Reinfecções da covid-19: são comuns e podem ser leves?
Por Fidel Forato | Editado por Luciana Zaramela | 15 de Fevereiro de 2022 às 13h37
Com o avanço da variante Ômicron (B.1.1.529) do coronavírus SARS-CoV-2 no mundo, o número de reinfecções da covid-19 cresceu. É o que apontam os dados coletados pelas autoridades de saúde do Reino Unido. Além disso, a tendência é que os casos de reinfecção da nova cepa sejam mais leves ou moderados, principalmente, nas pessoas vacinadas.
- "Superimunidade": dá para obter mais proteção contra covid, mas há um porém
- Estudo investiga eficácia combinada de vacina com imunizante nasal para covid
Não existe uma única explicação sobre o porquê de as reinfecções ocorrerem. De forma geral, elas ocorrem porque a imunidade anterior já não é mais suficiente para prevenir um novo contágio. Isso é reflexo de novas mutações do vírus, como ocorreu com a Ômicron, e pela redução da imunidade que ocorre com o tempo. Por isso, os reforços das vacinas são tão importantes.
Entrada pelas vias respiratórias
"O coronavírus quase sempre entra no corpo humano pelo nariz ou pela garganta. A imunidade nos revestimentos da mucosa nessas áreas tende a ser relativamente curta em comparação com a imunidade sistêmica em todo o corpo", lembra Paul Hunter, consultor da Organização Mundial da Saúde (OMS) e professor de medicina na University of East Anglia, no Reino Unido, em artigo para o The Conversation.
Para o professor, essa menor imunidade das mucosas "pode explicar o motivo de a proteção contra doenças graves, geralmente enraizadas nos pulmões, durar mais do que a proteção contra infecções leves".
Pensando especificamente na principal porta de entrada do vírus no corpo, alguns pesquisadores buscam formas de desenvolver uma vacina nasal como reforço contra a covid-19. É o caso da Universidade de Hong Kong, onde o potencial imunizante está em fase de testes pré-clínicos e os primeiros resultados parecem promissores em melhorar a imunidade das vias respiratórias.
Casos de reinfecção são comuns?
Dados sobre o número de reinfecções da covid-19 são limitados e de difícil comparação, já que é necessário, por exemplo, definir qual é o intervalo mínimo entre a primeira e a segunda reinfecção do coronavírus. No Reino Unido, as autoridades consideram que o intervalo entre as doenças deve ser de pelo menos 90 dias.
Até o dia 6 de fevereiro de 2022, o sistema de saúde britânico contabilizava mais de 14,5 milhões de infecções primárias e cerca de 620 mil reinfecções apenas na Inglaterra. A partir desses dados, é possível estimar que ocorra uma reinfecção para cada 24 infecções primárias.
No entanto, o curioso é que mais de 50% de todas as reinfecções foram relatadas a partir de dezembro de 2021, quando a variante Ômicron se estabelecia no país. Nesse caso, é consenso de que, por causa de suas mutações na proteína Spike (S), a nova variante facilite casos de reinfecções.
Reinfecção é sempre mais leve?
"As infecções primárias em pessoas vacinadas — que têm alguma imunidade à covid-19 — geralmente são menos graves do que as infecções primárias em pessoas não-vacinadas — que não têm imunidade. Por isso, as taxas de hospitalização são menores entre os vacinados", lembra o professor Hunter.
Afinal, o imunizante estimula as defesas do organismo e, quando ele é infectado pelo verdadeiro coronavírus, o agente não é um completo desconhecido e já existem formas de combatê-lo. A partir dessas considerações, pessoas que já foram infectadas também tendem a ter casos menos graves da covid-19.
"Em geral, as reinfecções devem ser menos graves do que as infecções primárias, pois a pessoa reinfectada terá alguma imunidade pré-existente de sua infecção primária. Além disso, muitas pessoas terão sido vacinadas entre suas infecções, o que aumentará ainda mais seus níveis de proteção", afirma o pesquisador.
Publicado na revista Science Immunology, um estudo descobriu a melhor formas de se desenvolver uma "superimunidade", ou seja, a capacidade de produzir uma resposta robusta do sistema imunológico. Para isso, a pessoa deve ser imunizada antes ou após a infecção, o que turbina de forma significativa estas defesas do organismo.
"Mesmo que a imunidade contra ser infectado pelo coronavírus e desenvolver sintomas da covid-19 diminua, a proteção contra doenças graves e morte parece muito mais durável. Então, no extremo das coisas, as reinfecções definitivamente parecem ser menos graves", completa.
No entanto, algumas variações precisam ser consideradas, como a carga viral a que a pessoa foi exposta e suas condições de saúde. Outro fator é a variante da covid-19 a que a pessoa foi exposta, já que as cepas podem reagir de forma diferente no organismo.
Fonte: The Conversation