Pandemia de gripe aviária está a uma mutação genética de se tornar realidade
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela | •

Os casos do vírus H5N1 da gripe aviária estão se multiplicando entre os animais selvagens e até algumas fazendas de criação de gado leiteiro, mas o agente infeccioso ainda tem dificuldade em infectar humanos. Entretanto, isso pode mudar caso ocorra uma mutação genética específica, como propõem os pesquisadores da Scripps Research, na Califórnia (EUA). No pior dos cenários, a modificação poderia dar origem a uma nova pandemia.
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Publicado na revista Science, o estudo é baseado em hipóteses, mas, mesmo assim, acende um alerta vermelho para o risco de uma pandemia de gripe aviária em humanos. Outros fatores precisam convergir para se tornar realidade.
O ponto é que “essas descobertas demonstram quão facilmente esse vírus poderia evoluir para reconhecer receptores do tipo humano”, destaca Ting-Hui Lin, primeiro autor do estudo, em nota. Aqui, vale reforçar que a evolução viral não ocorreu e pode nunca ocorrer do modo como foi projetada.
Pandemia de H5N1 é possível?
"A gripe aviária H5N1 está disseminada em aves selvagens no mundo todo e está causando surtos em aves e vacas leiteiras nos EUA, com vários casos humanos recentes em trabalhadores de laticínios nos EUA", afirma o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), em nota.
Em humanos, foram quatro casos (a maioria trabalhava com animais que adoeceram) nos EUA, sendo que o vírus não foi transmitido entre pessoas — o que é um ótimo sinal.
No momento, o vírus H5N1 atinge receptores específicos comuns em animais e, assim, consegue se proliferar bem nos pássaros e em alguns mamíferos. O temor dos especialistas é que, através de mutações, o patógeno se adapte e se torne apto a ser transmitido por humanos, com pequenas modificações que melhoram a conexão com os receptores presentes em células humanas.
Neste caso, uma pessoa doente poderá transmitir a doença para outras, através de espirro, tosse ou mesmo fala (como ocorre com outros vírus respiratórios). É o possível cenário “ideal” para uma pandemia em humanos — especialistas já indicam quais sinais são necessários.
A nova hipótese defendida pelos cientistas do centro de pesquisa Scripps Research, é de que bastaria uma única mutação para o vírus melhorar a sua transmissibilidade em humanos.
Mutação genética no vírus da gripe aviária
No estudo, a equipe analisou a cepa H5N1 2.3.4.4b encontrada em infecções humanas recentes, ligadas a fazendas de criação de gado leiteiro nos EUA. Nesta análise, descobriu-se que uma única mutação de um aminoácido em uma proteína-chave seria suficiente para mudar o alvo do vírus de receptores do tipo aviário para receptores do tipo humano.
A mutação foi apelidada de Q226L e, em tese, pode ajudar a desencadear uma nova pandemia entre os humanos. Afinal, a infecção não será contraída apenas por aqueles que trabalham diretamente com animais, mas poderá ser passada pelo contato entre humanos, ainda mais se o H5N1 conseguir se ligar a células do sistema respiratório humano.
Apesar disso, a mudança pode não ser o suficiente. A equipe tem ressalvas e destaca que outras mutações genéticas seriam importantes para a transmissão em escala global. É o caso da E627K, que deve aumentar a replicação viral e a estabilidade em células humanas.
Hoje, “monitorar mudanças na especificidade do receptor — a maneira como um vírus reconhece células hospedeiras — é crucial, porque a ligação do receptor é um passo fundamental para a transmissibilidade”, completa Ian Wilson, outro autor do estudo e professor do centro de pesquisa.
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Fonte: Scripps Research, CDC