Suas primeiras memórias de vida ainda estão em algum lugar do seu cérebro
Por Nathan Vieira • Editado por Luciana Zaramela |
Você muito provavelmente não se lembra da primeira vez que engatinhou, ou a primeira vez que provou uma comida sólida. No entanto, um estudo publicado na revista Science Advances na última quarta-feira (8) sugere que essas primeiras memórias ainda estão lá, em algum lugar do seu cérebro.
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O projeto conduzido pelo Trinity College Dublin revelou o papel que o sistema imunológico da mãe desempenha na moderação do acesso às memórias das primeiras experiências da vida, no que é conhecido como amnésia infantil.
Na ocasião, a equipe se concentrou modelos imunológicos do transtorno do espectro do autismo (TEA) em roedores, e isso permitiu explicar por que algumas pessoas com autismo têm mais facilidade para recordar acontecimentos de épocas que a maioria de nós esqueceu há muito tempo.
O grupo reconhece que pouco se sabe sobre as condições biológicas que sustentam a amnésia infantil e o seu efeito nas células que codificam cada memória. Por meio da análise, foi possível entender que os nossos cérebros são plenamente capazes de guardar as memórias em uma "biblioteca neurológica" sob a forma de estruturas chamadas engramas.
Por que não guardamos as primeiras memórias?
Os pesquisadores perceberam que deu para evitar a amnésia infantil nos roedores através do uso de produtos farmacêuticos direcionados a neurotransmissores específicos. Isso quer dizer que a química do cérebro pode ter uma ligação ativa com os caminhos para memórias de longo prazo.
A ideia do grupo então foi averiguar se a ativação imunológica materna também poderia influenciar as vias associadas à amnésia infantil.
Ao fazer comparações com ratos cujas mães tinham produzido uma resposta imunitária durante a gravidez, os cientistas observaram diferenças nas estruturas e tamanhos dos engramas em uma área específica do hipocampo responsável por atuar na formação da memória. O segredo de tudo pode estar em uma pequena proteína imunológica chamada citocina IL-17a.
Ainda não se sabe exatamente por que os cérebros desenvolveram esse esquecimento dos seus primeiros momentos, mas com as descobertas, a ideia dos cientistas é ficar um passo mais perto dessa compreensão e desvendar o órgão mais misterioso do corpo humano.
Por que esquecemos as coisas?
Outra questão é entender o motivo pelo qual esquecemos as coisas? Segundo um estudo da Universidade de Toronto, é importante que o cérebro esqueça detalhes irrelevantes e, em vez disso, concentre-se nas coisas que ajudarão a tomar decisões no mundo real. Os especialistas entendem que a melhor coisa para armazenar memórias é não memorizar absolutamente tudo.
No entanto, um estudo já descobriu que o cérebro rotaciona as memórias para não serem substituídas por novas informações.
Fonte: Science Advances