Jovens adultos são mais propensos a morrer de calor, segundo estudo
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |

Esqueça as suas ideias pré-concebidas sobre morrer de calor, ainda mais se você pensa que os idosos são os mais atingidos pelas ondas de calor extremo (que se intensificam com o aquecimento global). Um novo estudo revisou os dados do México desde o final dos anos 1990 e descobriu que as principais vítimas são os mais novos, com menos de 35 anos. Sim, jovens adultos têm alto risco de morrer de calor, além das crianças pequenas, segundo a análise.
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Publicado na revista Sciences Advances, o estudo sobre os indivíduos com maior risco de morrer de calor (hipertermia) ou ter complicações associadas foi liderado por cientistas da Universidade Columbia, nos EUA, e chegou a resultados no mínimo curiosos.
“As pessoas com menos de 35 anos são responsáveis por 75% das mortes recentes relacionadas ao calor [no período analisado]”, afirmam os autores, no artigo. Neste grupo, estão as crianças com menos de 5 anos e os jovens adultos, o que surpreendeu a equipe.
A explicação mais provável parece estar no comportamento e não na fisiologia do corpo humano. Isso porque o organismo dos idosos está mais debilitado, ou seja, mais sujeito a uma morte por excesso de calor. Em contrapartida, os jovens são fisicamente mais capazes de suportar umidade e calor extremos. Neste contexto, podem se considerar “imbatíveis” e não se preocupar em adotar os devidos cuidados em dias muito quentes (ou não terem condições de aliviar a carga de trabalho), algo que pode custar caro.
Aqui, vale observar que esta é apenas uma hipótese, já que o atual estudo não buscou avaliar as causas das mortes, apenas desenhou o perfil e a faixa etária das vítimas mais comuns.
Quem morre de calor?
No estudo, os pesquisadores se debruçaram sobre os dados de mortalidade no México entre os anos de 1998 a 2019. Durante o período analisado, foram contabilizadas 3,3 mil mortes relacionadas ao calor por ano.
Olhando para a faixa etária dos óbitos, a maioria tinha menos de 35 anos. Para ser mais preciso, quase um terço das mortes ocorreu em pessoas entre 18 e 35 anos.
Observação: a partir dos dados diários de temperatura e mortalidade, o grupo de cientistas descobriu que o risco de morte para os mais velhos (com mais de 50 anos), no México, era maior em dias frios do que quentes.
Por que jovens adultos estão em risco?
Como adiantamos, o estudo não analisou o porquê dos jovens adultos morrerem mais de calor do que se pensava anteriormente, mas existem algumas possíveis justificativas envolvendo questões comportamentais.
É o caso da questão do trabalho ao ar livre exercida majoritariamente por estas pessoas, em áreas econômicas importantes, como agricultura e construção civil. Há pouca flexibilidade em reduzir o trabalho nos dias mais quentes durante ondas de calor, o que aumenta a probabilidade de desidratação, insolação e outras complicações de saúde.
Os jovens adultos também continuam a trabalhar em fábricas ou locais fechados, com pouca circulação de ar, independentemente da temperatura externa. De forma adicional, a prática de esportes ao ar livre também pode contribuir com o problema.
Todos esses riscos, somados, podem explicar a descoberta feita a partir da análise de dados e poderia se sobrepor às vantagens fisiológicas dos mais novos em relação aos mais velhos. Neste cenário, "as mortes entre menores de 35 anos aumentaram 32% [nos últimos anos], enquanto diminuíram 33% entre outras faixas etárias”, informam os autores.
É importante ressaltar que os dados são do México e não necessariamente refletem uma verdade global sobre as pessoas que mais morrem de calor no mundo. No entanto, os autores sugerem que taxas semelhantes podem ser obtidas em outros países em desenvolvimento, na América do Sul, na Ásia e na África. No caso brasileiro, as ondas de calor vão se tornar mais comuns, o que deve exigir novas políticas públicas.
E as crianças?
De forma oposta, a maior vulnerabilidade de bebês e crianças pequenas ao calor excessivo já era imaginado. Isso porque a capacidade dos pequenos em transpirar (atividade que resfria o corpo) ainda não está totalmente desenvolvida e são mais suscetíveis à desidratação, com risco real de complicações. Assim, um caso de diarreia pode ser fatal, quando não há tratamento, por exemplo.
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Fonte: Universidade Columbia