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Por que a vacinação é tão importante para controlar novas cepas do coronavírus?

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Dante Doria/ Pixabay
Dante Doria/ Pixabay

Desde o final do ano passado, a descoberta de novas variantes do coronavírus SARS-CoV-2 — como a do Reino Unido, a da África do Sul e, mais recentemente, a de Manaus — gerou inúmeras pesquisas e alertas sobre os possíveis impactos de mutações no vírus da COVID-19, mesmo que nem sempre preocupantes. No entanto, é consenso que uma das melhores medidas para impedir as novas cepas é a vacinação em massa.

Mesmo que as atuais vacinas contra a COVID-19 tenham sido desenvolvidas a partir do coronavírus original — antes do surgimento das variantes —, ainda são a melhor forma de controlar a pandemia e impedir novas mutações potencialmente perigosas. Para entender essa questão, o Canaltech conversou o Dr. Josélio de Araújo, microbiologista e professor de virologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

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Brasil e as mutações do coronavírus

Antes de entender a função das vacinas para controlar a COVID-19, vale explicar o que representa uma mutação do coronavírus. “As mutações fazem parte do processo natural de evolução viral. Organismos, microorganismos e vírus estão em constante mutação. No caso dos vírus, essas mutações ocorrem dentro das células, durante o processo de replicação", explica Araújo. No entanto, as mudanças no código genético não são, obrigatoriamente, positivas, ou seja, podem ser desvantajosas para a perpetuação do agente infeccioso.

“O vírus se espalha com a movimentação de pessoas", lembra o professor sobre a situação brasileira, marcada pelo "afrouxamento das medidas de quarentena e isolamento". "Como ainda temos muitos indivíduos que ainda não tomaram a vacina da COVID-19 ou se contaminaram, o coronavírus continua evoluindo muito rapidamente", explica. Em outras palavras, novas variantes podem se formar no país, já que este é um ambiente ideal para as mutações.

Além da potencial formação, o cenário brasileiro favorece a disseminação dessas mutações virais, inclusive, de cepas ainda não rastreadas pelos pesquisadores. Nesse sentido, algumas variantes nacionais, como a de Manaus (linhagem conhecida como P.1) e a do Rio de Janeiro (identificada como P.2), já foram identificadas em outros estados e, até mesmo, países.

Por que a vacinação é importante agora?

“As vacinas que temos atualmente foram desenvolvidas com base no coronavírus descoberto no início do ano passado", afirma o professor de virologia. No entanto, isso não representa o fim da eficácia delas contra a COVID-19. “Apesar das novas variantes, a vacina atual é importante, porque a linhagem anterior [o coronavírus original] continua circulando e com prevalência significativa", explica.

“Essas diferenças [entre as cepas] são genéticas, e não antigênicas [relacionadas aos anticorpos]. Na prática, o processo de vacinação contra essa variante ancestral vai proteger para dezenas e centenas de variantes. O processo [de vacinação contra a COVID-19] deve ser continuado. Os Institutos, tanto a Fiocruz quanto o Butantan, têm trabalhado intensamente para aumentar a produção e aquisição dessas vacinas", comenta Araújo.

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No momento, "precisamos focar na vacinação para proteger as pessoas e reduzir a circulação do coronavírus e suas várias variantes", aponta. Nesse sentido, 5,3 milhões de brasileiros já receberam pelo menos uma dose da fórmula contra o coronavírus, segundo dados levantados pela plataforma Our World in Data. "Com o tempo, naturalmente, vamos aprimorar as vacinas. Se for necessário, com base nos estudos futuros, desenvolveremos reforços", comenta Araújo sobre os desafios da pandemia.

Vacinação contra COVID-19 nos EUA

De forma semelhante, a principal autoridade em saúde na crise da COVID-19 nos EUA, o Dr. Anthony Fauci, defende a vacinação em massa para o controle do coronavírus localmente, independente das variantes que estão surgindo. "Você deve se vacinar o mais rápido, quando [o imunizante] estiver disponível", afirmou o infectologista, nos últimos dias, durante uma coletiva de imprensa na Casa Branca. Defendendo a necessidade da vacinação contra a COVID-19, Fauci explicou que "os vírus não podem sofrer mutação se não se replicarem. E se você interromper sua replicação, vacinando amplamente, e não dando ao vírus um campo aberto... Você não terá mutações".

Além disso, o infectologista alertou para o risco de reinfecção nos indivíduos que já se contaminaram e, por isso, desconsideram a imunização, citando o exemplo da variante identificada na África do Sul. "Se [uma nova cepa] se tornar dominante, a experiência de nossos colegas na África do Sul indica que mesmo que você tenha sido infectado com o vírus original, há uma taxa muito alta de reinfecção a ponto de a infecção anterior não parecer protegê-lo contra a reinfecção", comentou Fauci.

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Outro argumento levantado por Fauci é a importância das vacinas contra a COVID-19 para prevenir contra as formas graves e, potencialmente, fatais da infecção. "Embora haja uma proteção diminuída contra as [novas] variantes, há proteção suficiente para evitar que você contraia formas graves, incluindo a necessidade de hospitalização e mortes", completou o infectologista.

Proteção: máscaras e álcool em gel

Em outras palavras, as vacinas ainda têm efeito protetor contra a COVID-19 e a vacinação em massa deve reduzir o contágio e, consequentemente, diminuirá o aparecimento de outras variantes, derivadas daquelas que já foram identificadas pelo globo. Afinal, as mutações vão se acumulando e, mesmo que não sejam necessariamente positivas para o agente infeccioso, eventualmente podem ser e, dessa forma, causar mais problemas.

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Enquanto a imunização avança de forma lenta, é importante frisar que outras medidas seguem fundamentais para a proteção contra o coronavírus, como: manter o distanciamento social; evitar ambientes sem circulação de ar; não aglomerar; adotar o uso de máscaras; e limpar as mãos com frequência com álcool em gel ou, melhor ainda, lavá-las com água e sabonete. Até o momento, estas são as principais formas de conter a transmissão do coronavírus.

Em casos hipotéticos, onde as vacinas percam sua capacidade de proteção contra o coronavírus, cientistas de diferentes laboratórios já trabalham na pesquisa de doses de reforço, ou seja, uma terceira dose da vacina que imunizaria contra a nova mutação, de forma similar como acontece com a vacina da gripe, no Brasil. Nesse sentido, a Pfizer e a BioNTech já anunciaram, por exemplo, que seria possível adaptar as fórmulas contra as novas mutações, e de forma rápida.

Fonte: Com informações: CNN