O que é stalkear?
Por Felipe Demartini • Editado por Claudio Yuge |
Se você usa redes sociais, com certeza já ouviu falar em stalkear. A palavra vem do inglês “stalk” e significa perseguir, tendo assumido um contexto um pouco diferente com o uso de plataformas como Instagram, Facebook, TikTok e outras. O ato se resume basicamente a acompanhar a vida de outra pessoa, algo que é fortalecido principalmente pelos recursos de compartilhamento em tempo real, como Stories ou publicações no Twitter.
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O ato de stalkear, em si, pode ser saudável, movida pela curiosidade de saber como estão sendo as férias de um amigo, como está sendo a passagem de um ídolo musical pelo Brasil, onde um antigo colega de empresa está trabalhando ou encontrar aquela pessoa interessante nas redes sociais. Em outros momentos, nem tanto, quando falamos de buscar informações sobre a vida de um ex-cônjuge ou quando a pessoa stalkeada é um desafeto, por exemplo.
A prática também ganhou muita notoriedade com o sucesso da série You, da Netflix. Na trama, o protagonista Joe Goldberg (Penn Badgley) se torna obcecado por seus interesses românticos e acaba entrando em uma espiral de delírio para se aproximar e impedir que qualquer outro faça o mesmo. O que o personagem faz é stalking, em um exemplo bem tóxico que dialoga com a saúde mental do personagem, mas principalmente, causando danos às suas vítimas.
Quando o stalking é crime?
Em situações extremas, a prática é considerada crime, previsto inclusive no Código Penal Brasileiro. O ato de perseguir alguém é definido na lei quando tem como objetivo ameaçar a integridade física ou psicológica ou perturbar a liberdade ou privacidade de alguém por meio das informações obtidas pelas redes sociais. A pena prevista vai de seis meses a dois anos de reclusão, além de multa, com o período de prisão sendo aumentado quando o stalking é cometido contra criança, adolescente, idoso ou pessoa do gênero feminino.
“Na prática, é uma obsessão por uma pessoa, que pode ser sexual ou não, mas envolve o monitoramento de alguém, principalmente pelas redes sociais. O ato pode parecer simples, mas com o acesso fácil a informações e certa proteção pelo anonimato da internet, há um aumento cada vez maior nos crimes”, explica Carla Rahal Benedetti, sócia de Viseu Advogados e advogada especialista em crimes eletrônicos.
Podem ser encaixados nesse tipo de contravenção penal, por exemplo, o uso de aplicativos espiões instalados de forma não-autorizada nos celulares das vítimas ou o acompanhamento de rotinas e locais frequentados com o objetivo de perseguir um indivíduo presencialmente. A divulgação não autorizada de dados pessoais, assim como o incentivo de oprimir alguém ou atacar verbalmente ou fisicamente também são considerados crimes ligados ao stalking.
Somente no primeiro semestre de 2022, as autoridades registraram 27,7 mil casos de stalking, principalmente contra mulheres, segundo os números do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Enquanto isso, uma pesquisa da empresa de segurança Avast indicou um crescimento de 358% no uso de apps espiões pelos brasileiros desde 2020. “Todo cuidado é pouco, já que são vários os prejuízos sofridos pelas vítimas, incluindo questões de natureza psicológica que podem causar danos irreversíveis”, completa a especialista.
O que fazer ao ser vítima de stalking?
De acordo com Benedetti, é essencial que as vítimas de crimes de perseguição denunciem o caso à polícia. O boletim de ocorrência pode ser aberto na delegacia ou também em unidades especializadas em crimes digitais, mas também pela internet, de forma eletrônica. O ideal é fornecer a maior quantidade possível de informações sobre o que está acontecendo, a identidade de quem pratica o crime e que tipo de ameaças estão sendo feitas.
O cuidado com o que é publicado nas redes sociais também ajuda a evitar crimes de stalking, seja como prevenção ou para casos em andamento. Evitar publicar detalhes sobre locais de residência e trabalho, assim como informações pessoais ou elementos que possam indicar a própria rotina, ajudam a manter a segurança e a privacidade.
Para se proteger, os usuários podem publicar sobre os eventos frequentados depois que não estiverem mais lá, como forma de evitar presenças indesejadas ou perigosas. Também dá para usar os modos restritos de redes sociais, como os Amigos Próximos do Instagram ou a Roda no Twitter, bem como perfis privados, para manter um controle sobre quem acessa as informações ou visualiza os conteúdos postados.