Pílula para "preguiçosos" promete simular os efeitos da atividade física
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela | •

Nos Estados Unidos, cientistas da Universidade de Washington e da Universidade da Flórida desenvolvem uma pílula capaz de simular no organismo os efeitos da atividade física, o SLU-PP-332. Nos experimentos com roedores, o medicamento conseguiu gerar alguns dos processos químicos associados aos exercícios, mas ainda falta muito para chegar até as farmácias.
- Atividade física é mais importante para uma vida longa que a genética
- Estudo indica tempo diário mínimo de atividade física para manter a saúde
Os norte-americanos não estão sozinhos na corrida por uma pílula que imita os efeitos da atividade física no corpo. No Japão, pesquisadores da Universidade Médica e Odontológica de Tóquio (Tmdu) têm obtido resultados bastante positivos nos testes.
Por que uma pílula que simula atividade física?
A pílula que gera os mesmos efeitos da atividade física seria o sonho de qualquer preguiçoso e de quem tem “alergia” à academia de musculação, mas este grupo está longe de ser o alvo dessas novas pesquisas.
“Não podemos substituir o exercício. O exercício é importante em todos os níveis”, afirma Bahaa Elgendy, pesquisador da Universidade de Washington e um dos autores do estudo, em nota.
“Se posso me exercitar, devo ir em frente e fazer atividade física [de forma convencional]. Mas há muitos casos em que é necessário um substituto”, explica Elgendy sobre o verdadeiro objetivo do projeto.
Quem vai se beneficiar de verdade do medicamento?
A ideia é que essas pílulas ajudem as pessoas que não podem se exercitar de forma adequada a manter os músculos e, consequentemente, a saúde ao longo da vida. Dessa forma, o medicamento é destinado para idosos, pacientes com câncer, indivíduos com doenças genéticas, além de quadros de insuficiência cardíaca grave e doenças neurodegenerativas.
Para essas pessoas, conseguir manter o condicionamento físico, a resistência e a força muscular faz uma enorme diferença quando se pensa em qualidade de vida. Afinal, isso garante a autonomia, mesmo que a resposta do corpo à pílula nunca chegue a ser 100% idêntica a de um treino de musculação.
Como funciona a pílula do exercício físico?
Para desenvolver o medicamento, os pesquisadores norte-americanos investigaram quais alterações metabólicas associadas ao exercício ativam um grupo de proteínas especializadas, conhecidas como receptores relacionados ao estrogênio (ERRs), que são chave no ganho de massa.
No total, são conhecidos três desses receptores (ERRα, ERRβ e ERRγ), sendo que cada um exerce uma função específica. Por exemplo, o ERRα aumenta um tipo de fibra muscular resistente à fadiga, o que implica num ganho generalizado de resistência para todo o corpo.
Segundo os testes pré-clínicos, a pílula SLU-PP-332 é capaz de ativar os três receptores e, por isso, o seu uso consegue simular parcialmente os efeitos da atividade física no organismo de roedores. Inclusive, esses achados foram descritos anteriormente numa revista científica.
Agora, a equipe busca otimizar essa molécula, tornando ela mais estável e reduzindo ainda mais o nível de toxicidade, enquanto avaliam formas de potencializar os resultados envolvendo o ganho de massa muscular.
Para isso, são necessários mais testes em animais, os quais devem ser feitos em parceria com a startup Pelagos Pharmaceuticals — ela foi fundada pelos próprios pesquisadores.
Os novos achados da pílula que simula os exercícios físicos e os próximos passos da pesquisa foram apresentados no congresso ACS Spring 2024, organizado pela American Chemical Society, nos EUA.
Fonte: ACS