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Crítica The Witcher | Terceira temporada começa de maneira decepcionante

Por| Editado por Jones Oliveira | 30 de Junho de 2023 às 21h04

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A terceira temporada de The Witcher chega à Netflix rodeada de muita expectativa. Não só pela despedida de Henry Cavill do papel principal, mas pela própria história em si. Enquanto os efeitos da saída do ator só vão ser sentidos na segunda parte da temporada, o encontro de Geralt (Cavill), Ciri (Freya Allan) e Yennefer (Anya Chalotra) é sentido desde já — mas não como se esperava.

Os novos episódios deixam de lado a coisa mais aventuresca e heróica das temporadas passadas para se aprofundar nas conspirações políticas do Continente, centrando principalmente nas maquinações de Nilfgaard, Redânia, dos magos de Aretusa e dos elfos que vivem refugiados nas florestas. E o trio se vê encurralado em meio a tantos planos mirabolantes, até porque está sendo procurado por todos eles.

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É inegável que essa nova abordagem dá mais profundidade ao universo, explorando um lado mais sério para além do monstro da vez ou da coisa mais fantástica dos poderes de Ciri. O problema é que a série parece não ter se adaptado tão bem assim a esse tom um pouco mais sóbrio.

A terceira temporada de The Witcher parece querer avançar nesse universo de intrigas palacianas que nos remete imediatamente a Game of Thrones, mas a série da Netflix precisa ainda comer muito feijão com arroz para conseguir igualar sua narrativa à produção da HBO. Pode parecer uma comparação injusta, mas é nítido o quanto o seriado tropeça em um roteiro confuso e com diálogos medianos que não chega aonde deseja e nem aonde deveria.

Ao mesmo tempo, temos também a melhor fase de Geralt até aqui. Embora o personagem acabe sendo deixado em segundo plano em muitos momentos, Cavill consegue tirar proveito dos momentos em que se lembram que ele é o protagonista e entrega mais do que o brutamontes resmungão que tínhamos até aqui.

Tempo de Desprezo

A terceira temporada de The Witcher é muito fundamentada nos eventos narrados no livro Tempo de Desprezo, o quarto volume da saga escrito pelo polonês Andrzej Sapkowski, que é bastante baseado nessa abordagem mais política do Continente, se aprofundando em intrigas e revoltas às quais Geralt não está tão habituado a lidar.

E isso está presente na série, principalmente nos dois últimos episódios dos cinco que formam esta primeira parte lançada pela Netflix. O problema, contudo, está no roteiro que não consegue criar o clima de conspiração e risco constante que esse tipo de história exige, de modo que o público não sente essa ameaça se aproximando dos heróis em momento algum.

Parte disso está na construção dos reinos rivais, que consistem simples e unicamente na figura dos seus reis. Em Nilfgaard, Emhyr (Bart Edwards) se resume ao rei vilanesco que tem um grande plano e falas pomposas, mas que nunca apresenta perigo real. Na Redânia, Vizimir (Ed Birch) é um monarca bobo que é manipulado por seus conselheiros. Em comum, ambos querem Ciri ao seu lado.

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Na teoria, a premissa é boa, mas tudo o que a gente vê são maquinações vazias que não chegam aonde deveriam — nos protagonistas. Geralt, Ciri e Yennefer estão em constante fuga de tudo e de todos, mas a verdadeira ameaça fica na figura dodeformado mago de fogo que ninguém sabe quem enviou.

Assim, parte da temporada é destinada a tentar descobrir quem está por trás do feiticeiro. E uma parte pequena, para ser honesto, já que isso logo é deixado de lado para que a trama se volte para as crises infantis de Ciri em seu relacionamento conturbado com Yennefer.

A impressão que fica é que The Witcher não sabe ao certo que tipo de história quer contar. A dinâmica entre seus protagonistas está bem melhor azeitada do que antes — as cenas de família do primeiro episódio são bem boas — e rende bons momentos, mas o roteiro parece não conseguir encaixar isso em meio à salada de acontecimentos que precisa contar. O resultado é algo sem foco que atira para todos os lados e não acerta em nada.

