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Paracetamol aumenta chance de tomar decisões arriscadas, segundo estudo

Por| Editado por Luciana Zaramela | 24 de Novembro de 2021 às 16h20

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Danilo Alves/Unsplash
Danilo Alves/Unsplash

Ficar com dor de cabeça é uma situação incômoda e às vezes, requer medicamento. Quase sempre um analgésico de venda livre (que não requer receita médica) resolve o problema — mas gera outro. Em um estudo publicado na revista Social Cognitive and Affective Neuroscience, pesquisadores da Universidade Estadual de Ohio relataram que o paracetamol, droga utilizada nessas ocasiões, aumenta a assunção de riscos.

De acordo com o neurocientista Baldwin Way, o medicamento parece fazer as pessoas sentirem menos emoções negativas quando consideram atividades arriscadas. “Elas simplesmente não se sentem tão assustadas”, disse.

As descobertas somam-se a outra pesquisa que avaliou os efeitos do paracetamol na redução da dor, também acompanhada de vários processos psicológicos — como a redução da receptividade das pessoas em relação aos sentimentos, empatia reduzida e funções cognitivas alteradas. Ambos estudos sugerem que a capacidade afetiva das pessoas de perceber e avaliar os riscos pode ser prejudicada quando elas tomam paracetamol.

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Testes do estudo

A equipe de Way mediu, em diversos experimentos envolvendo mais de 500 estudantes universitários, como uma única dose de 1.000 mg de paracetamol (dosagem única máxima recomendada para adultos) teve impacto no comportamento de risco dos voluntários, em comparação com placebos dados aleatoriamente para um grupo controle.

Os testes envolveram uma atividade de bombear um balão não inflado na tela do computador e com cada bomba ganhando uma recompensa em dinheiro imaginário. Nas instruções, os participantes tinham que alcançar o maior valor possível fazendo movimentos de encher balão — a ressalva era não não estourar a bexiga, caso contrário, eles perderiam o dinheiro.

A atividade de motivação-benefício mostrou que os pacientes que tomaram paracetamol assumiram significativamente mais riscos durante o exercício, em relação ao grupo de placebo, que se mostrou mais cuidadoso. No final, aqueles que tomaram paracetamol bombearam (e estouraram) seus balões mais do que a equipe de controle.

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Em outra simulação, os universitários preencheram pesquisas durante dois dos experimentos. Elas avaliavam o grau de risco percebido em situações hipotéticas, como apostar a renda de um dia em um evento esportivo, bungee jumping de uma ponte alta ou dirigir um carro sem cinto de segurança.

Ainda que em alguns dos experimentos tenha havido oscilação nos resultados, a conclusão da equipe é de que há uma relação significativa entre tomar paracetamol e escolher mais risco, mesmo que o efeito observado possa ser leve.


Uso do paracetamol

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O paracetamol, o ingrediente ativo do Tylenol ®, está presente também em quase 600 outros medicamentos e é tomado a cada semana por mais de 20% da população adulta dos Estados Unidos. A droga é considerada pela Organização Mundial da Saúde como remédio essencial e tem sido usada nos sintomas leves da Covid-19.

Inclusive, a Anvisa alerta para os riscos do uso indiscriminado do remédio, que vão além dos efeitos psicológicos e cognitivos: se passado da dosagem máxima indicada por dia, o remédio pode levar a eventos adversos graves, incluindo hepatite medicamentosa e morte.

O medicamento age na redução da dor e da febre, porém, se estende a processos psicológicos. Way disse que "com quase 25 por cento da população dos EUA tomando paracetamol todas as semanas, a percepção de risco reduzida e o aumento da assunção de riscos podem ter efeitos importantes na sociedade."

A equipe que conduziu o estudo acredita que explorar essas explicações psicológicas para a tomada de risco — bem como investigar os mecanismos biológicos responsáveis ​​pelos efeitos do paracetamol nas escolhas das pessoas — deve ser abordado em pesquisas futuras.

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Fonte: Social Cognitive and Affective Neuroscience; Ohio State News; Anvisa