O que é epilepsia e como identificar sintomas
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Você já deve ter ouvido falar bastante na epilepsia, mas sabe o que de fato ela é? A condição neurológica é uma doença crônica, que causa crises epiléticas recorrentes, caracterizadas por convulsões que geram vários sintomas cognitivos, sociais e psicológicos. Uma média de 1% a 3% da população sofre com a patologia, com a média dos países em desenvolvimento chegando a 2%. Apenas no Brasil, o número de pacientes varia entre 1,8 e 3,6 milhões.
Para ser acometido pela doença, há duas possibilidades: é possível tê-la de forma congênita ou adquirida, com alguns casos não tendo causa conhecida. O principal problema causado por ela são as crises epiléticas, caracterizadas por uma descarga elétrica excessiva vinda de neurônios de partes específicas do cérebro. Resumidamente, elas podem ser focais ou generalizadas, mas há diversos tipos, nomenclaturas e severidades possíveis.
Crises, sintomas e diferenças
Convém lembrarmos que epilepsia e convulsão não são a mesma coisa — o sintoma convulsivo é uma manifestação da doença, mas pode acontecer isoladamente. Febre alta pode acabar gerando convulsões, por exemplo, ou intoxicação por químicos, reações medicamentosas ou isquemia cerebral (falta de oxigenação no órgão). Doenças como meningite ou tétano também podem gerar o comportamento.
Oficialmente, o termo médico para a ocorrência é "crise tônico-clônica", que pode surgir sem aviso ou com uma sensação prévia, chamada de aura. Perdendo o controle motor, o paciente passa a apresentar movimentos involuntários em alguns dos seus músculos. Junto a isso, pode ocorrer perda de consciência, confusão mental, movimento mais rápido dos olhos, grunhidos incomuns, perda do controle intestinal e da bexiga, mudanças de humor, gosto estranho na boca e problemas secundários, como trincar os dentes e morder a língua.
Crise focal simples
Em uma crise ou convulsão focal simples, o indivíduo afetado não perde a consciência, e pode incluir alguns sintomas específicos. Nos sintomas motores, há movimentos espasmódicos e contrações musculares, enquanto os autonômicos podem gerar dor de estômago e batimentos acelerados do coração, bem como diarreia. Algum dos 5 sentidos pode falhar, e sensações de medo, tristeza, déjà-vu e até mesmo prazer podem ocorrer na hora da crise.
Crise parcial complexa
Em uma crise complexa, o paciente já perde a consciência, e pode ficar em um estado em que está olhando para o nada, aparentemente ausente. Movimentos sem propósito e repetidos, como estalar de dedos incessante, podem ser sintomas de uma crise parcial complexa, por exemplo.
Crise generalizada
Na convulsão generalizada, ou crise convulsiva complexa, várias partes do cérebro e do corpo são afetadas, ao contrário das focais, que, como o nome diz, são apenas localizadas. Uma convulsão generalizada pode evoluir a partir de um sintoma focal, gerando sintomas de dor de cabeça, indisposição e confusão mental por um longo tempo após sua ocorrência.
Esses são apenas os tipos mais frequentes de convulsão causada por epilepsia, mas cada paciente poderá apresentar seus próprios sintomas e especificidades, também requerendo diferentes tratamentos. A crise de ausência, por exemplo, pode ser mitigada com medicações facilmente, enquanto crises mais complexas tendem a ser mais difíceis de tratar.
Para tratar a epilepsia, são utilizados medicamentos conhecidos como anticrises. A escolha deles para o tratamento também vai depender de cada caso específico, variando com as condições corporais do paciente. Recentemente, uma leva de remédios novos têm surgido, agindo tanto em moléculas já conhecidas como em novas, reveladas por estudos mais recentes.
Remédios, tratamentos e restrições
Os medicamentos contra a epilepsia buscam impedir crises convulsivas nos pacientes. Eles incluem drogas como a fenitoína a carbamazepina, que, para a maioria dos pacientes, já confere uma vida normal. Alguns indivíduos, no entanto, seguem com as crises ocorrendo, caracterizando uma epilepsia refratária ou de difícil controle. Isso pode levar até necessidades cirúrgicas para melhora do quadro. Aparelhos neuromoduladores e dietas cetogênicas estão inclusos nesses esforços.
Ao longo dos anos, remédios novos chegam como opções aos pacientes refratários, melhorando as chances de tratamento. Cada caso precisa de uma abordagem individualizada, e mais medicações significam mais chances de frear as convulsões, já que há pessoas com resistência a quase todas as drogas. Em 2005, por exemplo, chegaram a oxcarbazepina, gabapentina, lamotrigina e topiramato ao arsenal anticrise. Embora isso não seja uma garantia de que todos serão curados, é uma esperança renovada para muitos.
O surgimento de novos fármacos pode melhorar a eficácia ou tolerabilidade de tratamentos, especialmente em combinação com medicações usadas há tempos. À luz de novidades sobre o tema, os cientistas se juntam para debater abordagens terapêuticas e compartilhar novidades: um exemplo disso é a Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI), que fará, em setembro de 2023, o seu 18º congresso, onde discutirá avanços na área.
Dado o risco de vida que a epilepsia traz, mesmo para quem possui poucas restrições em relação à doença, é recomendado evitar algumas atividades, principalmente quando no início do tratamento. Elas incluem principalmente esportes radicais, como alpinismo, surfe, mergulho, asa delta, paraquedismo e esportes motorizados, como kart e corridas diversas. A natação ainda é liberada, contanto que as crises estejam controladas, e preferencialmente com supervisão individual durante a prática.
Fonte: Brain and Life, Supera, SBNI