O que é o vírus Nipah, que causa surto na Índia?

Conhecido pela alta taxa de mortalidade, o vírus Nipah provoca surtos esporádicos no continente asiático há mais de 20 anos, como o mais recente identificado na Índia, onde escolas e escritórios foram fechados. Além de humanos, a infecção que provoca um tipo de encefalite — inflamação no cérebro, capaz de deixar sequelas — pode infectar diferentes espécies de mamíferos, como porcos.

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Diante da gravidade dos casos e da falta de vacinas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que o desenvolvimento de terapias contra infecções provocadas pelo vírus Nipah deve ser prioridade, já que ele é uma potencial ameaça à saúde pública global. Ao lado deste agente infeccioso, estão nesta mesma lista prioritária os vírus Marburg, Zika e Ebola.

Entenda o que é o vírus Nipah

Na breve história do vírus mortal, os primeiros casos conhecidos foram registrados em 1999 na Malásia. Desde então, diferentes grupos de cientistas investigam o agente infeccioso. Hoje, sabe-se que ele pertencia à família Paramyxoviridae, e é um tipo de zoonose — doença transmitida de animais selvagens para seres humanos.

Os hospedeiros naturais do vírus Nipah são os morcegos frugívoros — que se alimentam de frutas — do gênero Pteropus, pertencentes à família Pteropodidae. Diferente dos outros mamíferos e dos humanos, os morcegos não apresentam sintomas, quando estão infectados.

Surto de Nipah na história, além da Índia

Como já adiantamos, o primeiro surto de Nipah conhecido ocorreu na Malásia. Diferente do padrão da doença, a onda de casos foi provocada por porcos infectados, sendo que estes tinham contraído a doença, de alguma forma, dos morcegos.

Passados três anos, a doença que provoca encefalite foi observada em Bangladesh. No país localizado na Ásia Meridional, a doença se tornou endêmica, ou seja, todos os anos são registrados surtos controlados da infecção. Entre os outros países afetados por surtos esporádicos, está a Índia — são quatro surtos oficialmente confirmados.

Além destes países principais, já foram encontradas evidências do vírus Nipah em espécies de morcegos selvagens no Camboja, Gana, Indonésia, Madagascar, Filipinas e Tailândia. O achado alerta para a possibilidade de possíveis casos da doença nessa nações.

Como o vírus Nipah é transmitido?

Até o momento, são conhecidas diferentes formas de transmissão do vírus Nipah, o que explica a dificuldade em controlá-lo. Segundo a OMS, estas são as formas mais comuns de contágio:

• Morcegos podem transmitir a doença através da urina e da saliva;
• Frutas ou sucos de tamareira, contaminados pela saliva ou urina de morcegos, podem transmitir a doença;
• Entrar em contato com as secreções de outros animais contaminados, como porcos doentes, ou consumir a carne deles também transmite o vírus;
• Quando uma pessoa está contaminada, ela pode transmitir a doença para outros indivíduos saudáveis através de secreções e fluídos corporais.

Como o vírus infecta tantas espécies?

Aqui, vale mencionar que o vírus Nipah não afeta apenas os porcos. Na verdade, existem relatos de casos de cavalos, cabras, ovelhas, gatos e cães que adoeceram em decorrência da infecção. Em tese, quando estão doentes, também podem transmitir a doença para outros indivíduos saudáveis.

Para entender como um vírus consegue infectar tantas espécies diferentes de mamíferos, é preciso observar como ele age. Após adentrar em um organismo, ele vai invadir as células saudáveis com os chamados receptores de efrina-B. O problema é que a maioria dos animais dessa subclasse contém formas semelhantes desse tipo de receptor.

Sintomas da doença provocada pelo Nipah

Apesar da infecção pelo vírus Nipah ser grave para a maioria dos pacientes, alguns indivíduos podem desenvolver a doença de forma assintomática ou ter sintomas leves. Só que essa não é a regra geral. As pessoas normalmente apresentam os primeiros sintomas após um período de incubação que varia de 4 até 14 dias.

Segundo a OMS, os primeiros sintomas causados pelo vírus Nipah são:

1. Febre;
2. Dor de cabeça;
3. Mialgia (dores musculares);
4. Vômitos;
5. Dor de garganta;
6. Tontura;
7. Sonolência;
8. Alterações de consciência e sinais neurológicos que indicam encefalite aguda.

Conforme os dias (ou as horas) passam, o quadro pode se agravar. Nesse outro estágio, é comum que as pessoas apresentem complicações respiratórias, incluindo dificuldade respiratória aguda. Quadros de encefalite, convulsões e coma também podem ser relatados.

De modo geral, a taxa de letalidade do Nipah varia entre 40% a 75%, dependendo do acesso ao atendimento médico. Entre aqueles que sobrevivem à encefalite aguda, o risco de sofrer com sequelas neurológicas duradouras é alto, o que inclui distúrbios convulsivos e alterações de personalidade.

Tratamento contra a encefalite causada pelo vírus Nipah

“Atualmente, não existem medicamentos ou vacinas específicas para a infecção pelo vírus Nipah”, afirma a OMS. Além dos remédios que aliviam os sintomas, como os antitérmicos para a febre, estão disponíveis alguns tipos de anticorpos monoclonais, mas que ainda são considerados em desenvolvimento. É por essa falta de alternativas que a entidade coloca a busca por novos medicamentos e pesquisas sobre o vírus Nipah em sua lista prioritária de desenvolvimento.

Fonte: Reuters e OMS (1) e (2)