Nasce primeiro bebê de transplante de útero fora de ensaio clínico
Por Lillian Sibila Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |

Nasceu recentemente nos Estados Unidos o primeiro bebê fruto de um transplante uterino realizado fora de um ensaio clínico. Sua mãe, Mallory, nasceu com a síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser, que atrofia o útero e parte da vagina, impossibilitando a gravidez. Após um tratamento feito pela Universidade do Alabama em Birmingham (UAB), no entanto, ela conseguiu dar à luz, em maio deste ano.
- Transplante — o útero é removido e colocado cirurgicamente na paciente, que recebe medicamentos imunossupressores para evitar rejeição. Eles se iniciam durante o transplante e durante todo o processo, incluindo a gravidez;
- Gravidez — meses após a cirurgia, um dos embriões é descongelado e colocado no útero. No caso de sucesso, a gravidez é monitorada de perto por um obstetra de risco, conhecido como especialista materno-fetal;
- Parto — a criança nasce com a quantidade de semanas o mais próximo possível do natural através de uma cesariana planejada. Caso a mãe deseje mais um filho, o útero é deixado no lugar, com os medicamentos imunossupressores ainda em uso. Seis meses após o nascimento, outra transferência de embrião já pode ser tentada novamente;
- Remoção do útero — após dar à luz, o útero transplantado é removido, e o uso de medicamentos é descontinuado.
Caldeira comenta que cirurgia ainda é rara especialmente porque fertilizações in vitro com útero de substituição são muito mais baratas e geralmente figuram como primeira opção para mães inférteis, já que o risco de rejeição no transplante de útero é alta, e os remédios tomados para evitar isso ainda geram o risco de falha na transferência de embrião.
O médico também diz que mães, irmãs e parentes, no geral, podem doar o útero para a paciente que recebe o transplante, mas em geral o órgão vem de doadoras que faleceram recentemente. Até o momento, fertilização in vitro com útero de substituição são alternativas mais seguras, e podem ser feitas em parentes de até 4º grau sem autorização do CRM (Conselho Regional de Medicina).
Embora sejam raras e, em geral, pouco viáveis hoje em dia, Caldeira acredita que as cirurgias de transplante de útero possam se tornar um procedimento comum no futuro, assim como outros transplantes de órgão, como o de fígado, se tornaram viáveis e rotineiros atualmente.
O caso de Mallory
Quando tinha 17 anos, a estadunidense recebeu a notícia de que não poderia ter filhos por conta da síndrome de Mayer-Rokitansky-Küster-Hauser. Marcada pela impossibilidade, ela teve uma filha com útero de substituição, e a gestante foi sua irmã.
Como uma nova gestação poderia colocar sua irmã em risco, no entanto, ela e o marido, Nick, decidiram entrar no programa de transplante da UAB. Feliz, ela contou ao site da universidade que nunca duvidou que o procedimento daria certo em todos os 18 meses de atendimento clínico necessários para dar à luz.
Emblemático, o caso da nova mãe marca mais uma parte do caminho até popularizar e tornar o procedimento mais seguro, barato e facilmente acessível a todos que desejam ter um filho biológico mesmo com problemas uterinos.