Semaglutida e liraglutida aumentam risco de pancreatite
Por Fidel Forato | Editado por Luciana Zaramela | 06 de Outubro de 2023 às 16h35
Desenvolvidos para o tratamento do diabetes tipo 2, os remédios semaglutida e liraglutida se popularizaram pelo uso associado ao emagrecimento. Nas farmácias dos EUA, podem ser encontrados com uma diversidade de nomes comerciais, como Wegovy, Ozempic, Rybelsus e Saxenda. Por aqui, nem todos os compostos desembarcaram ainda. Neste cenário de bastante novidade e interesse pelas fórmulas de perda de peso, uma nova pesquisa alerta para o risco de problemas gastrointestinais potencialmente graves e raros, como a pancreatite.
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A investigação sobre os efeitos adversos das "canetas emagrecedoras", como são popularmente chamadas, foi feita por pesquisadores da University of British Columbia, no Canadá. O ponto alto do estudo é que, diferente da maioria das pesquisas já existentes realizadas pelas farmacêuticas, os pacientes analisados foram avaliados de forma aleatória, quando esses medicamentos já estavam aprovados e disponíveis nas farmácias.
Pancreatite e os remédios para emagrecer
Publicada na revista científica JAMA, a pesquisa partiu da análise de um banco de dados com informações médicas de 16 milhões de norte-americanos, o que inclui diagnósticos e prescrições médicas da maioria dos pacientes.
Desse montante, foram selecionados quem recebeu remédios semaglutida ou liraglutida, além da medicação naltrexona e bupropiona — outra fórmula prescrita para o emagrecimento, mas com mecanismo de ação diferente, já que não é um agonista do receptor de GLP-1.
Por fim, ficaram os que buscavam o controle do peso por causa da obesidade, e foram descartados pacientes com diabetes ou que tomaram outro tipo de medicamento antidiabético. Depois dessa seleção, restaram 4,1 mil usuários de liraglutida, 613 de semaglutida e 654 e bupropiona e naltrexona.
Todos esses filtros permitiram que os pesquisadores identificassem a intensidade de quatro problemas gastrointestinais graves em pacientes que usavam um dos três remédios para emagrecimento: doença biliar, pancreatite, obstrução intestinal e gastroparesia.
Efeitos adversos da semaglutida e da liraglutida
A seguir, confira o risco de efeitos adversos da semaglutida e da liraglutida em comparação com a medicação naltrexona e bupropiona:
- Pancreatite: o risco é 9,09 vezes maior para a inflamação do pâncreas, que pode causar fortes dores abdominais e, em alguns casos, exigir hospitalização e cirurgia;
- Obstrução intestinal: o risco é 4,22 vezes maior dessa complicação que impede que os alimentos passem pelo intestino delgado ou grosso, resultando em sintomas como cólicas, distensão abdominal, náuseas e vômitos. Em casos raros, pode ser necessária cirurgia;
- Gastroparesia: o risco é 3,67 vezes maior de paralisia estomacal, que limita a passagem dos alimentos do estômago para o intestino delgado e resulta em sintomas como vômitos, náuseas e dores abdominais.
Na comparação entre os efeitos adversos, os pesquisadores não identificaram diferenças significativas na incidência da doença biliar, um conjunto de doenças que afetam a vesícula biliar.
Análises de risco individual
Segundo os autores da pesquisa, as descobertas são importantes para compreender o que está em jogo ao usar essas canetas emagrecedoras. Diante dos riscos, o médico e o paciente precisarão avaliar qual é a necessidade do tratamento.
“Dado o amplo uso desses medicamentos, esses eventos adversos, embora raros, devem ser considerados pelos pacientes que pensam em usá-los para perda de peso”, afirma Mohit Sodhi, o primeiro autor do estudo, em nota.
Para o especialista, “o cálculo de risco será diferente dependendo da necessidade do paciente”. Quando a pessoa estiver usando esses medicamentos para o tratamento do diabetes e da obesidade, o risco parece valer mais.
“As pessoas que são saudáveis podem estar menos dispostas a aceitar estes eventos adversos potencialmente graves” para a perda geral de peso, complementa Sodhi.
Vale lembrar que, nas últimas semanas, a bula do medicamento Ozempic (semaglutida) foi atualizada nos EUA, com o incremento de outro efeito adverso envolvendo a saúde gastrointestinal, um tipo de bloqueio intestinal, o íleo adinâmico.
Fonte: JAMA e University of British Columbia