Pessoas que nascem sem olfato respiram diferente, revela estudo
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |

O olfato é um dos cinco sentidos humanos e, por mais que seja quase inato, estamos sempre cheirando e analisando os aromas ao nosso redor. No entanto, esse mecanismo comum está ausente em pessoas que nasceram com anosmia congênita. Elas não sentem os cheiros desde o nascimento e, agora, sabemos que respiram de modo diferente.
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Para descobrir como as pessoas que nascem sem olfato respiram diferente, os pesquisadores do Instituto Weizmann de Ciência (Israel) utilizaram um algoritmo de aprendizado de máquina (machine learning) em busca de novos padrões respiratórios, comparando os marcadores entre quem sente ou não cheiros. A ferramenta permite a classificação da anosmia com 83% de precisão, segundo os autores.
O estudo recém-publicado na revista Nature Communications não analisou grupos de pacientes que perderam temporariamente o olfato, como indivíduos que contraem covid-19. Outras doenças também podem afetar a capacidade de sentir cheiros e odores.
Mudanças na forma de respirar
"Ao perder o olfato, os humanos podem perder mais do que apenas a percepção do odor. Os humanos usam o nariz para duas tarefas, cheirar e respirar, e essas duas tarefas são interconectadas, ou seja, o cheiro afeta a respiração", afirmam os pesquisadores israelenses. Inclusive, foi esta hipótese que inspirou o estudo.
A equipe recrutou 21 pessoas com anosmia congênita e outras 31 que não apresentavam nenhuma alteração no olfato. Com a ajuda de um dispositivo vestível, o fluxo de ar nasal e os padrões respiratórios foram medidos durante 24 horas e, posteriormente, analisados por algoritmos.
Todos os participantes respiravam, em média, na mesma quantidade de ar. No entanto, os padrões eram diferentes. Segundo os autores, as pessoas com olfato funcional tinham pequenos picos de inalação a cada respiração (como se fosse uma “fungada” suave), totalizando cerca de 240 picos de inalação a mais por hora. Muito possivelmente, isso é uma resposta aos cheiros do ambiente, já que os picos caem em locais com odores controlados.
A seguir, veja a diferença nos padrões respiratórias de pessoas com anosmia (imagem C) e de pessoas sem nenhuma alteração no olfato (imagem D), com os picos respiratórios circulados em vermelho:
Problemas da anosmia
Além da incapacidade de sentir cheiros e das mudanças no padrão de respiração, os pesquisadores afirmam que a incidência de alguns problemas é maior em quem tem anosmia, como depressão, isolamento social e dificuldade de expressar as emoções. Inclusive, a expectativa de vida pode ser afetada.
"Consequências adicionais incluem complicações alimentares, problemas sociais e perda de sinais importantes de perigo, particularmente fumaça", completam os autores.
Até o momento, o grupo de pesquisa não sabe se as alterações na forma como pessoas com anosmia respiram exerce algum impacto nos problemas de saúde apontados. O experimento foi muito pequeno para maiores conclusões, mas já comprova os padrões divergentes.