Pão de forma contém álcool e não escapa do bafômetro, diz pesquisa
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Cuidado ao consumir o que parece um inofensivo pão de forma no café da manhã, já que alguns pães disponíveis no mercado brasileiro têm elevado teor alcoólico e, possivelmente, podem causar problemas no teste do bafômetro. É o que revela a mais recente pesquisa da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste).
Durante o levantamento, os pesquisadores analisaram 10 marcas de pães de forma, como Visconti, Bauducco e Wickbold 5 Zeros, em relação à presença de álcool nos produtos alimentícios.
"As análises constataram que 60% dos produtos de alta representatividade nas gôndolas do supermercado seriam considerados alcoólicos caso houvesse uma legislação similar para essa categoria", afirma a Proteste, em nota sobre a pesquisa. No entanto, os resultados são questionados pela Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães & Bolos Industrializados (Abimapi).
Presença de álcool no pão de forma
Durante a análise da Proteste, os pesquisadores analisaram as 10 seguintes marcas de pães de forma:
- Visconti;
- Bauducco;
- Wickbold 5 Zeros;
- Wickbold Sem Glúten;
- Wickbold Leve;
- Panco;
- Seven Boys;
- Wickbold;
- Plusvita;
- Pullman.
Se fosse considerada a legislação brasileira para as bebidas, que determina um teor máximo de etanol de 0,5% para uma bebida não alcoólica, apenas quatro marcas de pão de forma receberiam esta licença. As outras seis seriam reprovadas.
A seguir, cofnira os resultados da análise na tabela a seguir:
Segundo o relatório, apenas os pães das marcas Pullman e Plusvita foram aprovados em todas as avaliações realizadas — isso significa que não se enquadram, simultaneamente, nos parâmetros para definir bebidas alcoólicas (1), parâmetros do teste do bafômetro (2) e parâmetros dos fitoterápicos (3).
Por que tem álcool no pão de forma?
Durante a fabricação do pão, ocorre a fermentação. Nesta etapa, os açúcares da massa são transformados em álcool etílico e gases. Entretanto, esse álcool evapora quando os pães vão para o forno e, assim, não causam nenhum inconveniente.
Aparentemente, o álcool encontrado pelo levantamento está associado aos conservantes usados para evitar o mofo e aumentar a validade do produto. Em alguns casos, pode ocorrer um uso exagerado, o que resulta em teores elevados de etanol no produto final.
“Embora a legislação brasileira permita o uso de algumas substâncias nos alimentos, é necessário que algumas normas sejam revistas para assegurar que o etanol residual não cause problemas aos consumidores”, sugere Henrique Lian, diretor executivo da Proteste/Euroconsumers-Brasil. Hoje, não há uma legislação específica.
Risco na hora do bafômetro?
“É possível supor que consumir apenas duas fatias das amostras analisadas das marcas Visconti, Bauducco e Wickbold 5 zeros, poderia resultar em uma leitura positiva no bafômetro. Uma vez que, de acordo com índices do Detran, a quantidade segura de álcool no organismo seria abaixo de 3,3 g”, afirma o relatório.
Não há percentual máximo de álcool
Para a Proteste, a existência de álcool em alimentos considerados não alcoólicos, sem nenhuma identificação para o consumidor, é considerado grave. Em especial, grávidas, lactantes e crianças deveriam ser informadas sobre a presença desse componente inusitado no pão de forma.
Com isso em mente, os resultados da pesquisa foram enviados para Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A ideia da associação é que seja definido um percentual máximo de álcool para esses alimentos, o que não há no momento. Em paralelo, a associação criou a campanha "Se tem Álcool, todo mundo tem direito de saber".
Reposta das empresas
Após receber o estudo, o Canaltech procurou as empresas citadas no relatório sobre os pães de forma e, conforme recebe os posicionamentos das fabricantes, irá atualizar a matéria.
Grupo Wickbold
Confira o posicionamento do Grupo Wickbold:
O Grupo Wickbold, que detém a marca de mesmo nome e a Seven Boys, reforça que todas as receitas de produtos, assim como todas as áreas da empresa, seguem protocolos de segurança e qualidade, com o mais alto teor de controle, bem como cumpre toda a legislação vigente, dentro dos parâmetros impostos pelas normas estabelecidas. Como a fabricante não foi notificada sobre o referido estudo e a metodologia utilizada, não é possível qualquer manifestação sobre ele. Contudo, após ter acesso ao mesmo e a metodologia empregada, poderá prestar os esclarecimentos que se fizerem necessários, confirmando o legado de ética, transparência e respeito às pessoas que mantém há 86 anos.
Pandurata Alimentos
Veja o posicionamento da Pandurata Alimentos:
A Pandurata Alimentos, responsável pela fabricação dos produtos Bauducco e Visconti, esclarece que adota rigorosos padrões de segurança alimentar em todo seu processo produtivo e na cadeia de fornecimento. A empresa possui a certificação BRCGS (British Retail Consortium Global Standard), reconhecida como referência global em boas práticas na indústria alimentícia, e segue toda a legislação e regulamentações vigentes. Priorizando a qualidade de seus produtos, a Pandurata respeita as Normas de Boas Práticas de Fabricação e destaca que seus cuidados começam com uma criteriosa seleção de fornecedores se estendendo por todas as etapas de produção.
Grupo Bimbo
Entenda o posicionamento do Grupo Bimbo, aprovado nos testes:
O Grupo Bimbo, detentor das marcas de pães Pullman e Plusvita no Brasil, esclarece e garante que não faz uso de álcool para conservação de suas receitas. A companhia reforça que segue comprometida com boas práticas de fabricação e há anos é pioneira na utilização de pasteurização que mantém a qualidade nutricional e segurança do alimento para todos os seus consumidores.