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Crítica Silêncio | Série espanhola da Netflix não diz a que veio

Por| Editado por Jones Oliveira | 23 de Maio de 2023 às 19h30

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Reprodução/Netflix
Reprodução/Netflix
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Uma das grandes promessas da Netflix no mês de maio, Silêncio chegou ao streaming prometendo fazer barulho, mas não engrenou. Assinada por Aitor Gabilondo, a série espanhola trouxe em seu elenco três talentos já vistos pelo público anteriormente: Arón Piper (o Ander de Elite), Manu Rios (o Patrick, também de Elite) e Ramiro Blas (o Sandoval de Vis a Vis), mas nem assim conseguiu convencer o público.

Com uma trama morna (quase fria), mas pautada em uma boa premissa, a obra falou, falou e não disse nada — assim como o protagonista. Para começar, a trama acompanha a vida de Sergio (Piper) um rapaz que foi acusado de matar os pais. Condenado à prisão, ele cumpre toda a sua sentença sem dar uma só palavra e, após ser libertado, é acompanhado secretamente por uma equipe de investigadores que tenta descobrir qual o seu grau de periculosidade e se ele já pode ser reinserido na sociedade.

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Tal equipe é comandada por Ana Dussel (Almueda Amor), uma mulher que se mostra mais interessada pelo rapaz do que deveria e que abandona vários princípios éticos para defendê-lo de algum modo.

Essa é a sinopse da série, e é apenas nisso que ela se centra. Isto porque a trama não extrapola os limites do resumo e fica rodando em volta de si mesma, contando a mesma coisa repetidamente em cada um dos seis capítulos disponíveis. Não há momentos de tensão ou suspense que prendam a atenção do espectador e não há um diálogo sequer que seja realmente relevante para a trama.

Até mesmo o último episódio, no qual é revelado o plot twist e o motivo de Sergio ter feito o que fez, é chato. A essa altura do campeonato, o espectador já está tão acostumado a não ver nada em cena, que quando descobre o segredo da série já não se importa mais.

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Plot twist fraco marca a narrativa de Silêncio

Por falar em tal segredo, ele também não é chocante o suficiente para convencer, e a narrativa de porquê Sergio se tornou um assassino tampouco atrai. Não dá para sentir nem empatia, nem dó, nem raiva, nem nada em relação a ele.

Já se o espectador olhar para Ana com o mínimo de atenção, logo perceberá que a sua relação com o protagonista também é anormal, portanto, quando ela decide seguir por um caminho parecido, não surpreende a mais ninguém.

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E se os protagonistas não engajam, os coadjuvantes menos ainda. Marta (Cristina Kovani) é uma jovem aficionada por Sergio que lhe escrevia cartas quando ele estava na cadeia. Sem muito contexto, no entanto, sua história fica solta. Por que ela gostava de Sergio? O que ela sente por ele? Medo, tesão, amor? E a relação dela com Eneko, seu namorado, é baseada em que? Como ela consegue oscilar tão facilmente entre os dois?

Outro personagem que fica pelo caminho é Natanael, vivido por Ramiro Blas. Ele é um pastor que ajuda jovens delinquentes, mas que esconde alguns segredos. Com uma postura que mescla líder religioso com uma espécie de cafetão, sua presença dá a esperança que um novo arco seja desenvolvido, mas assim que ele morre, sobra apenas a frustração para o espectador.

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Elenco bom não faz série sozinho

Por falar em Ramiro Blas, Natanael agrada em cena, mas ainda lembra bastante o Sandoval, seu personagem asqueroso e assediador de Vis a Vis. Já Manu Rios, que viveu um jovem sem limites em Elite, agora retorna como um corno manso em Silêncio — aquele típico namorado que sabe que está sendo traído, mas que não se importa e faz de tudo para conquistar o amor de Marta. Sem muito espaço para brilhar, Manu fica apagado, entregando uma atuação fraca, mas dentro do que o texto lhe permite.

Arón, o protagonista, por sua vez, se distancia muito do jovem e meigo Ander de Elite, e isso é um grande acerto, uma vez que Sergio é mais denso e sombrio. O ator se destacou nas cenas de histeria e conseguiu dosar adequadamente os sentimentos do personagem. Nos poucos momentos que esteve em silêncio (contrariando o título da série), fez bom uso das expressões faciais para imprimir as emoções necessárias.

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Já Almueda, que tem experiência na comédia dramática O Bom Patrão e no terror A Avó (de 2021), também não fez feio como a detetive Ana, embora parecesse mais apática do que deveria.

Fotografia transforma Espanha em Londres

Um ponto que merece ser comentado é o fato da fotografia da série ser escura e cinza demais para a Espanha. É claro que o país também tem seus dias de chuva, mas a sensação que fica é que tentaram transformar o local em um ambiente chuvoso para dar mais dramaticidade à história. Não é um grande erro, não compromete o roteiro, mas pode incomodar em alguns momentos.

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Silêncio fala muito e não diz nada

Sem mais delongas, a verdade é que Silêncio tem uma ótima premissa e parte de um ponto interessante, mas, com um roteiro fraco e uma direção que também deixa a desejar, se consolida como uma péssima opção no catálogo da gigante do streaming, indo na contramão de outras produções espanholas bem-sucedidas, como as já citadas aqui e também La Casa de Papel.

Caso você queira assisti-la para tirar suas próprias conclusões, já encontra Silêncio completa na Netflix.