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O que são armas biológicas?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 11 de Março de 2022 às 17h22

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SKunevski/Envato Elements
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Desenvolvidas a partir de diferentes tipos de microrganismos, armas biológicas representam um perigo invisível aos olhos, já que nenhum exército ou civil pode enxergar um vírus (geneticamente modificado ou não) se aproximando. Mais discreto que tanques de guerra e drones, este tipo de munição pode ser fatal para soldados e civis. Potencialmente, pode destruir criações de animais, florestas e plantações.

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), "armas biológicas são microorganismos como vírus, bactérias, fungos ou outras toxinas que são produzidas e liberadas deliberadamente para causar doenças e morte em humanos, animais ou plantas". Nos últimos anos, o risco de um ataque bioterrorista cresceu consideravelmente, segundo a organização.

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Vale explicar que as armas biológicas são parte de um conjunto maior conhecido como armas de destruição em massa. Nesta categoria, entram também as armas químicas, nucleares e radiológicas.

Quais agentes infecciosos são usados?

Alguns agentes biológicos — como bactérias — podem representar um grande desafio para a saúde pública local, além de desencadear uma onda de mortes em um curto período e de difícil contenção, já que, pelo menos no início, não se sabe qual é o agente infeccioso e nem se os casos foram desencadeados por uma arma biológica.

Quando se descobre o agente infeccioso, muito provavelmente ele já fora transmitido de pessoa para pessoa e incontáveis membros de uma população já estão infectados. Em alguns casos, a doença pode levar dias ou semanas para se manifestar, o que favorece ainda mais a disseminação silenciosa.

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"Os ataques de bioterrorismo também podem resultar em uma epidemia, por exemplo, se os vírus Ebola ou Lassa forem usados como agentes biológicos", explica a OMS. Além disso, alguns agentes, que são encontrados na natureza, podem ser modificados por um grupo terrorista e se tornarem ainda mais perigosos. Nestes casos, tratamentos conhecidos podem perder a eficácia ou tê-la reduzida.

Exemplos de agentes bioterroristas

De forma geral, confira os agentes bioterroristas mais usados como armas biológicas:

  • Bacillus anthracis, a bactéria responsável por causar a doença Antraz;
  • Clostridium botulinum, a bactéria que desencadeia o botulismo;
  • Yersinia pestis, a bactéria responsável pela peste;
  • Variola major virus, o vírus que causa a varíola;
  • Francisella tularensis, a bactéria que causa a tularemia ou "febre do coelho";
  • Arenavírus ou filovírus, alguns tipos de vírus que causam febres hemorrágicas.
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Como podem ser disseminados?

Existem diferentes formas de disseminar as armas biológicas, como em alimentos contaminados. No entanto, "a maioria dos agentes biológicos letais se destina a ser entregue como aerossóis, que causariam infecções quando inalados pelo grupo visado", explica artigo da Enciclopédia Britânica.

Por causa disso, medidas eficazes envolvem o uso de equipamento de proteção, quando se sabe do possível risco, como máscaras com boa filtragem (respirador PFF2 ou opções ainda mais filtrantes). Equipamentos do tipo podem bloquear bactérias, vírus e esporos maiores que um milionésimo de metro, protegendo as vias respiratórias do usuário. Botas e luvas impermeáveis também podem ser necessárias.

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Dá para conter o uso destas armas?

Mesmo quando uma nação não está em guerra, é necessário ter um bom sistema de vigilância. Para conter eventuais ataques bioterroristas, os países precisam manter "um sistema de saúde pública com forte vigilância de doenças, capacidade de investigação epidemiológica e laboratorial rápida, gerenciamento médico eficiente", apontam os autores indianos de um artigo sobre o tópico, publicado na revista científica Medical Journal Armed Forces India (MJAFI).

Outra questão fundamental é a importância da comunicação simples e direta entre as autoridades — que têm o conhecimento mais aprofundado dos riscos — e a população em geral. É necessário garantir o acesso a uma informação segura, sem alarmismo ou sensacionalismo.

