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Molnupiravir: o que sabemos sobre a pílula da covid no Brasil, EUA e Reino Unido

Por| Editado por Luciana Zaramela | 16 de Novembro de 2021 às 08h30

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Twenty20photos/Envato Elements
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No começo deste mês, o Reino Unido se tornou o primeiro país a aprovar o antiviral contra a covid-19. Desenvolvido pela farmacêutica norte-americana MSD, também conhecida como Merck, o tratamento pode ser um "divisor de águas" para pessoas imunossuprimidas ou com comorbidades, já que é receitado para impedir o agravamento da infecção causada pelo coronavírus SARS-CoV-2. Estudos também avaliam o uso da pílula para a prevenção da doença.

Em paralelo a essa aprovação do Reino Unido, a agência reguladora dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), também analisa um pedido de uso emergencial do molnupiravir. Por enquanto, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não recebeu nenhum pedido para a análise do uso deste antiviral no Brasil.

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No entanto, parte dos dados do molnupiravir enviados para as agências regulatórias internacionais foram coletados no Brasil, onde um estudo concluiu os benefícios da medicação oral contra o coronavírus. Hoje, uma segunda pesquisa investiga a sua capacidade em prevenir a doença, quando há risco de alta exposição ao vírus.

Afinal, o que é o molnupiravir?

Antes de seguirmos, vale explicar que o molnupiravir é um antiviral, ou seja, um remédio que age contra vírus. Inclusive, os estudos e o desenvolvimento surgiram antes do aparecimento da covid-19. No caso do coronavírus, a medicação age no organismo, atrapalhando a replicação viral. Nesse momento, o agente infeccioso tem maior dificuldade em se replicar, o que diminui sua concentração no organismo do paciente e faz com que a possível infecção perca força.

De acordo com os dados disponíveis até agora, o medicamento é mais eficaz se tomado nos estágios iniciais da infecção, reduzindo pela metade o risco de morte e hospitalização de pacientes com alguma probabilidade de desenvolverem quadros graves da doença. Para alcançar esse objetivo, o uso recomendado da medicação é de 5 dias, logo que se descobre a possibilidade da infecção e não demanda de hospitalização — e pode ser feito em casa.

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Entre os fatores de risco que justificam o uso do antiviral estão: idade avançada, obesidade, diabetes mellitus, doenças do coração ou outra comorbidade, por exemplo.

Testes da pílula contra a covid-19 no Brasil

Para entender o cenário da pesquisa brasileira, o Canaltech conversou com a infectologista Monica Gomes, do Complexo Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR/Rede Ebserh). "Nós, no HC, tivemos um papel bastante importante, porque fomos o centro que mais incluiu pacientes no Brasil e o segundo maior de inclusão do mundo", conta Gomes sobre o estudo já concluído e compartilhado com as agências regulatórias internacionais.

A pesquisa "avaliou o uso do medicamento em comparação com o uso do placebo em pessoas que tinham covid-19 leve ou moderada e pelo menos um fator de risco para gravidade", explica Gomes. Foram incluídas apenas pessoas não vacinadas.

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O medicamento era usado em até 5 dias do aparecimento dos sintomas da covid-19 e por outros 5 dias de medicação."Acompanhávamos os pacientes mais proximamente por 29 dias para observar se havia ocorrência de hospitalização ou morte", conta a infectologista.

"Esse estudo mostrou que houve 50% de redução na taxa de hospitalização dos pacientes que usaram o molnupiravir em relação ao placebo. Em um cenário de aproximadamente 700 pessoas, houve 14% de hospitalização em quem tomou placebo e 7% em quem tomou molnupiravir", detalha Gomes.

Além disso, "existem outros dados que mostram que o uso do medicamento reduz a quantidade de vírus na via respiratória e isso, provavelmente, tem um potencial não só de diminuição da gravidade da doença, mas também de menor transmissão para as pessoas que estão em volta daquela com covid-19 em tratamento", explica.

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Remédio também previne a covid-19?

Em uma nova pesquisa do molnupiravir, "o medicamento, agora, vai ser estudo para a prevenção das pessoas que não têm covid-19. Por exemplo, pessoas que não tenham covid, mas morem com alguém que tenha", conta Gomes. Nesse novo estudo, o Complexo Hospital de Clínicas não estará envolvido. No entanto, a infectologista adianta: "O estudo pode demonstrar que o medicamento pode ser usado como prevenção e não apenas tratamento da covid".

A nova pesquisa, de Fase 3, é liderada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), na qual seria avaliada a eficácia e a segurança do uso profilático pós-exposição (PEP). Os participantes receberão o tratamento ou o placebo, sem saber em qual grupo estão, durante cinco dias. O acompanhamento dos pesquisadores será feito, no total, por 29 dias. Ao final, será possível estabelecer a segurança e a eficácia do remédio na prevenção da doença.

Produção brasileira do antiviral e de genéricos

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Caso a Anvisa comprove eficácia e a segurança do molnupiravir, o potencial remédio contra a covid-19 poderá ser produzido no Brasil. Isso porque a Fiocruz está em “conversas avançadas” com a farmacêutica norte-americana MSD para a fabricação, segundo informações divulgadas em outubro.

“A Fiocruz tem acompanhado diversos projetos candidatos para o tratamento da covid-19”, explicou a fundação em nota. “Os projetos enviados à fundação passam por avaliação de uma comissão técnica criada para essa finalidade com o objetivo de avaliar os resultados preliminares e a tecnologia de produção”, completou.

Se todo o processo correr conforme o planejado, a ideia é fabricar o remédio contra a covid-19 no Instituto de Tecnologia em Fármacos, conhecido como Farmanguinhos, no Rio de Janeiro, onde também são feitas as vacinas.

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Versão genérica do remédio

Em paralelo, a farmacêutica MSD anunciou uma medida histórica: não receberá royalties pelas vendas do molnupiravir em determinadas localidades, enquanto o mundo enfrentar a pandemia do coronavírus SARS-CoV-2. Para isso, a empresa autorizará que países de menor renda produzam versões genéricas do medicamento.

No final de outubro, a MSD concedeu uma licença isenta de royalties a uma organização sem fins lucrativos apoiada pelas Nações Unidas, a Medicines Patent Pool. A ideia é que o medicamento para casos leves e moderados da covid-19 seja fabricado e vendido a baixo custo nas nações mais pobres, onde as vacinas ainda não chegam de forma adequada.

O acordo da farmacêutica com a Medicines Patent Pool permitirá que empresas de 105 países, principalmente da África e da Ásia, sublicenciem a formulação da pílula antiviral e, dessa forma, consigam produzir nacionalmente o medicamento.