OMS | Superbactérias crescem enquanto falta inovação nos antibióticos
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
A Organização Mundial da Saúde (OMS) está monitorando o número de pesquisas pré-clínicas ou em testes com humanos envolvendo novos antibióticos. As conclusões ainda são parciais, mas os resultados alertam para os desafios que serão enfrentados pela humanidade: falta de inovação e a crescente resistência antimicrobiana — esta já é uma das principais causas de morte no globo.
- Resistência a antibióticos está aumentando e a culpa é da pandemia da covid
- Resistência antimicrobiana já está entre as principais causas de morte no mundo
“Nos cinco anos abrangidos por este relatório [que vai de 2017 até 2021], tivemos apenas 12 antibióticos aprovados, com apenas um deles, o Cefiderocol, capaz de atingir todos os patógenos considerados críticos pela OMS”, afirma Valeria Gigante, cientista e líder da equipe responsável pela iniciativa, em comunicado. Entre as bactérias de maior risco, estão a Acinetobacter baumannii e a Pseudomonas aeruginosa.
Para além dos dados do passado, o futuro imediato não é promissor no desenvolvimento de novos antibióticos. “São apenas 27 em desenvolvimento, hoje, em ensaios clínicos de Fases 1 a 3, com pouca inovação. Apenas quatro dos 27 têm novos mecanismos de ação, e a maioria não são novas classes de medicamentos, mas evolução de classes existentes”, acrescenta a cientista.
Esta revisão completa sobre a pesquisa na área dos antibióticos será apresentada, pela primeira vez, durante o Congresso Europeu de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas (Eccmid), que irá acontecer na Dinamarca, entre os dias 15 e 18 de abril.
Superbactérias e o uso indevido de antibióticos
Aqui, é importante destacar que as superbactérias — os agentes infecciosos não podem ser eliminados com os medicamentos comuns — já são um problema real para a saúde pública. Por ano, quase 5 milhões de mortes estão relacionadas com a resistência antimicrobiana (RAM) e a tendência é de que este número continue a subir.
Nos últimos anos, a questão foi piorada pela pandemia da covid-19 e a prescrição descontrolada dessa classe de medicamentos que, por definição, combate bactérias no controle do coronavírus SARS-CoV-2. Em relatório de 2021, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) alertou para o fato de que a detecção de bactérias resistentes a antibióticos triplicou no Brasil, durante aquele período. Sem medicamentos disponíveis, muitos pacientes vão ao óbitos nestas condições.
Por que novos antibióticos não são desenvolvidos?
Se existem tantas questões envolvidas, a pergunta é: por que não investimos, como sociedade, no desenvolvimento de novos antibióticos? Entre os fatores envolvidos, a pesquisa é cara e não traz o mesmo retorno financeiro que outras classes de remédios, como medicamentos para câncer e para o coração — que são de uso contínuo ou prolongado. Passados sete ou 10 dias de uma infecção bacteriana, o uso do antibiótico é finalizado (terapia de curto prazo).
Como reflexo dessas dificuldades e da falta de estímulo, a última nova classe de antibióticos foi descoberta na década de 1980. Enquanto isso, o primeiro antibiótico dessa classe, a daptomicina, chegou ao mercado em 2003. Desde então, nenhuma inovação com a mesma magnitude foi alcançada na área farmacêutica.
Fonte: OMS e EurekAlert