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Usina de Zaporizhzhya: quais seriam as consequências da destruição para a saúde?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 04 de Março de 2022 às 12h00

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CreativeNature_nl/Envato Elements
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Na madrugada desta sexta-feira (4), a Rússia avançou na ocupação militar do território da Ucrânia e chegou até a cidade de Zaporizhzhya. Durante a invasão, as tropas russas tomaram o controle da maior usina nuclear da Europa, a Usina de Zaporizhzhya. No bombardeio, parte do complexo pegou fogo e, caso um novo acidente ocorra, é possível que as consequências da explosão do reator de Chernobyl, em 1968, se repitam.

No momento, a situação da Usina Nuclear de Zaporizhzhya está sob controle. O incêndio teria ocorrido em uma parte do complexo onde são feitos treinamentos, o que não afetou os reatores. Após a tomada russa, as chamas foram controladas e a radiação do local estava dentro dos parâmetros normais.

Incêndio na Usina de Zaporizhzhya

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Para alertar sobre o que ocorria na Ucrânia e os riscos da situação, o presidente do país, Volodymyr Zelensky, publicou em suas redes sociais imagens do ataque e do prédio em chamas. Em outro momento, Zelensky afirmou que "se houver uma explosão, será o fim de todos nós: o fim da Europa, a evacuação da Europa”.

Do outro lado, o Ministério da Defesa da Rússia disse que a usina de Zaporizhzhya estava funcionando normalmente, segundo a agência de notícias Reuters. Inclusive, ele cita que o ataque foi feito por um grupo de sabotagem ucraniano, o qual taxa de “provocação monstruosa”. No entanto, ainda há risco potencial de novos conflitos no local, o que pode desencadear um acidente nuclear em última instância.

Como está a área da usina?

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“Mudanças no estado de radiação não foram registradas”, informou a Inspetoria Estatal de Regulamentação Nuclear da Ucrânia, em comunicado. Além disso, a organização explicou que as instalações nucleares continuam a ser resfriadas.

No entanto, a inspetoria alertou que qualquer “perda da possibilidade de resfriar o combustível nuclear levará a liberações radioativas significativas no meio ambiente”. Neste caso, elas podem “exceder todos os acidentes anteriores em usinas nucleares", explica.

Há risco de destruição da usina nuclear?

No atual cenário, um colapso em qualquer parte do núcleo do reator nuclear teria consequências catastróficas, semelhante ao o que ocorreu em Chernobyl, em 1986, ou em Fukushima, em 2011. A aparente vantagem é que as instalações são mais modernas e resistentes do que as de Chernobyl.

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No entanto, o vaso de pressão — onde o urânio é colocado — "não foi projetado para resistir a munições explosivas, como projéteis de artilharia", afirma Robin Grimes, professor de física de materiais do Imperial College London, para o jornal The Telegraph.

"Embora me pareça improvável que tal impacto [como o de projéteis] resulte em um evento nuclear semelhante ao de Chernobyl, uma ruptura do vaso de pressão seria seguida pela liberação de pressão [interna], espalhando detritos de combustível nuclear nas proximidades da usina e uma nuvem com algumas partículas arrastadas chegando mais longe”, completa Grimes.

Para o professor, há risco também do conflito danificar o sistema de resfriamento de água. Em Fukushima, por exemplo, a água do tsunami acabou por desativar os geradores de emergência que fornecem energia ao sistema de refrigeração e, a partir daí, que os problemas começaram.

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"A verdadeira preocupação não é uma explosão catastrófica como aconteceu em Chernobyl, mas danos ao sistema de refrigeração que são necessários mesmo quando o reator é desligado. Foi esse tipo de dano que levou ao acidente de Fukushima”, pondera David Fletcher, da Universidade de Sydney.

Caso o núcleo da usina de Zaporizhzhya entre em colapso, este pode ser um evento classificado no Nível Sete pela Agência Internacional de Energia Atômica. Até então, apenas Fukishima e Chernobyl a atingiram.

Como um acidente nuclear impactaria a saúde global?

Para entender a dimensão dos efeitos para a saúde global de um acidente nuclear, vale observar quais foram as complicações para os trabalhadores e a população local da usina de Chernobyl.

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Em 1986, os indivíduos foram expostos a três principais radioisótopos:

  • Iodo-131
  • Césio-134
  • Césio-137

Segundo a Comissão Canadense de Segurança Nuclear, o acidente foi a maior liberação radioativa não controlada da história. A explosão inicial do reator matou diretamente dois funcionários. No entanto, outros 134 sofreram síndrome de radiação aguda (SAR), sendo que 28 deles morreram nos primeiros três meses. Os desdobramentos atingiram também pessoas que moravam no entorno.

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Por exemplo, entre os moradores da Bielorrússia, da Federação Russa e da Ucrânia, quase 20 mil casos de câncer de tireoide foram relatados em crianças e adolescentes. Especificamente, cerca de 5 mil desses casos de câncer estão relacionados com o consumo "leite fresco contendo iodo radioativo de vacas que comeram grama contaminada nas primeiras semanas após o acidente", explica a comissão. Em outras palavras, os efeitos podem se perdurar por anos.

Além disso, as pessoas expostas à radiação de Chernobyl têm altos níveis de ansiedade e são mais propensas a relatar sintomas físicos inexplicáveis ​​e problemas de saúde.

Fonte: The Telegraph, Reuters (1), (2), The Guardian e Comissão Canadense de Segurança Nuclear