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Crítica Os Anéis de Poder | Um universo incrível, mas sem um roteiro à altura

Por| Editado por Jones Oliveira | 17 de Outubro de 2022 às 20h30

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Depois de estrear rodeada por uma certa desconfiança e até uma má-vontade por parte dos fãs, O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder termina sua primeira temporada com mais acertos do que erros. A megaprodução do Prime Video segura muito bem a responsabilidade de adaptar uma obra tão importante quanto essa e, mesmo com diversos tropeços, o retorno à Terra-Média conquista um belo saldo positivo.

O grande acerto da série foi justamente não ter medo das comparações com os filmes. Pelo contrário, o seriado abraça o imaginário construído pelas duas trilogias de Peter Jackson para pegar até o mais cético do espectador pelo saudosismo. Ao mesmo tempo, o prequel focado em Galadriel (Morfydd Clark) e na criação dos anéis sofre com roteiros fracos e inconstantes que tiram muito o brilho do que poderia ser a fantasia do ano.

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Um retorno e tanto

Não dá para falar em Os Anéis de Poder sem apontar o quanto essa é uma série bonita. Já nos primeiros episódios, fica claro que a Amazon não economizou esforços e muito menos dinheiro para construir uma Terra-Média que seja de encher os olhos. Tudo é muito lindo e impactante de modo que, com apenas alguns minutos, você já se sente inteiramente rendido àquele universo.

Parte disso, como dito, está nessa semelhança proposital ao que a gente já conhece de O Senhor dos Anéis no cinema. E isso não é demérito algum, pois a série se apropria desse imaginário já existente apenas para evitar comparações e, a partir disso, passa a explorar aquilo que é só seu.

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Assim, enquanto a gente reconhece o modo de vida dos elfos e dos anãos e até mesmo parte da geografia da Terra-Média como um eco do trabalho de Peter Jackson, toda a construção de Númenor, a apresentação de Valinor e até o reino de Khazad-dûm são méritos da própria série — e todas elas são um verdadeiro desbunde visual.

É nítido o cuidado de produção ao longo de toda a temporada, assim como o respeito com a obra de Tolkien. Embora muitos fãs tenham torcido o nariz para algumas das adaptações feitas à história e à cronologia dos fatos ligados ao passado da Terra-Média, nada disso passa pela parte de criação de universo. Para qualquer leitor de O Senhor dos Anéis, essa Terra-Média é tudo aquilo que a gente sempre quis ver, principalmente no que diz respeito à Segunda Era.

É claro que nada é perfeito e, nesse caso, os problemas são muito mais de exagero do que por um trabalho mal feito. É tão nítido o quanto a produção se orgulhou tanto de criar visuais tão lindos que, em alguns momentos, eles exageram a mão na hora de mostrar isso e pesam a mão no caráter contemplativo do cenário ou mesmo dos personagens. Basta ver quantas vezes Os Anéis do Poder para tudo o que está fazendo para dar um close em Galadriel ou mostrar a elfa olhando o pôr do sol em câmera lenta.

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Um andamento inconstante

Só que toda essa beleza que Os Anéis de Poder traz em sua parte visual não encontra eco em seu roteiro, que é o grande calcanhar de Aquiles da série. Ainda que a história de vingança de Galadriel, sua busca por Sauron e a própria formação de Mordor e dos anéis sejam pontos muito interessantes e que instigam o espectador ao longo de cada episódio, o seriado consegue passar a sensação de que não há nada acontecendo.

Isso revela o quanto o roteiro como um todo é inconstante. Olhando de maneira geral para a temporada, realmente há muita coisa acontecendo e mistérios sendo explorados e desenvolvidos. No entanto, o modo como isso é apresentado e desenvolvido ora é muito apressado, ora totalmente escanteado para dar lugar a cenas bucólicas ou contemplativas.

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Parece exagero, mas a sensação que fica é que a Amazon ficou tão orgulhosa de seu trabalho construindo essa versão da Terra-Média que, a todo momento, ela para a história para apresentar uma cena que não acrescenta nada ao enredo só porque ela é bonita. O cavalgar de Galadriel em câmera lenta à beira da praia é um bom exemplo disso.

