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O que é "chip da beleza", que faz tanto sucesso entre as influencers?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 01 de Junho de 2021 às 08h30

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 Reproductive Health Supplies Coalition/Unsplash
Reproductive Health Supplies Coalition/Unsplash

Em uma era tomada pelas redes sociais e pelos influencers, muito se discute acerca da beleza estética, com direito a uma busca por métodos diferenciados para se atingir um determinado objetivo. Um deles, que nos últimos tempos passou a tomar destaque entre modelos e influenciadoras, chegou a ganhar o apelido de "chip da beleza". Mas o que ele é, exatamente? O que faz? E por que recebeu esse nome tão tecnológico? Para entender, conversamos com especialistas da ginecologia.

De acordo com Dr. Alexandre Pupo, ginecologista do Hospital Sírio Libanês e do Hospital Albert Einstein, o "chip da beleza" nada mais é que um implante hormonal. "Implante é um nome genérico para qualquer material colocado no corpo humano, mas em específico, esses implantes hormonais são pequenas estruturas de material absorvível ou não, no qual é impregnado um hormônio — ou qualquer outra substância que se queira — para ser dispensado lentamente no corpo humano, para uma determinada ação", explica o especialista.

Esse "chip" é colocado no tecido subcutâneo, logo abaixo da pele, e seu funcionamento depende de quais hormônios são introduzidos. Segundo Dr. Pupo, os mais habituais são implantes de estrogênio, testosterona e gestrinona. "Na maioria dos casos o que se utiliza é a gestrinona, que é uma substância com efeito de bloquear a ação do ovário, leve efeito andrógeno, efeito anabolizante discreto. Pode aumentar a massa muscular, bloqueia a menstruação, e a gente acaba usando por causar uma atrofia na camada interna do útero no endométrio, para tratar a endometriose, diminuindo os sintomas, principalmente a dor", acrescenta.

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Por que "chip" da beleza?

Na área da saúde, já tivemos conhecimento de chips, literalmente, que são implantados no corpo. Recentemente, inclusive, falamos de um novo chip cerebral que deve ajudar no tratamento de doenças como Alzheimer e câncer. Uma equipe liderada por pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Geórgia, nos Estados Unidos, conseguiu reproduzir a barreira hematoencefálica (BHE) humana em um chip, que recria sua fisiologia de maneira realista. Em outros tempos, também já mencionamos um chip implantado no corpo que pode detectar ataques cardíacos antes que aconteçam.

Mas ao contrário do que pode parecer, em sua construção, o "chip da beleza" não tem nada a ver com esse aparato eletrônico. "Não sei exatamente ao certo a origem desse neologismo em relação ao implante hormonal, mas de fato surgiu a palavra chip com uma conotação de marketing", analisa o ginecologista. De modo geral podemos dizer que um microchip não passa de um circuito eletrônico miniaturizado. Esse circuito, por sua vez, é constituído por diversos componentes eletrônicos, sendo capaz de realizar uma determinada função. Talvez esteja aí a semelhança entre o chip e o implante, que também é um pequeno item constituído por diversos componentes. Daí o nome.

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Mas voltando a falar dos efeitos desse implante: segundo Dr. Pupo, quando a ideia é que o implante tenha testosterona, os efeitos desse hormônio são liberados no corpo feminino, acionando um funcionamento semelhante ao que ocorre no corpo masculino. "Aumento de massa muscular, aumento do metabolismo do corpo e ao mesmo tempo aumento da oleosidade da pele, de pelos. Pode ter inclusive uma perda capilar por uma ação da testosterona, semelhante ao que acontece no homem", menciona o especialista.

Fora esses implantes mencionados, também há a possibilidade de colocar estrogênio e outras substâncias que eventualmente sejam necessárias para tratar algum aspecto específico da paciente. "O objetivo é mudar a composição corpórea da mulher, aumentando a massa magra, o efeito anabolizante que aumenta o metabolismo e ajuda a emagrecer, mas tem como contrapartida os efeitos da testosterona", afirma o ginecologista.

Muitas personalidades da mídia aderem ao chip pela função da perda de peso e ganho de músculos. Segundo Dr. Pupo, isso realmente acontece pela ação andrógena, seja da gestrinona, seja da testosterona, na promoção de hipertrofia das fibras musculares e aumento do metabolismo do corpo, mas quanto maior a dose, maior o efeito, só que em contrapartida também maior o risco dos efeitos colaterais, como engrossamento da voz, aumento de pelos no corpo, redução no volume das mamas e até aumento de acne.

"Há contra indicações, principalmente para pessoas com doenças cardiovasculares, dislipidemia e diabetes descontrolada", explicou o Dr. Gustavo Teles, ginecologista e especialista em reprodução humana do Grupo Huntington.

