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Humanos têm listras secretas na pele; conheça as linhas de Blaschko

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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Bygum et al./BMC Medical Genetics
Bygum et al./BMC Medical Genetics

Nós, humanos, temos uma característica invisível bem debaixo dos nossos narizes — são padrões desenhados por toda a pele, vindos desde o útero. É como se fosse um rastro da maneira como as camadas exteriores se formam nos primeiros estágios da existência. Não conseguimos ver as linhas hipnotizantes como as de um tigre ou os cômicos padrões como os de uma vaca, mas eles estão lá.

Outros animais também não conseguem notar essa diferença, ao contrário do que algumas lendas de internet proclamam. O que é verdade, porém, é que algumas condições de pele, como eczemas e vitiligo, podem fazer com que essas linhas escondidas acabem se revelando.

A descoberta do fenômeno aconteceu na virada do século XX, quando o dermatologista alemão Alfred Blaschko estudou a pele de mais de 150 pacientes, percebendo padrões nas pintas e marcas de nascença, além de problemas de pele, e notando que tudo isso parecia seguir linhas bem definidas no corpo.

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Elas também mostraram estar presentes desde o nascimento, e não seguiam qualquer sistema corporal, como o das veias ou nervos, criando arcos parabólicos no peito, formatos montanhosos nas costas e voltas curvadas nos glúteos.

As linhas de Blaschko e o desenvolvimento humano

A descoberta levou ao batismo dessa curiosa característica como “linhas de Blaschko”, cujo conhecimento foi expandido 100 anos depois, com o médico Rudolph Happle, que descobriu os padrões do couro cabeludo, espiralados, e da pele do pescoço, organizados em dobras.

O que a ciência diz é que essas linhas traçam a jornada das nossas células enquanto elas se dividem e crescem até formar a pele que temos, ainda quando éramos embriões. São os caminhos feitos pelos queratinócitos, as células principais da superfície da pele, e melanócitos, que ficam mais ao fundo da epiderme e são responsáveis pelo seu pigmento.

Os melanócitos são formados na crista neural dos embriões quando são apenas um amontoado de algumas centenas de células. Nesse estágio do desenvolvimento, nos bebês do sexo feminino, as células começam a selecionar cromossomos X aleatórios para “desligar”, já que só é necessário ter um deles ativo por célula, mas herdamos 2, um do pai e um da mãe.

Algumas das células embrionárias que geram a pele terão o cromossomo X do pai, enquanto outros terão da mãe. Todas as células que se dividem a partir delas mantém a mesma configuração cromossômica epigenética do X, o que quer dizer que uma linha de Blaschko inteira também vai partilhar dessa versão do DNA, enquanto a linha próxima a ela pode ter a mesma ou ter o outro X.

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É por isso que alguns dos padrões aparecem como linhas, enquanto outros são manchas maiores na pele. Essa colcha de retalhos nos padrões genéticos é chamada de mosaicismo, podendo ocorrer nas mutações do início do desenvolvimento também, não apenas nos traços ligados ao cromossomo X.

Quando as linhas de Blaschko aparecem?

Como a cor de pele é definida por mais de um gene no cromossomo X, o efeito fica invisível em humanos, mas em alguns animais os genes da pelagem são ligados exclusivamente ao cromossomo, o que gera fenômenos como os gatos malhados.

Nesses gatos, as sessões mais pigmentadas do pelo marcam onde cada tipo de célula ficou, com um grupo trazendo o cromossomo X da mãe e outro o do pai. Nos humanos, algumas mutações envolvendo células que produzem cor podem levar ao mosaicismo na pigmentação se apresentado nos padrões das linhas de Blaschko. Alguns tipos são mais comuns, como o 1a e o 1b na imagem abaixo, enquanto outros são mais raros.

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Outro exemplo de mosaicismo, embora bastante raro, é o quimerismo, quando dois óvulos fertilizados se unem e formam uma só pessoa. Isso pode levar a combinações aleatórias de dois tipos de pele geneticamente diferentes, gerando um padrão semelhante a um tabuleiro de xadrez, como no Tipo 2 da imagem acima.

Alguns cientistas suspeitam que essas linhas também podem explicar a maneira como erupções cutâneas se espalham, como a dermatite pelo contato com hera venenosa. Outras condições, como eczema e psoríase, também podem seguir esses padrões. No final das contas, além de mera curiosidade, as linhas de Blaschko também acabam ajudando médicos a diagnosticar doenças de pele.

Fonte: BMC Medical Genetics, Contemporary Pediatrics, Clinics in Dermatology, Science Alert