Como saber se meu celular foi clonado | Guia Prático
Por André Lourenti Magalhães • Editado por Douglas Ciriaco |
Existem alguns métodos para descobrir se o seu celular foi clonado e proteger suas informações pessoais depois disso. Esse tipo de cibercrime é comum e possibilita que bandidos tenham acesso a SMS e outros dados sensíveis das vítimas, o que pode facilitar uma série de golpes.
Primeiramente, é necessário entender o que significa a clonagem e como ela afeta o celular de cada vítima. Não é um processo em que o criminoso pode reproduzir a tela inteira do aparelho de alguém, mas permite que uma pessoa tenha controle sobre histórico de mensagens e acesso a aplicativos, algo capaz de gerar um bom estrago.
Como é feita a clonagem do celular
O crime pode ser praticado de três formas diferentes: com a clonagem do cartão SIM, uso de aplicativos espiões e clonagem do número IMEI do celular.
Clonagem do cartão SIM
O primeiro caso envolve a técnica de “SIM Swapping” (“Troca de SIM”, em tradução livre) e é uma das formas mais comuns de se cometer o crime.
A troca de linha telefônica entre chips é um processo legítimo, usado por operadoras quando você perde o celular ou tem o aparelho roubado. No entanto, existem as situações em que criminosos se passam pela vítima, entram em contrato com a empresa de telefonia móvel e pedem para transferir a linha de telefone para outro chip, quando ganham acesso a informações como o histórico de ligações, mensagens e SMS.
Nesse caso, o invasor pode acessar as mensagens para interceptar os códigos de verificação em duas etapas (2FA), enviados por SMS, e ganhar o acesso a aplicativos de redes sociais, bancos e outras ferramentas que possam conter informações sensíveis.
Gerente de Controle de Obrigações Gerais da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Sami Benakouche explica como o crime acontece:
"A fraude pode ocorrer na mesma prestadora da vítima com a apresentação de documentos falsos em nome da vítima ou cooptação de colaboradores nas prestadoras.", explica o especialista. "O sequestro da linha também pode ocorrer mediante a exploração do procedimento de Portabilidade, quando o criminoso se apresenta em outra prestadora em nome da vítima. O objetivo é, geralmente, realizar fraudes financeiras ou acessar suas informações pessoais", completa.
Aplicativos espiões
Os spywares precisam ser instalados no aparelho da vítima, então é comum que sejam baixados diretamente por alguém com o celular em mãos ou a partir de outros aplicativos maliciosos. Essas ferramentas conseguem ter acesso a diversas permissões do aparelho, como o histórico de chamadas e a possibilidade de ler todas as informações da tela, e coletam dados sensíveis.
Clonagem do IMEI
Há ainda o processo para clonar o IMEI, número de identificação de cada celular. Quando um aparelho é roubado, é possível bloqueá-lo junto à operadora a partir do IMEI — depois disso, não é possível acessar qualquer rede móvel nele. A prática permite que criminosos consigam usar o mesmo registro em dois dispositivos diferentes, o que permite o uso de celulares roubados que tiveram o IMEI bloqueado.
Como descobrir que o celular foi clonado
Alguns sinais durante o uso no dia a dia podem indicar que o aparelho sofreu algum tipo de clonagem ou invasão — preste atenção nestes detalhes:
Tente fazer chamadas e enviar mensagens
De acordo com a Anatel, um dos primeiros sinais de clonagem do chip está na falha para realizar chamadas, navegar na internet ou trocar mensagens pela rede de dados móveis. Experimente desligar o Wi-Fi e testar algumas dessas funções para conferir se o chip ainda está ativo no seu aparelho.
Verifique os apps instalados
Passe por todos os aplicativos instalados no celular e veja se está tudo em ordem, ou seja, se não há nada que você não lembre de ter baixado ou com algum ícone diferente. Invasores podem baixar apps sem a sua permissão, então isso pode ser um sinal dos ciberataques.
Confira as permissões de cada app
Vale a pena dedicar um tempo para abrir a tela de configurações e ver quais apps têm acesso a permissões do aparelho, como envio de mensagens e localização em tempo real. Caso note alguma movimentação estranha, como um software que exige muitas permissões, é importante entender a situação e conferir se não há uma tentativa de invasão.
Procure por códigos de verificação por SMS
Abra a lista de mensagens de texto e veja se há algum código de verificação (aqueles com quatro ou seis dígitos) no qual você não lembra de ter pedido. Caso encontre algum exemplo, é muito provável que seu chip tenha sido clonado.