Mais do que isso, a forma com que as tramas dos diferentes núcleos são apresentadas e desenvolvidas apenas reforça essa confusão que é o roteiro de Os Anéis de Poder. Há arcos inteiros que são desenvolvidos a troco de nada e que não levam a narrativa a lugar algum — como Eärien (Ema Horvath), em Númenor, e o próprio Theo (Tyroe Mujahidin) — enquanto outros aparecem e somem sem grandes explicações.

O foco em Galadriel é óbvio, já que ela é a grande protagonista da história — mesmo que a atuação de Morfydd Clark deixe bem a desejar com a sua falta de expressão facial —, mas isso não explica porque personagens como Elrond (Robert Aramayo) e os próprios pés-peludos são esquecidos por alguns episódios quando parte importante do roteiro passa por eles.

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E por mais que seja possível dizer que, por ser uma série, algumas dessas tramas vão ser melhor exploradas no futuro, a sensação de que há algo faltando é clara. Não se trata de um final aberto para certos personagens. Na verdade, eles só desaparecem sem qualquer explicação — e isso só revela o quanto o desenvolvimento de certos elementos é apressado ou mal construído. Como se importar com Arondir (Ismael Cruz Cordova) e Browyn (Nazanin Boniadi) assim?

A temporada conta com grandes momentos, como a formação de Mordor e o próprio papel dos orques na Terra-Média depois da queda de Morgoth e Sauron. Contudo, essa inconstância do texto prejudica demais a série, seja criando grandes vácuos em que você sente que não tem nada de interessante acontecendo ou apenas com diálogos muito ruins.

E não só pelo caráter supremacista que algumas falas adotam, mas por serem pobres mesmo. Há falas e interpretações tão duras e caricatas que, combinadas com esse entusiasmo às belas paisagens, fazem o seriado parecer uma novela bíblica em muitos momentos.

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É algo tão nítido que, em muitos momentos, parecem ter duas séries andando em paralelo. Todo o núcleo dos elfos e Númenor representa bem essa coisa high fantasy quase catequista com discursos inspirados e luzes divinas em personagens abençoados — o que é bastante cansativo, diga-se de passagem. Ao mesmo tempo, temos interações incríveis entre Durin (Owain Arthur) e o próprio Elrond. É tudo tão diferente que parecem não fazer parte da mesma obra.

Vale a pena assistir à Os Anéis de Poder?

Apesar de tudo isso, Os Anéis de Poder ainda é uma boa série. Os deslizes no roteiro incomodam e prejudicam a nossa relação com boa parte dos personagens, mas estamos falando de um seriado que é muito mais fundamentado por sua trama do que pelo desenvolvimento de seus heróis — e é nesse detalhe que a produção se salva.

A menos nessa primeira temporada, a gente ainda está muito mais ligado ao que é a Terra-Média e como ela caminha para um ponto que a gente já conhece da trama: o ressurgimento de Sauron e a criação do Um Anel. É para isso que todas as atenções estão voltadas e, querendo ou não, a expectativa de ver esses grandes acontecimentos ameniza parte desses problemas.

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Afinal, é fácil esquecer do quanto Theo é irrelevante e até como a interpretação de Galadriel é pobre quando a Montanha da Perdição explode tudo e dá lugar à sombria Mordor que a gente conhece tão bem. Essa é uma balança que pende muito mais para a trama geral do que para seus personagens e esses grandes eventos maquiam bem as várias falhas que Os Anéis de Poder oferece.

É por isso que, mesmo com esses problemas, o saldo segue positivo. São detalhes importantes que devem ser trabalhados e melhorados em uma segunda temporada, mas que podem ser relevados neste momento graças ao ótimo trabalho de construir a Terra-Média de que a gente tanto sentia falta. Por todo o carinho e respeito na hora de recriar esse mundo, merece ao menos o benefício da dúvida.

O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder está disponível no Prime Video.