Nova classe de antibióticos é capaz de matar superbactérias
Por Fidel Forato | Editado por Luciana Zaramela | 04 de Janeiro de 2024 às 12h22
Cientistas da Universidade de Harvard (EUA) e da farmacêutica Roche (Suíça) anunciaram a descoberta de uma nova classe de antibióticos, capaz de combater as superbactérias em testes com animais. A partir deste achado, a equipe testa uma candidato a antibiótico conhecido como zosurabalpina, com modelo de ação inédito.
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Cabe destacar que, há mais de 50 anos, nenhuma nova classe de remédios para combater bactérias gram-negativas foi descoberta no mundo. Por isso, a atual pesquisa, descrita em dois artigos recém-publicados na revista Nature, é tão importante.
Se os testes clínicos (em humanos) contra a superbactéria Acinetobacter baumannii forem promissores, os médicos terão uma nova arma para lutar contra as mortais bactérias resistentes aos medicamentos tradicionais.
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), esta deve ser uma das prioridades na área de pesquisa em saúde. Inclusive, a entidade classifica a A. baumannii como uma das três superbactérias mais críticas à saúde em todo o mundo.
Nova classe de antibióticos
Os testes com o potencial antibiótico Zosurabalpina estão concentrados na bactéria Acinetobacter baumannii resistente a Carbapenema (CRAB, em inglês). Em paralelo, a Roche já desenvolve pesquisas para outra medicação focada no tratamento de outras infecções gram-negativas resistentes a carbapenêmicos.
Em ambos os casos, o foco são bactérias gram-negativas. Em comum, elas são protegidas por uma camada externa que contém uma substância chamada lipopolissacarídeo (LPS). Por causa dessa barreira, conseguem fugir da maioria das defesas do sistema imunológico e de medicações convencionais.
Como foi a descoberta do antibiótico?
Para identificar o Zosurabalpina, os pesquisadores analisaram um banco de dados com cerca de 45 mil moléculas, usando diferentes ferramentas, o que inclui Inteligência Artificial (IA).
Em seguida, foram iniciados os testes em laboratório, com células infectadas com a superbactéria. Experimentos com roedores contaminados com a bactéria, sendo que alguns tinham pneumonia e sepse, também foram feitos. Nos dois casos, a resposta foi promissora, o que permitiu o início da primeira fase de testes clínicos.
No corpo, a medicação destrói a barreira protetora da superbactéria, já que impede a via de transporte do LPS da membrana interna para a externa (periplasma). Isso acontece quando a medicação se conecta a um complexo de proteínas da membrana bacteriana, o LptB2FGC. Nessas circunstâncias, as moléculas acabam se acumulando na camada interna, onde se tornam nocivas e provocam a morte do patógeno.
O risco das superbactérias
A resistência antimicrobiana é conhecida como “pandemia silenciosa”, já que o problema é relacionado com a morte anual de aproximadamente 5 milhões de pessoas, segundo a OMS.
Na maioria das vezes, estas superbactérias são contraídas em ambiente hospitalar, como na UTI, onde os pacientes estão bastante debilitados e os riscos de morte são maiores.