Fique de olho em possíveis quedas de sinal
A clonagem de chip também pode afetar a qualidade da rede de dados telefônicos, com chiados durante ligações e possíveis quedas de sinal. Você pode entrar em contato com a operadora para obter mais informações sobre as inconsistências — no entanto, se não tiver nenhum problema com a linha, é provável que você tenha sido vítima de um ataque.
Abra o rastreador de GPS do dispositivo
Aparelhos interceptados podem exibir uma localização diferente da sua posição atual. Abra um aplicativo de GPS, como o Maps ou o Encontre Meu Dispositivo, e compare o local no mapa. Caso exista alguma diferença, o celular pode estar clonado.
Confira se você não recebeu nenhuma mensagem de portabilidade da operadora
A Anatel obriga que todas as operadoras confirmem os pedidos de portabilidade com autenticação em dois fatores: as empresas enviam um SMS para o proprietário da linha telefônica, que precisa aprovar o processo ao responder sim ou não. Se você não tentou pedir a portabilidade e recebeu a mensagem, é necessário enviar uma resposta negativa para cancelar a solicitação.
Verifique o consumo da conta de dados móveis
A atividade dos criminosos também pode ser notada na conta de telefonia móvel: em alguns casos, a fatura pode apresentar um consumo muito grande dos dados, que pode ter sido feito pelo aparelho clonado.
Como descobrir se o IMEI foi clonado
A Anatel possui uma ferramenta própria para consultar a situação do IMEI e descobrir se ele foi clonado. Para isso, você precisa ter acesso ao número de identificação — então saiba como encontrar o IMEI do seu celular.
Com o código em mãos, siga estes passos:
- Abra o navegador e acesse gov.br/anatel/pt-br/assuntos/celular-legal/consulte-sua-situacao;
- Clique em "Consulte aqui a situação";
- Digite o número do IMEI do aparelho;
- Faça a verificação do Captcha;
- Pressione “Consultar”;
- Veja o resultado.
O celular foi clonado, e agora?
Após identificar uma provável clonagem no cartão SIM, é necessário entrar em contato com a operadora o quanto antes para informar o ocorrido. Caso o sequestro da linha seja confirmado, você precisa registrar um Boletim de Ocorrência — isso pode ser feito presencialmente em alguma delegacia da Polícia Civil ou de forma online com o BO Digital.
Também é importante mudar todas as senhas dos serviços conectados ao número do celular, como bancos e redes sociais. A mudança de senha combinada à verificação em dois fatores feita por apps de autenticação ajuda a dificultar o acesso às suas contas.
Os criminosos tentam se passar pelas vítimas nesses golpes, então também é importante avisar pessoas próximas, como familiares e colegas de trabalho, e instituições financeiras sobre o ocorrido. A medida ajuda a impedir que os golpistas tentem pedir dinheiro para parentes por WhatsApp ou entrem em contato com o atendimento de um banco, por exemplo.
A linha do aparelho pode ser recuperada nesses casos, mas a identificação dos criminosos ainda é difícil: “a própria natureza da fraude, que busca a captura de uma linha móvel por meio do fornecimento de dados do usuário titular da linha dificultam a identificação do criminoso. No entanto, as Operadoras de Telecomunicações, Anatel, Justiça e Forças Policiais vêm trabalhando para identificação e responsabilização dos criminosos.”, explica Sami Benakouche, da Anatel.
No caso de outras formas de invasão do aparelho, como o uso de spywares, é importante escanear os arquivos internos com um antivírus para remover a ameaça.
Como evitar que o aparelho seja clonado?
Algumas medidas de segurança podem diminuir os riscos de ter o celular clonado e evitar golpes com seu número:
- Use um antivírus no celular para detectar ameaças;
- Baixe aplicativos somente de fontes oficiais, como a Play Store ou a App Store;
- Apague aplicativos suspeitos do aparelho;
- Não clique em links enviados por estranhos ou vindo de lugares que você não conhece;
- Se for carregar seu aparelho em um computador estranho, deixe ele no modo só de carregamento, sem compartilhamento de dados;
- Não ative a opção "lembrar senha" em suas contas;
- Desabilite a conexão automático em Wi-Fi do celular;
- Não use redes públicas de Wi-Fi.
Existem alguns golpes que focam em criar um perfil falso no WhatsApp com alguma foto sua — nesses casos, também é possível identificar se a conta no mensageiro foi clonada.