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Mosquitos podem transmitir o novo coronavírus?

Por| 30 de Abril de 2020 às 14h10

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Mosquitos podem transmitir o novo coronavírus?
Mosquitos podem transmitir o novo coronavírus?

O novo coronavírus (SARS-CoV-2) tem gerado inúmeras discussões, principalmente a respeito de sua forma de contágio. De quais maneiras é possível se contaminar? Quanto tempo esse vírus pode sobreviver fora do organismo? Mosquitos como o Aedes aegypti, que transmite a dengue, a zika e o chikungunya, poderia também transmitir a COVID-19?

Por conta do ineditismo do novo coronavírus, a ciência ainda não tem respostas tão conclusivas, mas provavelmente, mosquitos não são capazes de o transmitir. Pelo menos não há evidências científicas de que esses insetos, que se alimentam do sangue humano e causam mais de meio milhão de mortes por ano possam fazer ainda mais estrago ao vetorizar o SARS-CoV-2.

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Qual a explicação?

"Só tiveram complicação pulmonar [as pessoas que faleceram em decorrência do novo vírus], o da gripe às vezes consegue entrar no intestino, pegar o corpo todo, a gripe aviária pode ser até neurológica... O coronavírus está no pulmão, então, ele não tem nem como estar no sistema circulatório para o mosquito sugar. E mesmo se o mosquito sugasse um pouco do coronavírus, não conhecemos [como] o coronavírus [se comporta] em mosquitos. Já temos muitos vírus circulando em mosquitos aqui [no Brasil], mas não temos precedente nenhum para falar que o coronavírus consegue fazer isso", esclarece o microbiólogo e pós-doutor em microbiologia pela USP e pela Yale University, Átila Iamarino, em entrevista para o Uol.

Além disso, o novo coronavírus é disseminado por gotículas produzidas ao espirrar ou tossir, que saíram do sistema respiratório humano, e podem entrar diretamente em outra pessoa ou ficarem por horas intactas em superfícies, aguardando uma vítima.

Embora esse vírus tenha sido encontrado em amostras de sangue de pacientes da COVID-19, sua carga viral no sangue humano é baixa. Mesmo se um mosquito pegasse uma "alta dose" de coronavírus no sangue contaminado, também não há evidências de que o patógeno seja capaz de infectar o próprio mosquito. E o mosquito não estando infectado, ele não poderá transmitir a doença para a sua próxima vítima.

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Quais vírus os mosquitos propagam?

Tanto para o Aedes aegypti quanto para outros mosquitos transmissores de doença, é a fêmea quem pica os indivíduos. Isso porque necessita do sangue em seu organismo para amadurecer seus ovos. Nesse momento, os vírus se aproveitam dessa necessidade biológica para chegarem a um novo hospedeiro. No entanto, o mosquito só é infectado se picar um outro animal infectado, como um humano.

Assim, mosquitos podem transmitir diferentes tipos de vírus e doenças, como a dengue, a febre amarela, a chikungunya, a zika e até mesmo a malária, causada por um parasita. Por outro lado, não podem transmitir muitos outros vírus, como o HIV e o Ebola, por exemplo.

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Mas por que alguns vírus sim e outros não? Embora os mosquitos possam se parecer uma espécie de seringas sujas e voadoras que transferem sangue infectado de pessoa para pessoa, a realidade é muito mais complexa. Quando um mosquito pica e suga um pouco de sangue que contém um vírus, esse vírus vai para o intestino do inseto.

A partir disso para sua sobrevivência, esse vírus precisa infectar as células que revestem o intestino. Dessa forma, ele "escapa" e está livre para infectar o resto do corpo do mosquito, espalhando-se pelas pernas, asas e cabeça. Não só isso, esse patógeno precisa infectar também as glândulas salivares antes de ser transmitido pelo mosquito na próxima picada.

Cada etapa desse processo pode ser uma barreira impenetrável para o vírus. Assim, o patógeno pode conseguir infectar o inseto por inteiro, morrer no intestino ou, simplesmente, ser excretado. É uma luta entre infectar ou morrer, em um processo que pode levar de poucos dias a mais de uma semana.

No caso do HIV, os próprios mosquitos, por causa de sua biologia, não são infectados (e eles precisam estar infectados para contaminarem). Isso porque um mosquito contrai o vírus quando pica uma pessoa infectada, mas são baixas as concentrações de HIV que circulam no sangue de uma pessoa. Para o Ebola, mesmo quando os cientistas injetam o vírus nos mosquitos, eles não são infectados. Nesse sentido, um estudo coletou milhares de insetos durante um surto de Ebola e não encontrou nenhuma presença do vírus nos vetores.

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Coinfecção: dois vírus ao mesmo tempo

Embora não existam evidências de que o novo coronavírus possa ser transmitido por mosquitos, esses insetos continuam sendo um risco para a população. Isso porque há o risco de coinfecção, que é quando um paciente é infectado por dois vírus ao mesmo tempo, como o da dengue e o da COVID-19. Essa situação, inclusive, já foi relatada por um médico do Hospital Israelita Albert Einstein para o Canaltech. O paciente duplamente infectado, na época, estava internado.

Nesse cenário distópico, é possível que o país chegue também a uma epidemia cruzada, ou seja, junto à crise estabelecida pela COVID-19, estará o aumento de casos da dengue, em um nível que chegue a outra epidemia simultânea. Afinal, mesmo que pessoas se protejam com máscara e se mantenham em isolamento social, o Aedes aegypti segue voando livre pela vizinhança.

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No caso, da atenção não ser redobrada com a água parada, por exemplo, o mosquito pode encontrar um ambiente muito propício para sua proliferação. Atualmente, os casos de dengue estão aumentando, já que o pico da epidemia acontece entre os meses de março e maio. E o que mais preocupa as autoridades de saúde é o subtipo do vírus tipo 2, que ocasiona a dengue hemorrágica, a mais letal — e uma coinfecção com a COVID-19 pode ser muito mais grave.

Desde o início do ano até o começo de maio, Brasil já registrou mais de 525 mil casos prováveis de dengue e 181 óbitos em decorrência da doença, segundo o jornal O Globo. Também foram notificados 15.051 casos e três mortes por chikungunya, além de 2.054 casos de zika. Em comparação, até ontem (28), o país tinha 71.886 casos da COVID-19 e 5.017 mortes, de acordo com o Ministério da Saúde.

Além disso, o professor de infectologia da UFMG, Unaí Tupinambás, alerta para o risco real de ocorrer outras epidemias cruzadas no Brasil, afinal a entrada do outono pode reduzir os casos de arboviroses, como a dengue, mas aumenta a incidência de doenças respiratórias. Assim, a influenza, conhecida como gripe comum (não transmitida por mosquitos), seria outra coinfecção no radar das autoridades de saúde pública e médicos para este inverno.

Fonte: The Conversation, Uol, O GloboSBMTEstado de Minas