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Tudo o que você precisa saber sobre o Alzheimer

Por| Editado por Luciana Zaramela | 21 de Fevereiro de 2022 às 10h02

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iLexx/Envato
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Nem todo tipo de esquecimento aponta para um caso suspeito de Alzheimer, mas este é um dos principais sintomas desse tipo de demência — e deve servir como alerta. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a tendência é que o número de diagnósticos cresça anualmente. Por outro lado, a ciência aposta cada vez mais em estudos e terapias para reduzir os seus efeitos.

No mundo, mais de 55 milhões de pessoas vivem com demência, uma classe de doenças que causa o declínio das funções cognitivas. Por ano, são diagnosticados pelo menos 10 milhões de novos casos. Vale explicar que, desse total de casos, a OMS estima que 60% a 70% correspondam a quadros de Alzheimer.

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Com a população envelhecendo cada vez mais e a incidência aumentando, a demência e o Alzheimer devem se tornar um grande alvo para a ciência, o que envolve o surgimento de novos tratamentos, inúmeros ensaios clínicos e a melhor compreensão de suas causas. Para os próximos anos, a tendência é de crescimento no número de pessoas com doenças cognitivas. Em 2050, a condição deve afetar 115,4 milhões de indivíduos.

Para compreender o que os cientistas já descobriram sobre Alzheimer e conhecer as estratégias que podem desacelerar a evolução da doença, o Canaltech conversou com o neurologista Paulo Nakano, do Hospital HSANP.

Quais são os primeiros sinais e sintomas do Alzheimer?

Entre os fatores que podem ser observados, os primeiros sinais e sintomas do Alzheimer estão associados com a memória do indivíduo. "Percebemos o acometimento da memória e, princialmente, da memória recente nas atividades do dia a dia do paciente", explica Nakano.

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Por exemplo, um determinado programa, como o aniversário de um neto, acabou de ser combinado. Passados alguns minutos ou horas, a pessoa não lembra ou pergunta exatamente a mesma coisa que foi discutida. É como se aquele tema fosse algo totalmente novo, já que aquilo não foi capturado pela memória recente.

Outro caso é a pessoa que, aparentemente, começa a perder itens dentro de casa. Só que, na verdade, está guardando os objetos em locais que não faz sentido procurar. É importante reforçar que isso não acontece uma vez ou outra — o que pode ser normal —, mas começa a se tornar uma "regra".

“Com a evolução, a doença acaba acometendo outros domínios, como a linguagem", comenta Nakano. Nesse momento, o paciente pode apresentar tanto dificuldades para compreender quanto para se expressar, sendo variáveis para cada indivíduo. Num segundo momento, a pessoa passa a perder a orientação espacial, tem dificuldade em reconhecer objetos e já não consegue realizar atividades que fazia corriqueiramente.

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Quando a própria pessoa se dá conta desse declínio das funções cognitivas — algo que pode acontecer no início da doença —, um forte sentimento de tristeza pode ser vivenciado pelo indivíduo e, em alguns casos, pode desencadear a depressão.

Afinal, o que causa este tipo de demência?

Em resumo, o Alzheimer é um distúrbio neurológico progressivo que faz com que o cérebro atrofie e, consequentemente, as células cerebrais (neurônios) morram de forma gradual. No entanto, as causas exatas da doença não são totalmente compreendidas.

"Os cientistas acreditam que, para a maioria das pessoas, a doença de Alzheimer é causada por uma combinação de fatores genéticos, de estilo de vida e ambientais que afetam o cérebro ao longo do tempo", explica a Mayo Clinic. Apenas 1% dos casos são desencadeados por alterações genéticas específicas (conhecidas).

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No momento, a ciência busca entender o Alzheimer a partir do comportamento de duas proteínas: a beta-amiloide e a tau. A seguir, confira quais comportamentos podem ser problemáticos em cada uma delas:

  • Beta-amiloide: quando se agrupam, estas proteínas parecem ter um efeito tóxico nos neurônios. Com isso, interrompem a comunicação célula a célula. Em determinado momento, elas formam grandes aglomerados, chamados de placas amiloides;
  • Tau: este tipo de proteína atua no transporte de nutrientes e outras substâncias essenciais entre os neurônios. Em casos de Alzheimer, a tau muda de forma e começa a se organizar em estruturas que perturbam o sistema de transporte. Também são tóxicas para as células do cérebro.

Depois do diagnóstico

Até o momento, não se chegou a uma cura para o Alzheimer. Dessa forma, todas as estratégias adotadas, a partir de um diagnóstico da demência, são para desacelerar a evolução do quadro. Abordagens multidisciplinares são necessárias para garantir o máximo de qualidade de vida para esses indivíduos.

