemplo, contou sobre como era incentivada por integrantes da equipe a não falar sobre os abusos que sofria pelos pais, que também não sofriam intervenção quando agiam assim em pleno set de filmagem.

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Um dos primeiros casos desse tipo veio à tona em 2022, quando Jennette McCurdy — a Sam de iCarly — revelou que a Nickelodeon ofereceu a ela US$ 300 mil para que não revelasse publicamente o que presenciou nos sets de gravação de iCarly e outras produções do canal. A proteção envolveria um tal de “Criador”, cujo nome não é revelado no livro da atriz, I'm Glad My Mom Died, mas entendido como Schneider.

Ele é descrito como alguém com dois lados, um “generoso e cheio de elogios”, e outro “controlador e assustador”. Na publicação, ela também descreve como ele demitia sumariamente trabalhadores que cometiam erros mínimos durante as produções e um jantar para comemorar o lançamento de Sam & Cat, no qual o Criador teria incentivado menores de 21 anos a beber álcool, tocado neles sem autorização e oferecido massagens a atrizes mirins.

As revelações levaram a uma das primeiras investigações da Nickelodeon sobre a conduta de Schneider, que acabou proibido de trabalhar com crianças. À época, ele negou tal fato e afirmou que a mudança na rotina de trabalho se deu pela quantidade de produções pelas quais era responsável, o que o levou a ficar menos tempo nos sets de filmagem, passando a trabalhar mais em seu escritório.

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Lobo entre cordeiros

Outro caso grave citado ao longo dos capítulos de Quiet on Set envolve a presença de um predador sexual como assistente de produção de séries como All That e The Amanda Show. No documentário, uma mulher cuja identidade foi mantida em sigilo conta como a própria filha, de 11 anos de idade, foi abusada por Jason Handy, que entregou a ela uma foto própria em atos sexuais. O relato também envolve beijos em uma atriz mirim de apenas nove anos de idade e muitas tentativas de fazer amizade com o elenco de crianças.

Handy foi preso em 2003, acusado de envolvimento sexual com uma garota de 14 anos. Em sua casa, a polícia encontrou milhares de imagens de pornografia infantil, incluindo conteúdo explícito, e um diário em que o profissional admite ser pedófilo. Em uma das entradas, ele afirma que não teria dificuldade nenhuma caso precisasse de alguém para abusar sexualmente.

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Na ocasião, ele foi condenado a seis anos de prisão e passou a fazer parte de um registro nacional de criminosos sexuais. Porém, em 2014, ele voltou a ser preso, desta vez no estado americano da Carolina do Norte, sob três novas acusações de atos sexuais com menores de idade.

Outro trecho de Quiet on Set que vem sendo compartilhado massivamente nas redes sociais envolve o ator Drake Bell (Kingdom Hearts III). Protagonista da série que levava seu nome, Drake & Josh, ele afirma ter sido abusado sexualmente por Brian Peck, que trabalhava como diretor de diálogos em diferentes séries da Nickelodeon. Novamente, se fala em um padrão de abuso, com a aproximação profissional entre os dois levando também à vida pessoal.

Bell afirma que Peck fez questão de se tornar parte integrante da vida dele, o convidando para viajar, participando de seus shows e até o recebendo em casa para festas de aniversário ou ocasiões sociais — ele também levava e busca o ator no trabalho, já que ele ainda não podia dirigir à época. O abuso começou quando Bell tinha 15 anos de idade.

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O ator também afirma se sentir preso e sufocado pelo homem de 41 anos, que parecia ter controle sobre sua vida e carreira, com qualquer tipo de resistência podendo ser punida com a perda do que ele havia conquistado até ali. Ironicamente, ele afirma que a única pessoal com quem pôde contar nestes momentos foi o produtor Dan Schneider — em um momento dos mais tristes, ele conta como o abusador recebeu apoio de celebridades e executivos do canal, enquanto seguia acompanhado apenas da própria família durante os depoimentos.

Peck foi preso em agosto de 2003 sob acusações de abuso infantil durante um período de seis meses. No ano seguinte, ele foi condenado a um ano e quatro meses de prisão, passando a ser parte permanente de um registro de criminosos sexuais. Bell foi um dos depoentes do caso, mas à época, teve sua identidade preservada.

O outro lado

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Em comunicado sobre os casos envolvendo Bell, a Nickelodeon afirma que seus representantes estão tristes e abismados com o trauma que ele teve de suportar enquanto trabalhava nas produções do canal. A emissora disse ainda apoiar que histórias assim venham à tona e admira a coragem dos que falaram ao documentário.

Dan Schneider também publicou uma resposta em vídeo sobre as alegações feitas em Quiet on Set. Ele não nega nem assume as acusações, mas afirma dever boas desculpas para algumas pessoas envolvidas nas produções, que podem ter se sentido desconfortáveis ou atacadas por piadas feitas por ele nos sets de filmagem.

Ele citou o próprio comportamento como vergonhoso e disse que se arrepende disso, enquanto citou o incidente entre Peck e Bell como o momento mais sombrio de sua carreira. Por outro lado, também afirmou ser um produtor exigente e que não mede as palavras, algo que pode ter sido encarado pelos atores e membros das equipes como algo intimidador.

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Sobre as cenas sugestivas que envolviam atrizes mirins e reuniões presenciais suspeitas, Schneider disse que pais, tutores, psicólogos e especialistas sempre estiveram presentes nas gravações para garantir a segurança dos envolvidos. Enquanto isso, todos os roteiros e respectivos figurinos eram aprovados pela diretoria da Nickelodeon que, acredita ele, teria barrado qualquer sinal de comportamento inapropriado.

Quiet on Set: The Dark Side of Kids TV tem quatro episódios, mas segue sem data de estreia no Brasil.

Fonte: Com informações da Rolling Stone.