Paracetamol pode induzir a comportamento de risco; entenda
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Um dos analgésicos mais comuns do mundo, usado principalmente contra dores de cabeça, pode afetar a percepção de risco — e nos fazer tomar decisões mais arriscadas sob efeito do remédio. O medicamento em questão é o acetaminofeno, também conhecido como paracetamol, e vendido sob diversos nomes de fantasia.
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Em estudo realizado por cientistas das Universidades Estadual de Ohio e do Oregon, foram testados os efeitos comportamentais do acetaminofeno, como a redução de emoções negativas ao contemplar atividades arriscadas. Outras pesquisas já apontaram efeitos psicológicos da droga, como a diminuição da receptividade a mágoas sentimentais, da empatia e até das funções cognitivas.
Paracetamol e risco
Para descobrir mais sobre os efeitos do remédio, experimentos foram feitos com mais de 500 estudantes universitários, que consumiram 1 g de acetaminofeno, dose máxima recomendada para adultos, dividindo metade para comparação, sendo um grupo placebo (ou seja, sem tomar o medicamento, mas pensando que tomou).
No teste, os participantes deviam inflar um balão virtual, onde cada clique enchia um pouco mais, e cada uma das infladas rendia dinheiro imaginário. A meta era fazer a maior quantidade possível de dinheiro — caso o balão estourasse, todo o dinheiro seria perdido.
Quem tomou paracetamol teve um comportamento mais arriscado, enchendo mais os balões, e também os estourando mais do que o grupo placebo, este mais cauteloso.
Uma pesquisa escrita também foi feita, onde os voluntários davam notas de nível de risco percebido em diversos cenários, como apostar um dia de salário em um jogo esportivo, pular de bungee jumping ou dirigir sem cinto de segurança. Um dos questionários mostrou uma redução na percepção de risco nos que tomaram o medicamento, enquanto um segundo não teve o mesmo efeito percebido nos resultados.
Os cientistas lembram que o experimento não reflete, necessariamente, o comportamento de quem consome acetaminofeno na vida real, enfrentando situações no cotidiano, mas pode indicar uma relação entre a percepção de risco mesmo assim. Alguns processos psicológicos, afirmam eles, podem explicar o comportamento.
É possível, por exemplo, que a redução de ansiedade que o remédio traz seja a principal responsável pela diferença: o grupo placebo, que acumula maior ansiedade, pode preferir não inflar mais o balão e garantir o dinheiro, mesmo que em menor quantidade, com base nisso.
Será necessário investigar o mecanismo biológico responsável pelos efeitos da droga nos usuários no futuro, bem como realizar mais testes para confirmar a relação entre seu uso e a mudança no comportamento humano.
Fonte: Social Cognitive and Affective Neuroscience 1, 2, Ohio State News