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Relatório sugere que vírus da covid pode ter vazado de laboratório nos EUA

Por| Editado por Luciana Zaramela | 15 de Setembro de 2022 às 16h09

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Pressmaster/Envato Elements
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Passados dois anos dos primeiros casos do coronavírus SARS-CoV-2, cientistas reacendem debate sobre a origem do agente infeccioso. Entre as hipóteses, está a de que o vírus poderia ter vazado de um laboratório dos Estados Unidos ou da China. Também permanece viável a possibilidade de que teria surgido em um animal selvagem e, posteriormente, infectou os primeiros seres humanos.

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Publicado na revista científica The Lancet, o abrangente e controverso estudo sobre a origem da pandemia foi comandado pela Comissão Covid-19 da própria publicação e reúne mais de 170 pesquisadores do mundo todo.

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Além de discutir possíveis hipóteses da origem do coronavírus, o relatório aponta erros no enfrentamento da pandemia. Por exemplo, faltou coordenação internacional entre países para controlar as transmissões do vírus e muitos governos se mostraram “não confiáveis ​​e ineficazes”.

Os cientistas também criticaram a Organização Mundial da Saúde (OMS), alegando que o órgão “agiu com muita cautela e lentidão” em momentos que pediam urgência. Para contornar esses problemas em uma próxima pandemia, o grupo pede ampliação dos financiamentos direcionados à OMS.

Origem do vírus da covid volta a ser discutida

"A origem do SARS-CoV-2 permanece desconhecida", afirmam os cientistas responsáveis pelo relatório. Para o grupo, existem duas principais hipóteses:

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  • Primeira hipótese: o vírus da covid-19 surgiu a partir de "um transbordamento zoonótico da vida selvagem ou de um animal de fazenda, possivelmente por meio de um mercado [de animais], em um local ainda indeterminado;
  • Segunda hipótese: o vírus surgiu a partir de "um incidente relacionado à pesquisa, durante a coleta de vírus em campo ou por meio de uma fuga associada ao laboratório".

No relatório, os autores frisam que "os comissários tinham opiniões diversas sobre as probabilidades relativas das duas explicações, e ambas as possibilidades requerem mais investigação científica. A identificação da origem do vírus ajudará a prevenir futuras pandemias e fortalecer a confiança do público na ciência e nas autoridades públicas".

Teria o coronavírus surgido em animais silvestres?

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Entre os argumentos que defendem a origem natural do coronavírus, estão "as descobertas de vírus semelhantes ao SARS-CoV-2 em morcegos no leste da Ásia", segundo os cientistas. Esta é a versão mais aceita sobre o surgimento do agente infeccioso.

Aqui, a equipe de pesquisadores lembra que "os perigos de transbordamentos zoonóticos são aumentados por invasões humanas nos habitats de animais que carregam novos patógenos, através do desmatamento, manejo de animais exóticos no comércio ilícito de espécies selvagens, em fazendas que criam animais domésticos e em mercados de alimentos que vendem e abatem animais vivos".

Nos últimos anos, estas atividades foram intensificadas no globo. Diante desses comportamentos de risco — que não estão relacionados apenas à covid-19 —, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta que pelo menos sete estados brasileiros apresentam um alto risco para surtos de zoonoses, o que pode marcar o início de uma próxima pandemia.

Pandemia teria começado após vazamento de laboratório nos EUA?

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Agora, a outra hipótese pode ter como origem "uma liberação do patógeno relacionada à pesquisa ou associada a um laboratório. Tal caminho poderia ter envolvido um pesquisador sendo infectado em campo ou em laboratório com um vírus natural, ou infectado em laboratório com um vírus geneticamente manipulado", afirmam os autores do relatório controverso.

Segundo o grupo de pesquisa, "os avanços na biotecnologia nas últimas duas décadas tornaram possível a criação de patógenos novos e altamente perigosos por meio de manipulação genética — por exemplo, criando vírus quiméricos". Estes combinam o material genético de diferentes vírus e ainda podem ter acrescentados genes extras.

Nessa linha de raciocínio, os autores explicam que os estudos sobre o SARS-CoV — note que este é outro vírus, parente do SARS-CoV-2 —, durante o surto de SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave) nos anos 2000, popularizou a bioengenharia dos coronavírus e os seus respectivos estudos no mundo, incluindo nos EUA ou na China.

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Por que especificamente dos EUA?

Aqui, a discussão não necessariamente gira em torno dos laboratórios de virologia, localizados na cidade de Wuhan, na China. Isso porque laboratórios dos EUA também manipulavam o SARS-CoV, de acordo com informações preliminares.

"Pesquisadores independentes ainda não investigaram os laboratórios dos EUA envolvidos na manipulação laboratorial de vírus do tipo SARS-CoV, nem investigaram os detalhes da pesquisa laboratorial que estava em andamento em Wuhan", afirmam os autores do relatório.

"Além disso, os Institutos Nacionais de Saúde (NIH), dos EUA, resistiram a divulgar detalhes da pesquisa sobre vírus relacionados ao SARS-CoV que vinha apoiando", acrescentam. Segundo o grupo, detalhes só foram compartilhados a partir de ordens judiciais.

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Mais estudos independentes ainda são necessários

Apesar das hipóteses, o consenso dos cientistas envolvidos no relatório da revista The Lancet é de que faltam provas que confirmem qualquer uma das possibilidades. "Nenhuma investigação independente, transparente e baseada na ciência foi realizada sobre a bioengenharia de vírus do tipo SARS que estava em andamento antes do surto de covid-19", pontuam.

"Em resumo, existem muitas origens potenciais do SARS-CoV-2, mas ainda há um déficit de trabalho independente, científico e colaborativo sobre o assunto. A busca pelas origens do vírus requer um trabalho imparcial, independente, transparente e rigoroso de equipes internacionais nas áreas de virologia, epidemiologia, bioinformática e outras áreas afins, e apoiado por todos os governos", completam.

Fonte: The Lancet