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Tanto que é muito fácil você se perder em meio a tudo isso. O que era importante no início deixa de ser de repente, da mesma forma que um detalhe bobo passa a ser o foco de mais um par de episódios. E mesmo que haja uma conexão entre todos esses acontecimentos, essa coesão não é tão natural quanto deveria ser e as coisas parecem um tanto quanto soltas. A Perseguição Selvagem, por exemplo, surge tão repentinamente quanto desaparece e fica por isso mesmo.

Um roteiro monstruoso

Já que a ideia da nova temporada de The Witcher é priorizar a interação entre os personagens e a dinâmica de seu universo ao invés da ação, esperava-se que o roteiro fosse um pouco melhor desenvolvido. Só que a escrita da série ainda sofre de uma inconstância bastante problemática.

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De um lado, temos Geralt evoluindo muito mais do que tínhamos visto até então. Desta vez, o herói parece muito mais um personagem completo, ganhando novas camadas e tendo uma evolução significativa em sua personalidade. Ele abraça de vez a figura de pai de Ciri ao mesmo tempo em que passa a se abrir mais com Yennefer. E Cavill faz um ótimo trabalho em entregar esse lado mais humano do bruxo, indo além dos simples resmungos.

Falando na maga, é nítido o quanto Anya Chalotra evoluiu nos últimos anos. A atriz era um desastre no primeiro ano da série e agora consegue segurar cenas inteiras e apresentar uma Yen que, embora mais vulnerável do que os livros e os jogos apresentam, já soa mais convincente como essa figura tão poderosa que todos apontam.

Por outro lado, Ciri parece ter esquecido que The Witcher teve uma segunda temporada e todo o crescimento que teve em Kaer Morhen desapareceu. A maior parte da temporada se resume a ela agindo de forma bastante infantil, reclamando e querendo fugir de tudo e de todos — assim como a princesinha em fuga da primeira temporada. Mesmo com os momentos de ação aqui e ali, é decepcionante.

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Só que esse roteiro pouco inspirado se faz ainda mais claro nas conspirações palacianas. Esse jogo de poder só funciona quando a escrita evidencia que a língua e a sagacidade são as verdadeiras armas em campo e não há nenhum momento em que você vê isso acontecer.

Pelo contrário, todos os diálogos são bastante pobres e até bastante óbvios, de modo que é difícil se engajar nos ardis de Emhyr, Stregobor (Lars Mikkelsen), Dijkstra (Graham McTavish) e Philippa (Cassie Claire). O novato Radovid (Hugh Skinner) é quem mais se aproxima de ter momentos interessantes, ainda que seu destino seja tão óbvio que se torna previsível já em sua primeira aparição.

Aliás, Radovid protagoniza, ao lado de Jaskier (Joey Batey), uma das piores conversas já feitas no entretenimento. É constrangedor de tão ruim e revoltante pensar que alguém foi pago para escrever aquilo. Talvez fosse menos feio dizer que a culpa é de alguma inteligência artificial.

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Promessa não cumprida

Como dito, essa terceira temporada de The Witcher chegou rodeada de expectativa. Só que a festa de despedida de Henry Cavill da franquia acabou virando um enterro quando a tão esperada história que mexeria nas bases do Continente para além dos monstros de sempre não entrega nem a profundidade esperada e muito menos a diversão das temporadas passadas.

Parte disso é culpa dessa estratégia da Netflix de lançar a temporada dividida em duas partes, o que faz com que certos arcos não sejam concluídos agora para serem mais desenvolvidos à frente. Só que, quando a história que deveria ser trabalhada já nesse começo não funciona, fica difícil acreditar na promessa do que está por vir.

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Apesar de Cavill estar no melhor momento de seu Geralt, nada ao seu redor colabora para aproveitar isso. Mais do que isso, esse foco na trama política mambembe tira aquilo que fazia de The Witcher diferente de todas as demais séries de fantasia. Aquele olhar cínico para contos de fada e para o folclore europeu dá lugar a uma réplica estudantil de Game of Thrones que não empolga e nem instiga. Pelo contrário, só esvazia o que havia de bom na franquia.

É claro que há a chance de a segunda parte reverter isso e salvar a temporada, dando peso a esses acontecimentos vazios que vimos por aqui. Contudo, pelo que foi mostrado nesta primeira parte, é difícil se empolgar a voltar para o Continente.