Vacinas contra COVID-19 no Brasil podem ter empecilho: a falta de agulhas
Por Fidel Forato | 10 de Agosto de 2020 às 15h49
Para o controle da pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2), muitos governos e autoridades de saúde têm apostado em uma vacina, eficaz e segura, contra a vírus. No entanto, ainda há dois desafios para uma política pública de vacinação contra a COVID-19, tanto no mundo quanto no Brasil. O primeiro é a aprovação de um imunizante, após a conclusão dos testes. Depois, a produção, em massa, de vacinas que pode esbarrar na falta de seringas.
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“A demanda pelo insumo [as agulhas] vai crescer exponencialmente no mundo todo”, afirma Paulo Henrique Fraccaro, superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos e Odontológicos (Abimo), para a Folha de S. Paulo. “E o governo vai ter que continuar com as campanhas normais contra o sarampo, a dengue etc”, ou seja, a produção da vacina contra a COVID-19 deve disputar por insumos, de forma, internacional e nacional.
A falta de insumos não seria novidade durante a pandemia da COVID-19, isso porque ao longo dos meses, diversos produtos foram, de fato, disputados entre os países, por conta da alta demanda e do baixo estoque. Por exemplo, o preço do álcool em gel 70% disparou, faltaram máscaras descartáveis até para equipes médicas e respiradores para pacientes internados em UTIs.
Expectativa vs realidade
Quanto a produção de seringas no mercado nacional, Fraccaro explica que a capacidade anual máxima de produção pela indústria brasileira é de 1,5 bilhão por ano. “O tempo de produção para 50 milhões de seringas aqui é de cinco meses”, esclarece o superintendente da Abimo.
“Mas só para vacinar contra a COVID-19, o Brasil vai precisar no mínimo de 300 milhões de seringas num prazo de três ou quatro meses”, afirma Fraccaro, baseando o cálculo na população brasileira - com cerca de 210 milhões de habitantes. No entanto, esses números podem ser maiores, considerando que a vacina, quando aprovada, demande duas doses para a imunização contra a COVID-19. Nesse sentido, o imunizante desenvolvido pela empresa chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, deve demandar duas doses.
Diante da possibilidade de falta de insumos para a vacinação, a Secretaria da Saúde de SP afirma ter expertise na realização de campanhas como a que será desenvolvida para o controle do coronavírus e que tem “o total compromisso com o planejamento de aquisição, logística e ações de vacinação contra COVID-19 tão logo haja imunizante disponível e definição de cronogramas e população alvo”.
No mesmo caminho, o Ministério da Saúde defende que o Sistema Único de Saúde (SUS) “possui um dos maiores programas de vacinação do mundo”, sendo que “o Brasil já prepara a rede de logística para o desafio de vacinar a população contra a COVID-19” e que “as aquisições de seringas e agulhas serão compatíveis com a necessidade de cobertura populacional”.
Para ajudar o país na produção da vacina contra o coronavírus, um grupo de empresas anunciou, na sexta-feira (7), que deve investir R$ 100 milhões para acelerar o processo. Com os investimentos, a ideia é a construção de superfábrica de vacinas para a Fiocruz, no estado do Rio de Janeiro.
No entanto, o desafio pela busca de insumos para a vacinação em massa da população não deve ser apenas brasileiro. Isso porque, na semana passada, a União Europeia emitiu um aviso sobre os possíveis riscos para a falta de seringas durante campanha de vacinação contra a COVID-19.
Fonte: Folha de S. Paulo