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Implantes absorvíveis

Segundo Dr. Pupo, existe uma evolução do implante tradicional para o implante absorvível. Os mais antigos são com um material não degradável pelo organismo, e depois de finalizado o uso, precisam ser removidos do corpo por meio de uma microcirurgia. Enquanto isso, os absorvíveis, que são mais modernos e mais caros, não precisam. "Em contrapartida, você pode ter essa mesma formulação em gel, que você aplica na pele diariamente, e em absorvíveis sublinguais. Então você tem a opção de utilizar essa mesma medicação de uma forma diária", explica o médico.

"Hoje é possível usar a mesma medicação por outras vias, por exemplo via vaginal, com isso avalia-
se efeitos colaterais, antes de realizar a implantação do dispositivo", completa Dr. Teles.

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No entanto, esse implante acaba trazendo uma controvérsia para a medicina. Na opinião de Dr. Pupo, essa polêmica já está presente no próprio nome do implante. "Quando se utiliza uma nomenclatura como essa, 'chip da beleza', você de certa forma está fazendo uma apologia de marketing, e a medicina busca em primeiro lugar tratar questões de desordem do corpo e da mente. A não ser que de fato tenha uma questão relacionada ao seu corpo que mereça um tratamento específico, a nomenclatura em si remete a uma questão muito mais de marketing do que de uma ação médica em busca de um benefício real ao ser humano", argumenta.

Paralelo a isso, o médico ressalta que ainda existem poucos estudos científicos avaliando qual é a margem de segurança para a utilização desses compostos e qual seria a concentração aceitável antes que eles passem a fazer mais mal do que bem. "Então a controvérsia que existe ao redor dessas substâncias é a maneira como ela é propagada e qual o objetivo por trás do seu uso. Pessoas que estão saudáveis, sem nenhum problema de saúde e buscam utilizar isso apenas pelo conceito de uma beleza estética corporal... é uma questão que na verdade foge um pouco da esfera médica", disserta o ginecologista.

Dr. Pupo completa que a medicina busca tratar a dor e o sofrimento, restaurando a pessoa ao seu convívio no ambiente social, e que esse tipo de cenário, em busca de uma perfeição estética, é muito relativo. "Essas questões estéticas se modificam de tempos em tempos, então não é tanto uma questão médica, mas muito mais uma questão social", pontua. Por sua vez, Dr. Teles ressalta: "Todo o processo deve ser avaliado indicado e acompanhado por um médico especialista, não ser indicado pelo colega da academia".

Como é ter o implante

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Em conversa com nossa equipe, Mayara* conta que adquiriu o chip em agosto de 2020, ficando com ele durante o período de 4 meses. O chip foi absorvido, portanto, não precisou retirar. A paciente conta que o que a motivou foi a gama de benefícios. "Eu estava com a testosterona baixa, cansaço, fadiga, libido baixa... e o chip supriria todas essas necessidades, além de reduzir drasticamente a celulite e melhorar a textura da pele. Não optei por colocar o chip novamente, primeiro porque tive queda de cabelo em decorrência do uso, segundo pelo alto investimento", relata.

Com exceção da queda de cabelo, Mayara conta que o chip faz o que promete: "Foi um super incentivo à autoestima e à autoconfiança, fora o aumento da disposição no dia a dia. Recomendo. A experiência é super válida! E se não fosse a queda de cabelo, talvez eu tivesse colocado novamente". Segundo a paciente, antes de colocar o chip, uma bateria de exames precisou ser feita, onde foi constatada a testosterona extremamente baixa. Foi o próprio médico que indicou a suplementação através do chip.

"Cabe destacar que é possível fazer a suplementação de testosterona através de gel, que no meu caso reduziu drasticamente a queda de cabelo. No entanto, o resultado de redução da celulite quase a zero e textura da pele linda, só o chip da beleza te dá num curto espaço de tempo. Ressalto ainda que junto com chip, pratiquei atividade física diária e alimentação saudável", completa.

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Dr. Pupo conta que a testosterona é pouco estudada, em doses elevadas, em termos de efeitos colaterais no corpo feminino, e essa é uma das ressalvas ao uso do hormônio em altas doses. "Inúmeros artigos e inclusive decisões de sociedades médicas ao redor do mundo questionam a utilização de altas doses de testosterona no corpo feminino pela ausência de dados a respeito da segurança. A gestrinona, a princípio, já é mais conhecida", disserta o especialista.

No entanto, o médico orienta a sempre levar em consideração os efeitos colaterais que podem surgir na mulher, e toda substância hormonal deve ser usada com cautela em pacientes que tiveram ou tem risco aumentado para trombose, como por exemplo as que tem histórico familiar, as que já tiveram no passado com o uso de pílulas anticoncepcionais ou que têm alterações de vascularização das pernas, por exemplo.

*O verdadeiro nome foi alterado para preservar a identidade da paciente.