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Esquecimento é uma forma de aprendizado e pode ser revertido

Por| Editado por Luciana Zaramela | 21 de Agosto de 2023 às 13h50

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mohdizzuanbinroslan/envato
mohdizzuanbinroslan/envato

Segundo um estudo publicado na última quarta-feira (16) na revista científica Cell Reports, o esquecimento também pode servir como uma forma de aprendizado. Através de experimentos com roedores, cientistas descobriram que essa perda de memória pode ser revertida, inclusive.

A equipe se concentrou em uma forma de esquecimento chamada interferência retroativa, em que diferentes experiências que ocorrem próximas no tempo podem sumir com as memórias recém-formadas. Os roedores foram solicitados a associar um objeto específico a um determinado contexto e, em seguida, reconhecer se esse objeto foi deslocado de seu contexto original.

O grupo percebeu que os camundongos esquecem essas associações quando experiências concorrentes podem "interferir" na primeira memória. Na prática, os neurocientistas acompanharam um grupo de células cerebrais que armazenam uma memória específica e o funcionamento dessas células após o esquecimento.

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Os autores do estudo descobriram que a estimulação dessas células ajudou a recuperar as memórias aparentemente perdidas em mais de uma situação comportamental.

O esquecimento é reversível

Além disso, quando os camundongos receberam novas experiências relacionadas às memórias esquecidas, essas células puderam ser naturalmente rejuvenescidas.

“As memórias são armazenadas em conjuntos de neurônios e a recuperação bem-sucedida dessas memórias envolve a reativação desses conjuntos.

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Por extensão lógica, o esquecimento ocorre quando essas células não podem ser reativadas. É como se as memórias estivessem guardadas em um cofre, mas você não consegue lembrar o código para desbloqueá-lo", explicam os pesquisadores.

Como funcionam as memórias?

Por que esquecemos as coisas ainda é um mistério para a ciência. Um estudo conduzido pela Universidade de Toronto já deixou claro que é importante que o cérebro esqueça detalhes irrelevantes e, em vez disso, concentre-se nas coisas que ajudarão a tomar decisões no mundo real.

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Na ocasião, os autores perceberam que a melhor coisa para armazenar memórias é não memorizar absolutamente tudo, então se você está tentando tomar uma decisão, será impossível fazê-lo se seu cérebro estiver sendo constantemente bombardeado com informações inúteis. Em certos casos, então, esquecer faz parte do processo de um cérebro ativo e mais inteligente, principalmente na tomada de decisões.

Em 2021, uma pesquisa também fortaleceu essa ideia ao mostrar que o cérebro rotaciona as memórias para não serem substituídas por novas informações.

Basicamente, o órgão precisa distinguir a percepção e a memória para que o fluxo de dados recebidos não interfira nos estímulos obtidos anteriormente, ou ainda interprete informações importantes de forma incorreta.

Segundo o artigo, essas memórias não podem interferir na nossa percepção do presente ou serem reescritas por novas experiências, pois o cérebro cria uma proteção para isso.

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O processo de esquecimento

Em entrevista anterior ao Canaltech, o psiquiatra Luiz Scocca explicou que são vários tipos de memória, como a sensorial (memória imediata, a percepção do momento pelos órgãos dos sentidos), de curto prazo (recebe essas informações, guarda por segundos para serem organizadas, utilizadas ou descartadas) e de longo prazo (ilimitada, que pode armazenar inúmeros acontecimentos e informações com seus sentimentos, e permite recuperação desses e a criação de novos fatos, novas ideias).

Muitos casos de esquecimento da memória de longo prazo resultam da perda de acesso à informação e não da perda da informação propriamente dita. Ou seja, uma memória fraca muitas vezes reflete uma falha de recuperação ao invés de uma falha de armazenamento.

Ao falar sobre o processo de esquecimento, na ocasião, o psiquiatra afirmou que é extremamente difícil escolher o que lembrar e esquecer e isso depende de muitos fatores, tanto habilidades pessoais quanto a intensidade e o significado do que aconteceu, como, por exemplo, um evento traumático ou muito bom.

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Fonte: Cell Reports, Trinity College Dublin