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Anonymous | Conheça a origem do grupo hacktivista que declarou guerra à Rússia

Por| Editado por Claudio Yuge | 11 de Março de 2022 às 12h00

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Daniel Lincoln/Unsplash
Daniel Lincoln/Unsplash

O grupo hacktivista Anonymous voltou aos holofotes da imprensa internacional nas últimas semanas após uma declaração aberta de guerra contra o governo da Rússia. O coletivo demonstrou seu apoio à Ucrânia e, desde o início dos conflitos, vem atacando sites e serviços do governo de Vladimir Putin, tanto como forma de revelar a verdade sobre a invasão aos cidadãos do país como para prejudicar os esforços bélicos.

Alguns números mostram a dimensão desta que foi chamada pelo Anonymous como a maior operação de sua história. Desde o início dos conflitos, o grupo afirma já ter derrubado mais de 300 sites ligados ao governo da Rússia e também da aliada Bielorrússia, além de ter realizado diferentes exposições de dados de setores oficiais. Nos golpes mais ousados, canais e serviços de streaming estatais também teriam sido invadidos para exibição de imagens dos ataques na Ucrânia, enquanto o coletivo também alega ter desligado os servidores da Roscosmos, agência espacial russa, e privado o país de acesso a seus satélites de espionagem e monitoramento.

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Entretanto, essa não é nem de longe a primeira ação coordenada do grupo. Corporações como PayPal, Sony e Mastercard já foram alvos, assim como o governo dos Estados Unidos, Israel e organizações como o Estado Islâmico e a igreja da Cientologia. Por outro lado, nomes como WikiLeaks já receberam apoio do coletivo, da mesma forma que causas públicas como os protestos do Black Lives Matter, após o assassinato de George Floyd, e iniciativas pela liberdade de expressão na internet.

A máscara sem rosto do Anonymous

Normalmente, as operações dos hacktivistas são mencionadas na imprensa como os atos de um grupo, mas falar assim, na realidade, passa uma impressão errada. Não estamos falando de algo como as quadrilhas de ransomware ou de clonagem de cartões de crédito, no sentido em que o Anonymous não tem uma estrutura centralizada, membros fixos ou líderes. A ideia, que inclusive faz parte da identidade mascarada do coletivo, é de que todos os interessados em apoiarem as causas podem se unir, realizando ataques e operações que contribuam para o movimento geral.

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A máscara que serve de símbolo para o coletivo é, inclusive, uma representação justamente disso. Quem assistiu ou leu V de Vingança viu como a história de Guy Fawkes, um rebelde responsável pelos explosivos que seriam usados em um ataque à Câmara dos Lordes, a mais alta cúpula do parlamento do Reino Unido, foi transformada em ícone de coletivismo e luta pela liberdade. Da mesma forma que no entretenimento, a ideia é de um bando sem rosto ou líder definido, mas que age em conjunto e de forma massiva em prol de causas apoiadas por todos.

A ideia é justamente essa, aliás, desde a gênese no controverso fórum anônimo 4Chan. A rede social que permite postagens não identificadas por qualquer pessoa foi responsável pela gênese do coletivo e, também, de suas primeiras ações coordenadas, com ataques contra corporações e agências do governo sendo realizadas por pessoas não conhecidas entre si, que tratavam umas às outras apenas como “anons”. Estava lançada a fagulha de um grupo que, entre idas e vindas, polêmicas e sucessos, faz parte do imaginário digital.

O principal meio de atuação do Anonymous são os ataques de negação de serviço, que tiram do ar sites e serviços online. Muitas vezes, falhas em protocolos de segurança também permite que tais domínios sejam desfigurados com mensagens de ordem ou demonstração de apoio às causas. Os primeiros alvos, como o game Habbo Hotel, eram escolhidos na base da zoeira, enquanto, em 2008, veio a primeira atividade hacktivista contra a igreja da Cientologia.

