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Perda de olfato: entenda como a COVID-19 afeta a capacidade de sentir cheiros

Por| 28 de Julho de 2020 às 20h45

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Reprodução: Freepik
Reprodução: Freepik

A perda temporária do olfato, também conhecida como anosmia, é o principal sintoma neurológico e um dos primeiros e mais comuns entre os indicadores da COVID-19. Agora, um novo estudo, realizado nos Estados Unidos, sugere que esse sintoma pode ser melhor indicador para infecções do novo coronavírus (SARS-CoV-2) do que outros mais conhecidos, como a febre e a tosse. Além disso, a pesquisa se aprofundou em como os pacientes perdem a capacidade de sentir cheiros.

Afinal, a maioria dos pacientes da COVID-19 apresenta algum nível de perda de olfato, ainda que de forma temporária. Em análises de prontuários eletrônicos, dados preliminares apontam que pacientes infectados pelo coronavírus têm 27 vezes mais chances de perderem olfato. Por outro lado, há apenas 2,2 a 2,6 vezes mais de apresentarem febre, tosse ou dificuldades respiratórias, em comparação a pessoas saudáveis.

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Liderada por neurocientistas da Harvard Medical School (HMS), nos EUA, uma equipe internacional de pesquisadores identificou quais eram os tipos de células olfativas mais vulneráveis ​​à infecção pelo novo coronavírus. Surpreendentemente, os neurônios sensoriais - as células que detectam e transmitem o olfato ao cérebro - não estão entre as mais vulneráveis. Essa descoberta pode afetar, diretamente, como a ciência entende a COVID-19.

Por dentro da pesquisa

Conforme o artigo publicado na revista científica Science Advances, os pesquisadores descobriram que os neurônios sensoriais olfativos não expressam o gene (ACE2) que codifica a proteína spike do novo coronavírus, que é a chave para a infecção da COVID-19 em células humanas. Ou seja, esses neurônios, diferente do que os cientistas acreditavam, são mais resistentes ao vírus, porque não se conectam, de forma tão direta, a eles.

É como se a chave - que o coronavírus usa para "abrir" as células - não conseguisse entrar nesse tipo específico, por incompatibilidades genéticas. Pelo menos foi isso que os pesquisadores norte-americanos descobriram com o sequenciamento genômico de células de camundongos e primatas, além de células da mucosa olfativa humana.

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Por outro lado, a pesquisa descobriu que o gene que codifica a proteína spike é expresso em células que fornecem suporte metabólico e estrutural a neurônios sensoriais olfativos, além de determinados tipos de células-tronco e células dos vasos sanguíneos. Isso significa que a COVID-19 não afeta, diretamente, os neurônios, mas o seu entorno.

A partir da descoberta, os pesquisadores sugerem, agora, que é a infecção dessas outras células (que não são as neuronais) que gera a perda de olfato em pacientes da COVID-19. "Nossas descobertas indicam que o novo coronavírus altera o sentido do olfato nos pacientes, não infectando diretamente os neurônios, mas afetando a função das células de suporte", explica o autor do estudo Sandeep Robert Datta e professor associado de neurobiologia da HMS.

Perde de olfato temporária

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O lado bom desse novo entendimento é que, na maioria dos casos, é improvável que a infecção pelo novo coronavírus danifique, de forma permanente, os circuitos neurais. Caso isso acontecesse, o paciente poderia apresentar uma perda de olfato persistente, ou seja, ele permaneceria após a recuperação da COVID-19, sem a capacidade de sentir cheiros.

"Penso que é uma boa notícia, porque uma vez que a infecção desaparece, os neurônios olfativos parecem não precisar ser substituídos ou reconstruídos do zero", comenta Datta sobre os resultados da pesquisa. Normalmente, essa condição persistente está associada ao surgimento de problemas de saúde mental e social em pacientes, como a depressão e a ansiedade.

"Anosmia parece um fenômeno interessante, mas pode ser devastador para a pequena fração de pessoas em que é persistente", explica Datta. "Pode ter sérias consequências psicológicas e pode ser um grande problema de saúde pública se tivermos uma população crescente com perda permanente de olfato", comenta sobre o desafio que esse quadro pode se tornar, caso novas evidências apontem para outra direção.

Mais investigações

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"Mas precisamos de mais dados e uma melhor compreensão dos mecanismos subjacentes para confirmar esta conclusão", pontua o professor da HMS. Em paralelo, outros estudos ainda sugerem que a anosmia da COVID-19 se difere da causada por outras infecções virais, o que pode ligar essas duas linhas de análises.

Isso porque pacientes com COVID-19 recuperam o olfato, em média, no intervalo de semanas, o que é muito mais rápido do que os meses que podem levar a recuperação da perda de olfato causada por outros tipos de vírus. Os casos mais graves e de recuperação mais lenta de anosmia estão, diretamente, ligados a danos nos neurônios sensoriais olfativos, o que não acontece a partir do novo coronavírus.

Além disso, essa descoberta pode apontar para problemas neurológicos menos graves associadas ao novo coronavírus. Para além do olfato, uma hipótese possível é de que esse vírus não possa infectar tanto ou de forma muito brusca os neurônios. Mesmo que isso não impeça alterações na função cerebral, afetando as células vasculares no sistema nervoso, elas podem ser menos duradouras. É, por esse caminho, que as investigações devem seguir.

Fonte: ScienceDaily