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Quem está protegido contra varíola dos macacos no Brasil?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 27 de Maio de 2022 às 09h40

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Brian W.J. Mahy/CDC
Brian W.J. Mahy/CDC

Desde o começo deste mês, casos atípicos da varíola dos macacos (monkeypox) começaram a ser relatados, principalmente na Europa e na América do Norte. O curioso é que algumas pessoas — mais especificamente, aquelas que nasceram antes do ano de 1975 — têm uma proteção contra o atual vírus, porque receberam a vacina contra a varíola humana. Nesses casos, são protegidos por aquilo que a medicina chama de imunidade cruzada.

No momento, são contabilizados cerca de 260 casos da varíola dos macacos fora da África. Apesar do número relativamente pequeno, a questão é encarada como um alerta por diferentes governos e cientistas, que estão receosos com vírus emergentes após a pandemia da covid-19 e suas consequências catastróficas. Até o momento, nenhum óbito foi relatado.

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Para entender sobre a relação entre o atual surto da varíola dos macacos e a vacina da varíola, o Canaltech conversou com a Dra. Ana Freitas Ribeiro, médica sanitarista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas. "As pessoas que foram vacinadas contra a varíola têm uma proteção contra monkeypox. Como os vírus são muito parecidos, da mesma família, as vacinas podem proteger", adianta.

Vacina contra a varíola já foi muito popular

Até hoje, a única doença que a humanidade conseguiu erradicar foi a varíola (smallpox), também conhecida pelas erupções que causa na pele. Para chegar a este ponto, uma bem-sucedida campanha de vacinação contra a doença ocorreu em escala global, liderada perla Organização Mundial da Saúde (OMS).

Oficialmente, a varíola foi declarada erradicada do mundo em 1980, mas antes deste marco a doença não era mais observada em muitos países, como no Brasil. Os últimos casos conhecidos da infecção foram registrados em 1971, na cidade do Rio de Janeiro. Passados dois anos, em 1973, o país foi certificado por eliminar o agente infeccioso.

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Vacinação em massa

Para garantir que o Brasil tivesse, de fato, eliminado a varíola, "a vacinação antivariólica continuou obrigatória na rotina dos serviços de saúde até o ano de 1975", conta o pesquisador Gilberto Hochman, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em artigo disponível no repositório SciELO.

Uma curiosidade desta história é que, entre 1966 e 1971, o Brasil produziu 268 milhões doses de vacina contra a varíola. Além disso, a estrutura desenvolvida para imunizar população brasileira serviu como base para o que seria o Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado ainda em 1975. Por exemplo, é ele que permitiu a vacinação contra a covid-19, em 2021.

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Nos EUA, a campanha de imunização para a população em geral terminou um pouco antes, ainda em 1972. Isso significa que, muito provavelmente, as pessoas que nasceram durante estes anos foram vacinadas contra a varíola. Hoje, estes indivíduos ainda possuem proteção contra o vírus e, muito provavelmente, contra a varíola dos macacos.

Quanto dura a imunidade?

Apesar dos brasileiros com mais de 47 estarem, na maioria dos casos, vacinados contra a varíola, uma questão importante é entender por quanto tempo dura a imunidade. A boa notícia é que ela parece durar anos e anos. Para ser bem específico, a capacidade e de proteção é mantida por pelo menos 75 anos — o tempo máximo que a imunidade chegou a ser acompanhada.

Publicado na revista científica Nature Medicine, um estudo liderado por pesquisadores do Vaccine and Gene Therapy Institute (VGTI), nos EUA, descobriu que "mais de 90% dos voluntários vacinados há 25 ou há 75 anos ainda mantêm imunidade humoral ou celular substancial (ou ambos) contra a vaccinia, o vírus usado para vacinar contra a varíola".

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"Mesmo que [as pessoas] tenham sido vacinados há 50 anos, essa proteção ainda deve estar lá”, comenta o médico Luigi Ferrucci, diretor científico do National Institute on Aging, para o jornal The New York Times.

Vacina protege contra a varíola dos macacos?

É preciso lembrar que o vírus da varíola e o da varíola dos macacos são diferentes, mas semelhantes o suficiente para que a imunização contra um deles se estenda para o outro. Segundo a OMS, o imunizante contra a varíola é capaz de proteger contra o atual surto. "Embora uma vacina tenha sido aprovada para a prevenção da varíola dos macacos, e a vacina tradicional contra varíola também forneça proteção", explica a entidade.

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Como mencionado pela OMS, cientistas desenvolveram uma fórmula que foi aprovada especificamente para a proteção contra a varíola dos macacos, a Jynneos. Segundo a agência Food and Drug Administration (FDA), esta é "uma vacina indicada para a prevenção da doença da varíola e da varíola dos macacos em adultos com idade igual ou superior a 18 anos, com alto risco de infecção por varíola ou varíola dos macacos".

Vale comentar que, no momento, nem a vacina tradicional e nem o imunizante Jynneos estão disponíveis para a imunização da população em geral. Com os recentes casos, alguns países estudam liberar o uso de doses para grupos de risco, como contatos próximos de pacientes diagnosticados. Estes são os casos dos EUA, da França e do Reino Unido.

Varíola dos macacos coloca todos em risco?

Apesar de algumas pessoas estarem imunizadas, esta não é a realidade para a imensa maioria da população global. No entanto, especialistas não consideram que a varíola dos macacos seja um grave problema para a saúde pública, principalmente para pessoas saudáveis. “São doenças distintas, a monkeypox é menos grave que a varíola e tem uma letalidade menor", comenta a especialista Ribeiro.

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Afinal, a varíola era considerada uma doença realmente mortal, já que três a cada 10 infectados morriam em decorrência da infecção. No entanto, a situação muda de figura com a monkeypox. São conhecidos dois diferentes grupos genéticos (clados): o da África Ocidental, com uma taxa de mortalidade estimada em 1%; e o da Bacia do Congo, que pode chegar a 10%.

Quem corre maior risco?

Ainda existe um adendo importante, segundo Ribeiro, os óbitos tendem a ser maiores em países onde o sistema de saúde público não é bem estabelecido e o atendimento adequado pode não acontecer. Outros fatores também impactam a capacidade do corpo resistir ao vírus.

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Dessa forma, em caso de uma potencial pandemia — algo que não é considerado no momento —, estarão em maior risco: crianças, idosos e aqueles que são imunossuprimidos, independente dos motivos. “A letalidade vai ser maior em pessoas desnutridas, como crianças, ou em quem já tem outras doenças", acrescenta a sanitarista.

Fonte: Com informações: OMS, FDAScieloNature Medicine e NYT