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Vírus da gripe aviária está mudando; devemos nos preocupar?

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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iLexx/envato
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Casos do vírus influenza subtipo A (H5N1) estão se tornando mais comuns em todo o globo, causando uma espécie de pandemia no mundo animal e selvagem. Entretanto, a gripe aviária não tem, até agora, se saído tão bem em infectar humanos. Diferentes grupos de pesquisa buscam entender esse motivo e explicam como o patógeno está mutando.

Neste ano, a maioria dos casos de gripe aviária em humanos ocorreram nos Estados Unidos. Por lá, foram quatro casos confirmados. Apesar do nome da infecção remeter às aves (que foram as primeiras infectadas), todos esses pacientes foram contaminados pelo contato com vacas doentes. Inclusive, o leite cru transmite o H5N1

Para entender os atuais riscos de infecção da gripe aviária, diante das cepas presentes no leite desses rebanhos infectados, pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison realizaram diferentes testes com pequenos mamíferos e células do trato respiratório humano em laboratório.

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Publicado na revista Nature, a boa notícia do estudo norte-americano é que, hoje, o vírus da gripe aviária não adquiriu as mutações necessárias para ser transmitido como uma gripe comum, em larga escala. Em outras palavras, não é bom em se proliferar por gotículas no ar quando alguém tosse, espirra ou fala. Entretanto, algumas dessas adaptações já começaram a surgir.

Transmissão da gripe aviária

No experimento, os pesquisadores isolaram o vírus H5N1 encontrado em uma vaca infectada pela gripe aviária. Em seguida, induziram a infecção em camundongos e furões. Este último grupo de mamíferos é o modelo ideal para simular a transmissão em humanos. 

Entre os camundongos, beber pequenas quantidades de leite cru já é o suficiente para causar uma versão sintomática da gripe aviária. Em relação aos furões, a ideia foi entender se um indivíduo contaminado pode transmitir a doença para outros, através do ar, sem o contato físico. 

Segundo os autores, nenhum dos quatro furões expostos a outro animal doente apresentou sinais da infecção. No entanto, após testes complementares, os autores descobriram que um furão exposto havia produzido anticorpos para o vírus H5N1, ou seja, foi infectado de forma assintomática. Isso indica que essa forma de transmissão ainda não é efetiva, o que é um alívio temporário para os humanos.

Por outro lado, os cientistas descobriram que o vírus da gripe aviária consegue se conectar, em algum grau, aos receptores de ácidos siálicos expressos nas vias aéreas superiores humanas, em testes de laboratório. Isso indica que a transmissão é teoricamente possível, mesmo que ainda não seja efetiva. Dependendo das mutações futuras, esse mecanismo pode ser aperfeiçoado.

Vacina é aposta certeira

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Diante dessas novas evidências, o recomendável é investir no desenvolvimento de vacinas contra a gripe aviária, como a União Europeia tem proposto. Na Finlândia, há planos de começar a imunização de pessoas de risco, como funcionários de fazendas de criação.

Em paralelo, os EUA fecharam um acordo com a Moderna para produzir uma vacina de mRNA (RNA mensageiro), com a mesma tecnologia usada durante a pandemia da covid-19.

“Nós pegamos as lições aprendidas, com sucesso, durante a pandemia de covid-19 e as usamos para nos preparar melhor para futuras crises de saúde pública”, explica Xavier Becerra, secretário do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, para o site Salon.

“Como parte disso, continuamos a desenvolver novas vacinas e outras ferramentas para ajudar a lidar com a gripe e reforçar nossas capacidades de resposta”, completa Becerra.

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No caso brasileiro, o Instituto Butantan desenvolve um imunizante próprio contra o vírus H5N1, com base na expertise que o centro de pesquisa acumula na produção das vacinas da gripe “comum”.

Imunidade contra H5N1?

Por enquanto, ainda não se sabe se as pessoas têm algum grau de proteção e imunidade contra o vírus da gripe aviária. Segundo estudo publicado na revista Emerging Infectious Diseases, é possível que alguma imunidade pode ser encontrada nas pessoas que foram infectadas pela gripe suína (H1N1), durante o surto global em 2009.

Isso ocorre porque, segundo os autores, tanto o vírus H5N1 quanto o H1N1 têm uma proteína de superfície designada N1. Então, os anticorpos produzidos contra a gripe suína podem ter alguma efetividade contra a gripe aviária. 

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Apesar dessa possibilidade, toda a pesquisa foi feita em laboratório e não se sabe como isso se daria no mundo real. Então, mais pesquisas sobre essa imunidade prévia são necessárias.

Fonte: Nature (1) e (2), Salon, Emerging Infectious Diseases