Quem já teve COVID-19 precisa tomar a vacina?
Por Fidel Forato | 11 de Dezembro de 2020 às 20h30
Na terça-feira (8), o Reino Unido começou, oficialmente, sua campanha de vacinação contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2), enquanto que a Rússia também iniciou sua campanha com a vacina Sputnik V no último sábado (5). No mesmo caminho, outros países também devem vacinar as primeiras pessoas contra a COVID-19 neste ano, como o Canadá. No Brasil, o Ministério da Saúde planeja vacinar toda a população no próximo ano e apresentou um plano preliminar para isso. Em São Paulo, as primeiras doses podem ser aplicadas ainda em janeiro. No entanto, todos poderão se vacinar, incluindo aqueles que já tiveram a doença?
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Até o momento, muitas questões ainda estão abertas sobre as vacinações. Isso porque o número de doses disponíveis, independente de qual país do mundo, é muito restrito e reduzido, ou seja, estão sendo vacinadas apenas pessoas dos grupos de risco. Além disso, nem todos os países definiram, de forma detalhada, como será a imunização contra a COVID-19, como é o caso do Brasil. De qualquer forma, pessoas que já contraíram o coronavírus poderiam se beneficiar da vacinação.
Vacina e casos da COVID-19
Para entender a questão sobre a vacinação de pessoas que se recuperam da infecção por coronavírus, o Canaltech entrou em contato com o infectologista Leonardo Weissmann, membro da Sociedade Brasileira de Infectologia e médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. "Pelos conhecimentos atuais, acredita-se que mesmo que quem já teve a COVID-19 possa se beneficiar da vacinação", explica Weissmann.
"Sabe-se que, embora pareça incomum, pode ocorrer reinfecção por coronavírus. Além disso, a vacina pode dar uma imunidade mais forte e mais duradoura", completa o infectologista. Nesse sentido, a vacinação contra a COVID-19 seria uma garantia de que o sistema imunológico do paciente estaria equipado para combater, eventualmente, uma nova infecção. Inclusive, nesta semana, o Ministério da Saúde confirmou, oficialmente, o primeiro caso de reinfecção no Brasil, embora outros já tenham sido relatados por médicos no país.
Mesmo que reinfecções da COVID-19 sejam raras, não são impossíveis. Isso porque os níveis naturais de anticorpos diminuem com o tempo e, eventualmente, uma pessoa pode ser infectada mais de uma vez — até por uma outra variante do vírus. Pneumologista e presidente da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia (SPPT), o médico Fred Fernandes também defende a necessidade de imunização de pacientes já contraíram a COVID-19. "Tem evidências de que a imunidade seja duradoura, mas ela não é eterna", comenta.
"Não há informações suficientes, atualmente disponíveis, para dizer se ou por quanto tempo após a infecção alguém está protegido contra a COVID-19 novamente; isso é chamado de imunidade natural. As evidências iniciais sugerem que a imunidade natural da COVID-19 pode não durar muito, mas são necessários mais estudos para melhor compreender isso", explica o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos. No entanto, a entidade só dará um parecer sobre este tipo de vacinação quando houver um imunizante aprovado no país.
Questões abertas sobre a vacinação
"A recomendação geral é tomar a vacina, mesmo que você já tenha sido infectado", pontua David Thomas, professor de medicina e diretor da divisão de doenças infecciosas da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, para a NBC. "Existem algumas questões para as quais não temos a resposta ainda, mas pelo que sabemos agora, é a hora certa para se obter a vacina", explica Thomas.
Ainda existem questões sobre as vacinas e as pessoas que já contraíram a COVID-19, porque a maior parte dos estudos clínicos foi feita com quem ainda não tinha sido contaminado pelo coronavírus. Por exemplo: tanto os testes da farmacêutica Pfizer quanto da Moderna incluíram participantes de origens étnicas diversas e de diferentes idades, mas não, até o momento, os pacientes já recuperados.
Em outras palavras, é possível que a vacina não desencadeie uma resposta imunológica igual a dos outros pacientes, mas ainda é cedo para esse tipo de afirmação. Independente disso, essa vacinação pode ser benéfica.
Apenas os estudos de fase 4 — quando os pesquisadores acompanham os resultados da imunização em milhões de vacinados — devem responder esses pontos. Mesmo com essas questões, até agora, não há evidências de que uma vacina não seja segura para os sobreviventes da COVID-19, mas mais pesquisas são necessárias, explica Sarah Fortune, médica e professora de imunologia e doenças infecciosas da Escola de Saúde Pública de Harvard, para o NBC.
Outro ponto é que as pessoas que já contraíram a COVID-19, talvez, não sejam a prioridade das campanhas de vacinação, porque apresentam alguma imunidade contra o coronavírus. Além disso, neste primeiro momento, o número de doses ainda é bastante reduzido e limitado. No entanto, o Brasil ainda não definiu nada sobre esse tópico nas futuras campanhas de vacinação. A expectativa é essa questão deva ser melhor abordada quando o Ministério da Saúde publicar o planejamento completo de imunização.