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Vacina inversa promete curar doenças autoimunes, como esclerose

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Twenty20photos/Envato Elements
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Nos Estados Unidos, pesquisadores da Universidade de Chicago e da farmacêutica Anokion desenvolvem uma vacina "do contra" para pessoas com doenças autoimunes, como esclerose múltipla, diabetes tipo 1 e doença de Crohn. No lugar de ensinar o sistema imunológico a reconhecer alvos específicos, como vírus ou bactérias, o composto “deseduca” esse sistema, evitando o ataque às células e aos tecidos saudáveis do corpo.

“Ainda não existem ‘vacinas inversas’ clinicamente aprovadas, mas estamos extremamente entusiasmados com o avanço desta tecnologia”, afirma Jeffrey Hubbell, professor da universidade norte-americana e um dos responsáveis pela potencial terapia, em nota.

Apesar do otimismo, ainda existe um longo caminho a ser percorrido até que se comprove a eficácia e a segurança dos imunizantes que prometem curar as doenças autoimunes. Por enquanto, são feitos testes pré-clínicos, envolvendo animais.

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Por que desenvolver uma vacina do contra?

Para entender o conceito por trás da vacina do contra, cabe explicar que, nos casos de doenças autoimunes, o sistema imunológico do paciente passa a atacar as células saudáveis, provocando diferentes tipos de lesões e danos, além de aumentar as taxas de inflamação.

Por exemplo, em pacientes com a doença de Crohn, o sistema imune passa a destruir as células do intestino delgado. Enquanto isso, nos indivíduos com esclerose múltipla, as células T deste sistema atacam a mielina — a camada protetora que envolve os nervos.

Hoje, a principal forma de tratamento consiste no uso de remédios imunossupressores, ou seja, medicamentos que enfraquecem o funcionamento do sistema imunológico. Entre os problemas, está o fato dessa estratégia não resultar em uma cura. Além disso, ela fragiliza a saúde do indivíduo, já que ele pode contrair mais facilmente outras infecções, algo potencialmente grave. Outras terapias estão em testes.

Agora, com a proposta das vacinas inversas, a formulação simplesmente deve apagar da memória do sistema imune a informação incorreta de que determinada molécula é uma ameaça e precisa ser atacada. Em outros termos, o sistema de defesa de uma pessoa com esclerose deixará de ver a mielina como um risco, como já ocorre em pessoas saudáveis. Isso pode representar até mesmo a cura da condição — algo que não foi testado em humanos ainda e está somente no campo das hipóteses.

Como funciona o novo modelo de vacina inversa para doenças autoimunes?

Em termos mais técnicos, os pesquisadores buscam alcançar a cura para as doenças autoimunes através de uma estratégia complexa que envolve a indução da tolerância imunológica, ou seja, do mecanismo que faz com que o sistema imunológico não ataque determinados antígenos.

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Em partes, esse processo ocorre no fígado, órgão capaz de sinalizar que determinadas células (ou proteínas presentes nessas células) não precisam ser destruídas. Isso é feito através da inclusão de uma molécula de um tipo de açúcar, a N-acetilgalactosamina (pGal).

Aqui, com as vacinas inversas, “a ideia é que possamos anexar o pGal [sintético] a qualquer molécula que quisermos e isso ensinará o sistema imunológico a tolerá-la”, afirma Hubbell.

Experimentos práticos com a vacina inversa

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Em recente estudo publicado na revista Nature Biomedical Engineering, a equipe de pesquisadores descreveu os efeitos positivos da vacina em camundongos com uma doença autoimune semelhante ao quadro de esclerose múltipla.

Após ligar determinadas proteínas da mielina com o açúcar pGal e envasar esse composto em uma vacina, a equipe descobriu que o sistema imunológico dos roedores parou de atacar essa estrutura que protege os nervos, o que reverteu os sintomas da doença nos animais.

Vale observar que, para além das vacinas inversas, o mercado de imunizantes aposta que esse tipo de estratégia poderá solucionar inúmeras doenças nos próximos anos. Por exemplo, há uma vasta gama de estudos com as vacinas de mRNA (RNA mensageiro) no controle de casos de câncer. Neste caso, os estudos estão mais avançados e parecem bastante animadores.

Fonte: Nature Biomedical Engineering e Universidade de Chicago