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O que fazer com diagnóstico precoce de demência ainda é um desafio para ciência

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Inmicco/Envato
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Cada vez mais a ciência avança no diagnóstico precoce da demência — uma classe de doenças que causa o declínio das funções cognitivas, como o Alzheimer —, inclusive é possível obtê-lo antes mesmo dos primeiros sintomas clínicos. No entanto, falta consenso sobre o que fazer com esses resultados, já que não há cura e os tratamentos são limitados ou emergentes.

Nos Estados Unidos, há um teste que pode avaliar o risco de uma pessoa contrair demência antes de apresentar quaisquer sintomas. Realizado em 5 minutos, o teste de Avaliação Cognitiva Integrada (ICA), desenvolvido pela startup britânica Cognetivity Neurosciences, recebeu autorização da Food and Drug Administration (FDA) para ser comercializado por lá. No Reino Unido, o National Health Service (NHS) também avalia a sua liberação.

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A ideia é que este teste integre uma espécie de check-up anual para pessoas com mais de 50 anos, procurando os primeiros sinais de doenças neurodegenerativas antes que se tornem aparentes no comportamento. No entanto, a pergunta que divide especialistas é o que fazer com os resultados.

Riscos do uso generalizado dos testes de rastreamento

Segundo especialistas consultados pela Wired, existe a preocupação de que o uso generalizado de testes de rastreamento precoce da demência possa apenas sobrecarregar o sistema de saúde. Isso porque o resultado, potencialmente, deixará as pessoas ansiosas, quando ainda não apresentam sintomas e não existem tratamentos comprovadamente eficazes.

“Tenho medo de que isso tenha grandes implicações para as pessoas. Não há infraestrutura para apoiar totalmente as famílias afetadas pela demência”, explicou Karen Harrison Dening, pesquisadora da Dementia UK.

Na sua visão, o NHS não teria fundos suficientes para pagar as varreduras cerebrais de todos que precisam de uma no Reino Unido. Isso porque, após o resultado preliminar do exame de 5 minutos, testes mais detalhados seriam necessários. “Onde eles estão indo para esse aconselhamento pós-teste?”, questiona Dening. “Simplesmente, não temos a infraestrutura — e há uma obrigação moral de apoiá-los”, completa.

Mudanças no estilo de vida

Por outro lado, mudanças no estilo de vida podem, comprovadamente, reduzir os riscos da doença, principalmente da demência vascular. Esta é causada pelo suprimento insuficiente de sangue que chega ao cérebro e, dessa forma, está intimamente ligada à saúde do coração. Nesses casos, comer menos gordura, fazer mais exercícios, beber menos e evitar o sedentarismo podem ser diferenciais importantes para evitar o declínio das funções cognitivas.

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Em 2019, um estudo do pesquisador David Llewellyn, da Universidade de Exeter, descobriu que as pessoas com risco genético para o Alzheimer poderiam suprimi-lo aderindo a um estilo de vida mais saudável. A pesquisa foi publicada no periódico Journal of the American Medical Association (JAMA).

Aduhelm: novo remédio contra o Alzheimer

Até agora, a maioria dos fármacos busca tratar os sintomas do Alzheimer. Recentemente aprovado pela FDA, a exceção é o caso do Aduhelm — cujo princípio ativo é o aducanumabe. O medicamento mira em uma possível causa da condição neurodegenerativa e do declínio cognitivo, uma proteína tóxica (beta-amiloide) que pode destruir os neurônios e causar demência.

Alvo de polêmicas nos EUA, o remédio da empresa de biotecnologia Biogen Idec remove os depósitos aderentes dessa proteína no cérebro de pacientes nos estágios iniciais do Alzheimer para conter seus estragos. Nesse ponto, seria possível reduzir os efeitos de alguns sintomas, como a perda de memória.

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Em outras palavras, a partir de uma redução dessas placas (depósitos), o medicamento de uso contínuo pode levar a um declínio mais lento da condição. Só que é importante ressaltar que a droga não representa uma cura para o Alzheimer e nem reverte a progressão da doença.

Com o aumento de diagnósticos precoces e políticas públicas para a distribuição da fórmula, remédios do tipo poderiam ser administrados quando poderão, em tese, trazer melhores resultados. “Se você remover a amiloide em um estágio muito inicial, talvez, seja quando o benefício real aconteça”, aposta Ivan Koychev, da Universidade de Oxford.

A ideia é que, se a proteína pudesse ser eliminada do cérebro antes de se tornar tóxica, os piores efeitos pudessem ser adiados ou evitados por completo da demência. No entanto, muitas questões ainda estão abertas sobre o uso da medicação e, por enquanto, a autorização de uso é apenas uma aprovação condicional nos EUA. Isso significa que está sujeita a revisões, o que acontecerá quando novas evidências dos efeitos de seu uso estiverem disponíveis.

Fonte: Wired e JAMA