Histórico das guerras com armas biológicas

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Guerras e armas biológicas dividem um passado comum. De acordo com a Enciclopédia Britânica, uma das primeiras guerras — que se tem relato — a usar uma arma biológica aconteceu em 1347. Naquele ano, os mongóis teriam catapultado corpos de pessoas, que morreram por causa da peste, sobre os muros do porto de Caffa, no Mar Negro. Atualmente, a região é parte da Ucrânia.

"Alguns historiadores acreditam que os navios da cidade sitiada retornaram à Itália com a peste, iniciando a pandemia de Peste Negra que varreu a Europa nos próximos quatro anos e matou cerca de 25 milhões de pessoas (um terço da população)", detalha o artigo.

Na Primeira Guerra Mundial (1914-18), a Alemanha chegou a iniciar um programa clandestino para infectar cavalos e gados, pertencentes aos exércitos aliados nas frentes ocidental e oriental. Na época, foi usada a bactéria da peste. "Agentes alemães se infiltraram nos Estados Unidos e infectaram, de forma clandestina, animais antes de seu embarque através do Atlântico em apoio às forças Aliadas", descreve.

Uso em seitas religiosas

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Na história do uso de armas biológicas, um caso curioso é o de Wasco, uma cidade localizada no estado norte-americano de Oregon. Nos anos 1980, seguidores do autoproclamado guru indiano Bhagwan Shree Rajneesh se estabeleceram em um rancho na região e buscaram formas de tomar o controle local, sem despertar (muita) atenção.

Em 1984, a seita religiosa tentou ampliar o seu poder político por todo o condado, reduzindo a participação eleitoral na cidade mais populosa. "Antes das eleições em todo o condado, os membros do culto contaminaram mantimentos, restaurantes e o abastecimento de água em Dallas com a bactéria Salmonella", detalha a enciclopédia.

O caso deixou mais de 750 pessoas doentes e a história completa da seita virou até uma série documental. Lançado em 2018, o documentário Wild Wild Country está disponível na Netflix.

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Risco do bioterrorismo hoje

Apesar de existirem acordos e tratados entre os países, como a Convenção sobre as Armas Biológicas
(BWC), de 1972, o risco potencial de armas biológicas serem usadas existe e pode crescer em situações pontuais, como disputas entre países.

"Informações sobre a fabricação de armas biológicas e químicas têm sido amplamente divulgadas na Internet, e informações científicas básicas também estão ao alcance de muitos pesquisadores em laboratórios biológicos ao redor do mundo. Infelizmente, parece provável que venenos e agentes biológicos sejam usados ​​como armas terroristas no futuro", aponta a Enciclopédia Britânica.

Guerra na Ucrânia

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Com a invasão russa na Ucrânia, o maior temor é uso de armas nucleares ou de uma catástrofe similar ao acidente de Chernobyl, de 1968. No momento, está sob controle russo a maior usina nuclear da Europa, a Usina de Zaporizhzhya, e as instalações de Chernobyl.

No entanto, autoridades alertam também para o risco de armas biológicas. Eventualmente, um patógeno pode ser usada por um dos lados. Só que a maior preocupação, atualmente, é o potencial vazamento de algum agente infeccioso de dentro dos laboratórios de biossegurança da Ucrânia, já que o país é invadido e as instalações podem ser bombardeadas ou abandonadas a qualquer momento.

Diante da ameça, a OMS recomendou, no dia 10 de março, que a Ucrânia destrua qualquer patógeno de alta ameaça alojado em seus laboratórios de saúde pública, segundo a agência de notícias Reuters. Assim, é possível evitar "qualquer possível derramamento" que possa espalhar doenças entre a população e causar ainda mais mortes do conflito armado.

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Fonte: OMS, CDCEnciclopédia Britânica, Reuters e Medical Journal Armed Forces India