Vacinas da covid geram células T e protegem contra Ômicron, aponta estudo
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Além dos anticorpos, as atuais vacinas contra a covid-19 também produzem outros tipos de defesa do organismo, como as células T, segundo um estudo conduzido por cientistas norte-americanos. Com isso, a probabilidade da pessoa desenvolver imunidade mais duradoura contra a doença aumenta. Esta proteção também vale contra diferentes variantes do coronavírus SARS-CoV-2.
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Publicado na revista científica Cell, o estudo foi desenvolvido por pesquisadores do La Jolla Institute for Immunology (LJI). Nas investigações sobre a presença de células T de defesa, foram considerados quatro imunizantes contra a covid-19:
- ComiRNAty (Pfizer/BionTech);
- Fórmula da Moderna
- Fórmula da Janssen (Johnson & Johnson) — atualmente, a produção deste imunizante foi descontinuada;
- Fórmula da Novavax.
Segundo os cientistas, as quatro vacinas testadas estimulam o corpo a produzir células T eficazes e duradouras contra o coronavírus SARS-CoV-2, após duas doses. Inclusive, essas células de defesa podem reconhecer Variantes de Preocupação (VOC), como a Delta (B.1.671.2) e a Ômicron (B.1.1.529). A função permanece por pelo menos seis meses — o período máximo que os voluntários foram acompanhados.
Qual a importância de células T na imunidade?
Vale explicar que as células T não previnem a infecção pelo coronavírus. No organismo, estas células "patrulham" e destroem outras células já infectadas por invasores. Então, a atuação delas é impedir que um vírus se multiplique e desencadeie formas graves da doença.
“Essas células não impedirão que você seja infectado, mas, em muitos casos, elas provavelmente impedirão que você fique muito doente”, explica Shane Crotty, um dos autores do estudo e professor do LJI.
Para chegar à conclusão de que as células T podem combater a Ômicron, a equipe analisou, em laboratório, como elas respondem a diferentes “epítopos” virais, ou seja, as marcas (proteínas) específicas dessa variante.
Por mais que a estrutura da Ômicron não seja a mesma do vírus original, estas células de defesa continuam a funcionar. Mais especificamente, pelo menos 83% das respostas das células T CD4+ e 85% das respostas das células T CD8+ permaneceram as mesmas, independentemente da vacina ou da variante.
Por que é importante ter outras defesas além dos anticorpos?
Diferente das células T, os anticorpos são mais sensíveis para as mutações do coronavírus. Isso significa que, quando as mutações são mais expressivas, eles podem não identificar o invasor de forma adequada, como ocorre com a Ômicron. Por isso, reinfecções são mais comuns, por exemplo.
“A maioria dos anticorpos neutralizantes, ou seja, os anticorpos que funcionam bem contra o SARS-CoV-2, se ligam a uma região chamada domínio de ligação ao receptor, ou RBD”, explica Camila Coelho, uma das autoras do estudo. Caso suas estruturas sejam alteradas, essa capacidade de ligação diminui, o que justifica a importância de ter outras defesas.
Ômicron ainda pode ser perigosa
Apesar das evidências que reforçam a possibilidade de imunidade duradoura contra formas graves da covid-19, a equipe de pesquisadores reforça que a Ômicron ainda representa riscos para a saúde humana. Afinal, o estudo aborda a imunidade geral, mas as respostas imunes individuais variam e algumas pessoas podem ter sistemas imunológicos que operam de forma diferente.
“Existe uma chance de você ser uma das poucas pessoas com uma resposta imune em declínio”, lembra Alison Tarke, outra autora do estudo. Por isso, as pessoas ainda devem manter cautela e usar máscaras, segundo a especialista. Para manter a resposta ativa, doses de reforço são fundamentais.