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Hipertermia | É possível morrer de calor?

Por  • Editado por Luciana Zaramela |  • 

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S. Hermann & F. Richter/Pixabay
S. Hermann & F. Richter/Pixabay

Épocas de calor excessivo causam nas pessoas sensações como moleza no corpo, cansaço e mais sede do que o normal. Quando termômetros apontam níveis acima de 40ºC e quando a umidade do ar permanece baixa, essa combinação afeta diretamente o organismo humano. Mas será possível morrer de calor?

Adiantamos que, literalmente, ninguém morre de calor. O que acontece é que a exposição excessiva a altas temperaturas desencadeiam uma série de alterações no organismo — essas alterações podem ser graves e, aí sim, levar o ser humano ao óbito.

Para entender como essa situação afeta o corpo humano e quais são os seus reais riscos, o Canaltech conversou com o cardiologista Marcelo Sampaio, parte do time médico da Beneficência Portuguesa de São Paulo.

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Hipertermia e as altas temperaturas

Para entender como o calor nos afeta, o conceito de hipertermia vem da elevação da temperatura do corpo, em níveis que ele não consegue dissipar. "Nosso corpo trabalha com uma faixa estreita de temperatura — de 36°C até 36,7°C, o que seria a nossa faixa normal. Saindo dessa faixa, teríamos uma hipertermia, que é classificada em média, moderada ou severa. Acima de 40°C de temperatura do nosso corpo, não do ambiente, ocorre uma hipertermia severa e significante", explica o cardiologista.

Mesmo que o corpo humano suporte variações na temperatura externa, que o afetam internamente, as suas respostas variam de condições pré-existentes e do tempo de exposição. "Com uma temperatura acima de 40°C e exposição direta ao Sol por mais de uma hora, você já pode ter algum sinal de hipertermia. A primeira coisa que acontece é uma perda de água, uma desidratação do corpo", comenta Sampaio. Em paralelo, o corpo começa a suar bastante e o indivíduo sente fraqueza.

O que o calor excessivo pode fazer com nosso corpo?

“Depende muito, da temperatura em si, do tempo de exposição e do local em que você se encontra", ressalta o cardiologista, ou seja, o risco não está em ir ao supermercado e andar alguns quarteirões, por exemplo. No entanto, a exposição excessiva ao calor pode causar disfunções em alguns órgãos e afetar seriamente o indivíduo.

Na parte neurológica, é possível sentir desde uma dor de cabeça muito forte, tonturas, irritabilidade, alteração de comportamento, sensação de desmaio e, às vezes, até o próprio desmaio. Em condições adversas, a pessoa pode entrar em um estado de inconsciência (estupor) e "o máximo que poderia acontecer do ponto de vista neurológico, caso a pessoa ficasse exposta a longos períodos, seria o coma", explica o médico.

Quanto à parte cardiológica, ocorre uma redução da pressão arterial. Há também o aumento da frequência cardíaca e da espessura (engrossamento) do sangue, o que pode desencadear a formação de coágulos. Por sua vez, esses coágulos podem entupir as artérias, ocasionado um infarto ou um derrame, dependendo de onde o fluxo sanguíneo for interrompido.

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Entre outros sintomas, a pessoa pode sentir câimbras nos braços e nas pernas por conta do calor excessivo. Além disso, ocorrem alterações na pele, como rubor (vermelhões), ressecamentos e até queimaduras. Essa perda de líquido da pele pode desencadear também alguns tipos de infecções. “Esse é um conjunto de fatores podem acontecer caso a pessoa se exponha ao calor extremo num período muito prolongado de tempo", completa Sampaio.

Altas temperaturas e o risco de morte

Os maiores riscos com a elevação das temperaturas dependem da idade da pessoa e de suas condições físicas. Por exemplo, um atleta pode suportar de forma muito melhor condições limites, do que um indivíduo acima do peso e sedentário. "Em geral, com temperaturas acima dos 40°C e a com mais de uma hora de exposição, todos vão se sentir mal", afirma Sampaio.

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Nesse sentido, crianças são parte do grupo de risco, por ainda estarem em fase de formação e desenvolvimento. No extremo oposto, os idosos podem ser os mais afetados pelas altas temperaturas e pessoas com problemas já existentes, como os cardíacos, já que a exposição prolongada nessas condições pode provocar a aceleração dos batimentos e arritmia cardíaca.

No verão europeu, durante os meses de junho e julho, são relativamente comuns notícias sobre óbitos por causa das ondas de calor. Em 2019, por exemplo, as temperaturas chegaram a 46ºC na França e ceca de 1,5 mil pessoas morreram, sendo a maioria composta por idosos. Já em 2022, o Reino Unido sofreu, em julho, o dia mais quente de sua história, registrando a marca de 40,2 ºC.

Calorão faz passar mal?

As altas temperaturas levam a uma redução da pressão sanguínea. Segundo o cardiologista, "com a queda da pressão, a pessoa sua mais e perde mais líquidos. Dessa forma, [o indivíduo] acaba tendo essa sensação de moleza, tontura, de falta de ar, por conta da queda de pressão e da perda da água interna".

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Para evitar todos esses efeitos negativos do calor, vale evitar atividades físicas externas depois das 10h e antes das 17h. Além de escolher roupas leves e claras para esses dias, é interessante o uso de óculos de Sol com filtro ultravioleta (UV), comer frutas e berber bastante água — de dois a três litros por dia.

O cardiologista também lembra que "devemos evitar comidas pesadas e de difícil digestão, porque quando se come uma comida muito pesada, você desvia o sangue para o tubo digestivo, ou seja, você já apresenta uma pressão mais baixa" que se soma ao calor excessivo. Isso acaba com uma queda significativa de pressão arterial, ampliando os efeitos do calor no corpo.