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Varíola dos macacos se manifesta de forma diferente em novo surto

Por| Editado por Luciana Zaramela | 13 de Junho de 2022 às 12h16

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Dr. Noble/CDC
Dr. Noble/CDC

Desde maio deste ano, surtos da varíola dos macacos (monkeypox) são identificados em países onde a doença não é endêmica, especialmente na Europa e na América do Norte. No momento, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já contabiliza mais de mil casos da infecção, incluindo três pacientes do Brasil. Segundo especialistas, um dos desafios para a identificação é que os sintomas não são os clássicos desta infecção e podem ser facilmente confundidos com outras doenças.

Nos Estados Unidos, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) alertou, na última sexta-feira (10), que as erupções cutâneas da varíola dos macacos se diferem daquelas que os médicos costumam observar na África — onde o vírus é endêmico em 11 países.

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"Observamos casos de varíola dos macacos que são leves e, às vezes, [as erupções estão] apenas em áreas limitadas do corpo, o que difere das apresentações clássicas vistas em países endêmicos da África Ocidental e Central", afirmou a diretora do CDC, Rochelle Walensky, em coletiva de imprensa. "Isso gerou preocupação de que alguns casos possam não ser reconhecidos ou diagnosticados", acrescentou.

Sintomas do atual surto da varíola dos macacos

No quadro clássico da varíola dos macacos, os pacientes relatam, inicialmente, sintomas semelhantes aos da gripe, como febre, dores no corpo e glândulas inchadas. Entre 24 e 36 horas do início da febre, as primeiras erupções surgem no corpo.

A partir dos casos norte-americanos do vírus, Walensky explica que alguns indivíduos infectados apresentam poucas erupções ao invés de erupções cutâneas generalizadas. Além disso, a diretora do CDC explica que "alguns pacientes desenvolveram erupção cutânea localizada, muitas vezes ao redor dos órgãos genitais ou do ânus, antes de apresentarem quaisquer sintomas semelhantes aos da gripe, e alguns nem desenvolveram esses sintomas semelhantes aos da gripe".

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Em alguns pacientes, foi possível identificar casos de proctite. Esta é uma inflamação bastante dolorosa que afeta a mucosa do reto. O sintoma não é comumente associado à varíola dos macacos, segundo o CDC.

Relação do vírus com DST

Por causa da diversidade de apresentações da doença, Walensky orienta que "os profissionais de saúde não devem descartar a varíola só porque um paciente tem outro diagnóstico ou outra DST [Doença Sexualmente Transmissível]”.

Em alguns casos, as erupções podem se assemelhar, como as da herpes ou da sífilis. Além disso, alguns pacientes foram diagnosticados com a varíola, mas também com alguma outra DST.

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Histórico dos casos de monkeypox

Em artigo para o site The Converstion, a médica e especialista Camille Besombes também comentou sobre as diferenças entre os atuais surtos da varíola dos macacos e os casos clássicos da África. Há três anos, a infectologista atua no projeto a Afripox, que estuda o monkeypox em regiões endêmicas do continente africano.

De forma geral, a maioria das epidemias da varíola dos macacos estava relacionada com áreas rurais e envolvia, princialmente, a transmissão zoonótica (entre animais e humanos). Somente em 2017, em um surto — que ainda está em andamento — na Nigéria, é que este perfil começou a mudar.

Caso da Nigéria

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"A epidemia nigeriana marcou uma grande mudança na epidemiologia da varíola dos macacos e deveria ter agido como um aviso para nós. Enquanto o vírus tendia a prosperar em regiões florestais, em 2017, atingiu as áreas mais urbanas do país e em maior escala. Foi assim que conseguiu se espalhar mais facilmente para fora do continente, com casos surgindo em 2018 em Cingapura, Israel e Inglaterra, trazidos por viajantes que retornavam da Nigéria", explica a infectologista.

Entre os casos diagnosticados, descobriu-se que uma grande proporção significativa de indivíduos apresentou erupções na genitália, sugerindo, pela primeira vez, que o vírus da varíola dos macacos pudesse ser transmitido através do contato com a pele de pacientes infectados, durante o sexo. Até o momento, este parece ser o principal perfil de transmissão dos casos da Europa e da América do Norte.

"O contato próximo e íntimo durante a relação sexual pode estar por trás do novo aumento da frequência na transmissão inter-humana da varíola dos macacos, um vírus que geralmente se acredita apresentar baixa transmissibilidade. Esta teoria é apoiada pelo fato de que — no momento da redação deste artigo — os casos 'não africanos' das últimas semanas afetaram principalmente homens jovens que fazem sexo com homens ou que se identificam como homossexuais. Deve-se notar, porém, que tais transmissões também podem ocorrer durante a relação heterossexual", completa Besombes.

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Quando buscar ajuda médica?

“Se você notar qualquer nova erupção cutânea ou condição de pele sobre a qual não tenha certeza em qualquer lugar do corpo, inclusive na boca, vá ao médico”, afirmou o especialista Demetre Daskalakis, diretor da Divisão de Prevenção ao HIV/AIDS do CDC. "Este não é o momento de se conter, mesmo que você não ache que seja tão sério", completou.

Fonte: NBC News e The Conversation