Publicidade
Economize: canal oficial do CT Ofertas no WhatsApp Entrar

Vacinas seguras contra COVID-19 só devem ficar prontas a partir de março de 2021

Por| 21 de Setembro de 2020 às 15h50

Link copiado!

Cottonbro/Pexels
Cottonbro/Pexels

Diante da pandemia da COVID-19 e dos mais de 29 milhões de contaminados pelo coronavírus SARS-CoV-2 no mundo, é inegável que haja ansiedade em relação a uma vacina segura e eficaz, distribuída em massa. Infelizmente, a ciência não avança através das expectativas e, sim, por evidências. Nesse cenário, um possível imunizante só deve estar pronto a partir de março de 2021.    

"Para o meio do ano que vem, talvez, entre março e junho, se alguma dessas vacinas se mostrar segura e eficaz, é que ela deve ser liberada para produção e imunização da população", comenta a infectologista e professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Raquel Stucchi, sobre as expectativas de que um imunizante consiga cumprir todas as (três) etapas de um estudo clínico.

Continua após a publicidade

Atualmente, nenhuma vacina contra a COVID-19 completou essa exigência. O que acontece, por exemplo, é que um imunizante tenha recebido uma liberação condicional de uso, como é a situação da vacina russa Sputnik V. "Candidatas a vacina entraram em fase 3 [última etapa para liberação] entre junho e julho. Provavelmente, teremos os resultados [de segurança da fórmula] seis meses após vacinação para podermos avaliar efeitos adversos, em uma análise inicial. Isso deve acontecer no final do ano", explica a infectologista Stucchi sobre as perspectivas científicas.

"O que aconteceu sobre a notícia de uma reação adversa grave da vacina da Universidade de Oxford, mostra, muito claramente, a importância de todas as fases para se ter uma vacina e também a importância de que não se pode pular etapas. Todas as etapas têm o seu prazo, em que elas devem acontecer, para que possamos ter dados de eficácia e segurança", reforça a professora da Unicamp. Na semana passada (14), os estudos com o imunizante de Oxford foram retomados no Brasil, depois de se confirmar que o caso não teve ligação com a fórmula. 

Quanto às expectativas de um imunizante, o infectologista Renato Grinbaum, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e professor da Unicid (Universidade Cidade de São Paulo), também reforça a necessidade de se completar os estudos clínicos. "Temos vacinas em fase 3, ou seja, próximas à liberação. Não é possível determinar uma data específica, mas é questão de poucos meses, tempo para obter número suficiente de indivíduos testados, observar toxicidade a médio prazo e determinação de tempo mínimo de proteção", comenta o médico.

Distribuição em massa de vacina contra a COVID-19?

Continua após a publicidade

Na última quarta-feira (9), Organização Mundial da Saúde (OMS) também trouxe para o debate expectativas mais realistas para a distribuição de possível vacina contra a COVID-19. Segundo a entidade, imunizantes não devem ser distribuídos, de forma massiva e para a população mundial, antes de 2022. Na ocasião, quem comentou sobre o tempo que as vacinas contra a COVID-19 levarão até serem disponibilizadas para todo o mundo foi a cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan.

Isso porque, mesmo que haja uma vacina eficaz e segura em 2021, será preciso pensar na produção e distribuição do medicamento, ainda. “Muitos pensam que no início do próximo ano haverá uma panaceia que resolverá tudo, mas não será assim: há um longo processo de avaliação; licenciamento; fabricação; e distribuição”, pontuou Swaminathan. “É a primeira vez na história que precisamos de bilhões de doses de uma vacina”, explicou sobre os desafios logísticos para a distribuição.

"Agora, termos uma vacina ou mais de uma vacina que se mostre segura e eficaz, não significa que toda a população será vacinada. Primeiro, porque você não vai conseguir ter uma produção para todas as pessoas do mundo. Nós também não sabemos e precisamos esperar os resultados de fase 3 para saber se a vacina será efetiva em todas as idades, se vai precisar de mais de duas doses em alguma faixa etária e se ela será eficaz também em quem tem comorbidades, por exemplo", alerta a infectologista da Unicamp sobre respostas que os estudos clínicos ainda devem trazer.

Quanto às expectativas de uma vacinação, de larga escala, para este ano, Stucchi argumenta: "Não existe nenhum embasamento científico para se fazer vacinação, em massa, em 2020. Se isso for feito, isso é um ato de insanidade científica. Você vai estar expondo a população diante de riscos que ainda não foram avaliados e sem saber se a vacina é eficaz".

Continua após a publicidade

Além disso, quando se tiver um imunizante contra a COVID-19, o processo de distribuição não deve alcançar toda a população, pelo menos não no primeiro momento. Seguindo o raciocínio de outras campanhas de vacinação, devem ser vacinadas, em primeiro lugar, as pessoas com maior risco de exposição, como os profissionais da saúde e de segurança. Gradualmente, as campanhas devem se expandir para outros grupos, como quem tem maiores riscos de complicação e, por fim, a população em geral.

Enquanto, isso não acontece e pesquisadores ainda realizam estudos clínicos com possíveis imunizantes é importante manter medidas de proteção, mesmo quando há flexibilização das restrições em uma determinada área. Afinal, o coronavírus continua a ser um potencial risco. Por exemplo, deve-se evitar aglomerações e o contato, sem necessidade, com pessoas dos grupos de risco (idosos e/ou com comorbidades).

Testes de vacina contra a COVID-19 no Brasil

Quanto às etapas de testes de vacinas contra a COVID-19, processo fundamental para a vacinação em massa, quatro candidatas são testadas no país. "Juntas, elas contam com 22 mil voluntários brasileiros, distribuídos entre os seguintes estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná, Distrito Federal, Bahia e Rio Grande do Norte", comenta a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em nota.

Continua após a publicidade

Entre os testes com imunizantes no Brasil, dois acordos permitirão a transferência de tecnologia para a produção nacional da vacina, caso o estudo clínico, em andamento, comprove sua eficácia e segurança. Em outras palavras, caso um deles seja aprovado seguindo os protocolos necessários, o país terá um melhor acesso para a vacinação nacional.

Nesse cenário de transferência de tecnologia, está a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, em parceria com a Biomanguinhos (parte da Fiocruz), que carrega em sua fórmula um adenovírus símio editado geneticamente. Além dessa, há a Coronavac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinoavac e com apoio do Instituto Butantan, que utiliza o coronavírus inativado para desencadear uma proteção contra a COVID-19. 

Fonte: Com informações: Anvisa e Worldometer