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Além do acompanhamento com o neurologista, é interessante buscar auxílio de psicólogos para o paciente e também para os familiares. Outro fator que é fundamental, de acordo com Nakano, é a atividade física adequada. É necessário "fazer o paciente se sentir ativo no dia a dia”, explica.

Como ajudar os pacientes?

“Com o passar do tempo, algumas coisas, teoricamente simples, começam a ficar complicadas, como conseguir se locomover dentro de casa e de saber onde estão determinados cômodos. Isso gera uma diminuição da qualidade de vida desse paciente", detalha o neurologista Nakano. Nesse momento, diferentes estratégias podem ajudar a localizar o indivíduo, como sinalizações (placas ilustrativas), apontando onde é o banheiro, o quarto e a cozinha.

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Em outras ocasiões, atividades que a pessoa gostava de fazer, como tricot, se tornam mais complexas e, às vezes, são abandonadas. Quando possível, é necessário trazer estímulos e ajudá-los a completar esses "desafios". A ideia é que o paciente não se sinta mal por essas limitações.

Agora, quando a pessoa fica repetindo a mesma coisa, "não adianta entrar em um conflito com o paciente, se já percebemos que existe uma alteração da parte cognitiva. O que deve ser feito é trocar o assunto ou mudar a atividade que está sendo executada", orienta o médico.

Estratégias de prevenção existem?

Por enquanto, só existem alguns indicativos de comportamentos que pode postergar o início da doença. "Ainda não temos atitudes e ações que podem zerar a chance do Alzheimer, mas existem dados sobre o que ajuda a adiar o início da doença", lembra o neurologista.

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Por exemplo, “pacientes com nível intelectual maior têm a incidência de forma mais alentecida para a doença de Alzheimer", comenta. Isso porque a questão educacional — no caso, menos tempo passado nas instituições de ensino — parece ser um fator de risco para a doença.

“Alimentação é um fator muito importante, porque entendemos que pacientes com diabetes, com níveis de glicemia alterados e doenças de base, facilitam a incidência da doença", explica o médico. Além disso, a atividade físcia e uma vida menos sedentária fazem com que a incidência da doença seja postergada.

Fatores de risco para o Alzheimer

"O avanço da idade é o maior fator de risco conhecido para a doença de Alzheimer. A doença de Alzheimer não faz parte do envelhecimento normal, mas à medida que você envelhece, a probabilidade de desenvolver a doença de Alzheimer aumenta", explica a Mayo Clinic.

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No geral, existem inúmeros fatores de risco para a doença, além da idade, como:

  • Genética;
  • Síndrome de Down;
  • Comprometimento cognitivo leve (MCI);
  • Traumas na cabeça;
  • Poluição do ar;
  • Consumo excessivo de álcool;
  • Padrões de sono ruins;
  • Sedentarismo;
  • Obesidade;
  • Tabagismo;
  • Pressão alta;
  • Colesterol alto;
  • Diabetes tipo 2 não controlada.

Medicamento: Aduhelm

No ano passado, em uma decisão polêmica, os Estados Unidos aprovaram o primeiro medicamento para o tratamento de casos leves do Alzheimer: o Aduhelm, desenvolvido pela empresa de biotecnologia Biogen Idec. Por ano, o tratamento custa, em média, US$ 56 mil (aproximadamente 287 mil reais).

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A fórmula mira em uma possível causa da condição neurodegenerativa. Isso porque a medicação busca interromper a formação das placas amiloides no cérebro, mas os resultados, nos ensaios clínicos, não saíram da forma esperada.

“Ainda é preciso um certo grau de cautela para a utilização. Os resultados não são tão positivos quanto a gente gostaria", explica o neurologista Nakano. O especialista alerta para a questão da efetividade e da eficiência, ou seja, a eficácia na vida real e o quanto se gasta para alcançar o resultado esperado.

Outra questão é a limitação dos pacientes que podem se beneficiar do tratamento. Isso porque a maioria dos pacientes chega ao consultório e identificam a doença em estágios mais avançados. Por isso, "não é uma medicação que trouxe um impacto grande no tratamento", completa.

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Por outro lado, outros inúmeros tratamentos estão em testes contra o Alzheimer. É o caso de uma vacina, em testes pré-clínicos, da Göttingen University, na Alemanha. Outro exemplo é uma estratégia que usa da edição genética, desenvolvida por pesquisadores da Université Laval, no Canadá, avaliada in vitro. Nesse cenário emergente, é possível que os próximos anos sejam marcados por uma revolução na luta contra a demência.

Fonte: Com informações: OMS e Mayo Clinic