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Não há consenso sobre a postura dos Anonymous. A menção ao coletivo pode soar como ameaça para alguns ou como uma postura de defesa da liberdade por outros. Políticos já chamaram o coletivo de “gangue de linchamento digital”, enquanto a revista americana Time os colocou entre as 100 pessoas mais influentes de 2012, ano em que o grupo participou ativamente do movimento Occupy Wall Street.

Anonymous no Brasil

Quando falamos do coletivo hacktivista, também falamos sobre operações, com idas e vindas que fazem com que seus membros ganhem maior ou menor destaque na mídia. Em sua história de 20 anos, houve momentos de maior atividade, como o que estamos vendo agora durante a invasão da Rússia na Ucrânia, e tempos de calmaria, sem grandes ofensivas ou manifestações. Isso, também, vale para as atividades do grupo em nosso país.

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A primeira grande atividade dos Anonymous no Brasil aconteceu em 2013, durante os protestos contra o aumento nas passagens de ônibus em capitais que se transformou em uma onda de revolta contra o governo da então presidente Dilma Rousseff (PT). Após a repressão da polícia a uma manifestação em Goiânia (GO), o grupo realizou ataques e desfigurações contra sites de governos estaduais e municipais, demonstrando apoio à causa.

Páginas e redes sociais de partidos políticos e veículos de imprensa também foram atacados, assim como a conta da presidenta no Instagram, enquanto publicavam imagens dos protestos e divulgavam novas datas de manifestação. As operações também resultaram, no ano seguinte, em uma série de atos contra a realização da Copa do Mundo no Brasil, também pelo Anonymous, envolvendo a desfiguração de páginas oficiais das sedes e domínios pertencentes à FIFA, assim como o vazamento de informações do Itamaraty, ABIN e outros órgãos do governo federal.

As exposições de dados, aliás, também costumam estar entre os modos de operações do Anonymous, com o presidente Jair Bolsonaro e seus filhos também já tendo suas informações pessoais comprometidas e publicadas na internet mais de uma vez. Ministros como Abraham Weintraub, ex-Educação, e Damares Alves, da Mulher, Família e Direitos Humanos, também já foram alvos, em operações focada nas denúncias de corrupção contra o governo e suas relações com o ex-líder americano, Donald Trump.

Na mira das autoridades

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É claro que, com tanta atividade, os Anonymous também cairiam no foco das polícias dos países em que atuam. E, enquanto o grupo em si age sem nome nem organização definida, são diversos os relatos de integrantes ou participantes de operações sendo presos em diferentes países, seja durante manifestações públicas ou pelo envolvimento em ações de desfiguração de sites e vazamento de informações sigilosas.

Em 2009, veio a primeira prisão ligada ao Anonymous, com o americano Dmitry Guzner, de 19 anos, recebendo uma pena de um ano de prisão por golpes DDoS. Em 2011, vieram duas das maiores ações das autoridades contra os ativistas; 32 pessoas foram presas na Turquia, acusadas de atacarem domínios do governo, enquanto no Reino Unido e nos EUA, foram pelo menos 25 prisões de membros do bando que realizavam atividades presenciais e online em apoio ao delator Julian Assange, do Wikileaks.

Um dos casos mais notórios, talvez, seja o do LulzSec, uma espécie de dissidência do Anonymous que, em 2011, atacou os servidores da Sony Pictures e de jogos como Minecraft, League of Legends e EVE Online. Foram algumas dezenas de operações entre os meses de maio e julho daquele ano, que resultaram em indiciamentos, prisões e sentenças a quatro membros citados como os principais do bando.

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Entre operações maiores e sumiços da mídia, o Anonymous segue adiante. Por enquanto, os ataques a sites, serviços e plataformas do governo russo renderam, no máximo, um xingamento pelo diretor do programa espacial do país. Com o acirramento do conflito entre os dois países, sempre existe a chance de o escrutínio também aumentar, mas pelo menos por enquanto, o grupo segue como um dos mais ativos na guerra digital, lutando do lado da Ucrânia.