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Eis o que sabemos sobre vacinação de grávidas contra COVID-19

Por| Editado por Luciana Zaramela | 10 de Julho de 2021 às 15h15

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Daniel Reche/PIxabay
Daniel Reche/PIxabay

Desde abril, o Ministério da Saúde passou a classificar grávidas e puérperas — mães de recém-nascidos — como grupo prioritário na campanha nacional de imunização contra o coronavírus SARS-CoV-2. Até então, apenas mulheres nessas condições e com comorbidades poderiam receber a imunização contra a COVID-19 no país. A medida é importante para preservar tanto a vida das mães quanto dos bebês, sempre respeitando as devidas orientações.

Sem acesso aos imunizantes contra a COVID-19, o número de mortes de grávidas e puérperas com a doença mais que dobrou em abril de 2021 em relação à média semanal de 2020. Nesse período, o aumento de óbitos dessas mulheres ficou acima do registrado na população em geral, segundo levantamento feito pelo Observatório Obstétrico Brasileiro COVID-19 (OOBr Covid-19).

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Em números, uma média de 10,5 gestantes e puérperas morreram por semana em 2020, chegando a um total de 453 mortes no ano passado. Já em 2021, a média de óbitos do coronavírus por semana chegou, até 10 de abril, a 25,8 neste grupo. No total, foram 362 óbitos durante as 14 primeiras semanas epidemiológicas do ano.

Mesmo com esses dados, ainda há inúmeras dúvidas e questões que envolvem a vacinação contra a COVID-19 de mulheres grávidas. Para entender sobre o assunto, o Canaltech conversou com especialistas do Hospital HSANP, em São Paulo, sobre o tema. “A vacinação é a única forma de nos protegermos da doença e, na gestante, principalmente, porque é um grupo de risco para inúmeras doenças, devido à baixa imunidade", adianta o ginecologista da coordenação da maternidade do hospital, Leopoldo Cruz Vieira.

Vacinas contra COVID-19 em grávidas

“As vacinas com vírus vivo não são recomendadas para grávidas, porque elas, na realidade, podem transmitir doenças infectocontagiosas para o bebê, através da placenta. Isso vale para qualquer tipo de vacina", explica o ginecologista Vieira, sobre a regra geral das imunizações. Diante da emergência da COVID-19 no Brasil, estes imunizantes chegaram a ser recomendados para grávidas, mas, hoje, o uso está suspenso por causa de efeitos adversos raros e sem ligação direta com esta regra.

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É importante observar que tanto a vacina Covishield (AstraZeneca/Oxford) quanto a da Janssen (Johnson & Johnson), por adotarem um vetor viral, não são indicadas, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). "Apesar do baixo risco de ocorrência de trombose com trombocitopenia (TTS), que pode ocorrer em 0,1% a 0,5% do total de vacinados, há a necessidade de se instituir medidas para a identificação precoce de casos suspeitos e a intervenção oportuna para uma melhor evolução clínica", ressalta a agência, em nota. A orientação foi confirmada pelo Ministério da Saúde na quinta-feira (8).

Dessa forma, as grávidas brasileiras podem se beneficiar de dois imunizantes, distribuídos de forma gratuita no Sistema Único de Saúde (SUS): a CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e pelo Instituto Butantan; e pela fórmula da farmacêutica norte-americana Pfizer em parceria com a empresa de biotecnologia alemã BioNTech. Ambas as vacinas contra a COVID-219 demandam duas doses para promover a imunização completa.

No caso da vacina da Pfizer/BioNTech, a empresa dos Estados Unidos anunciou que os estudos de segurança e eficácia da fórmula em grávidas já estavam na Fase 2 e 3, em maio deste ano. No estudo, quatro mil gestantes, com mais de 18 anos e entre a 24ª e 34ª semana de gestação puderam participar. Nesse recorte, estão inclusas 200 brasileiras. O estudo ainda está em andamento.

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Efeitos adversos raros

No caso da reação adversa rara dos imunizantes com vetor viral, foi observada uma resposta anormal do sistema imunológico após a aplicação, o que deu origem a anticorpos que atacam as próprias plaquetas dos pacientes e, por sua vez, levou ao entupimento de veias. Esses casos de trombose foram relatados em lugares incomuns, como no cérebro e no abdômen, e o risco baixo não é exclusivo de mulheres grávidas. Tecnicamente, a condição é conhecida como trombose com trombocitopenia (TTS).

Por exemplo, "foram relatados derrame cerebral em pacientes jovens que receberam a vacina e casos de hemorragias variadas em pacientes com uso de coagulantes", explica Vieira. Independente desses casos extremos, "na realidade, são vacinas que podem ser administradas [para o público geral], porque o número de casos é muito pequeno e, pensando no risco-benefício, o benefício é muito grande", complementa. No entanto, com a especificidade da gravidez, é preferível minar as possibilidades, ainda mais por existirem outras opções disponíveis. 

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"Apesar de a vacina da AstraZeneca/Oxford ter sido associada à formação de coágulos, trata-se de um evento raro e também identificado em outras vacinas. Com relação às gestantes, por mais que elas tenham um aumento no risco de tromboses, esse é um evento mais incomum do que a alteração no sistema imune — o que aumenta o risco de doenças infecciosas graves, como a COVID-19", pontua Milton Monteiro, enfermeiro com especialização em Infectologia do HSANP.

No Brasil, a formação dos casos de trombose após a vacinação com imunizantes que adotam o vetor viral foi confirmada pela Anvisa.  Além disso, "já contêm em suas bulas informações sobre este tipo de evento adverso" e "o diagnóstico e o tratamento precoces são essenciais nesses casos", detalha a agência reguladora.  

Bebês podem ganhar anticorpos da mãe vacinada

Ainda no mês de março deste ano, foi registrado, nos Estados Unidos, o primeiro caso de um bebê que já nasceu com os anticorpos contra o coronavírus. Na ocasião, a mãe era residente no estado da Flórida e, por isso, recebeu a primeira dose da vacina da Moderna — a tecnologia adotada é a mesma do imunizante da Pfizer/BioNTech —, enquanto ainda estava grávida de 36 semanas.

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Para o ginecologista Vieira, “o benefício para o feto não é o propósito da vacina, mas sabemos que alguns casos já foram descritos — não com estudos epidemiológicos ainda — em que o bebê acaba nascendo com uma imunidade passiva, ou seja, uma sorologia que gera uma certa imunidade para a criança".

No entanto, por ser passiva, não é possível estabelecer por quanto tempo ela pode durar e, geralmente, pode ser apenas por períodos curtos. Além disso, não se sabe a efetividade dessa imunidade. "Também há casos em que o bebê nasce sem essa imunidade, mesmo com a mãe vacinada. Temos os dois lados e o tópico ainda precisa ser melhor estudado", defende o ginecologista.

Como regra, "o fato da mãe estar imunizada não significa total proteção ou prevenção contra a contaminação da COVID-19 ao bebê. A vacina produz anticorpos para a defesa ou minimização de sintomas graves", reforça o enfermeiro Monteiro. "Há estudos que demonstram a transferência de anticorpos contra a COVID-19 de mãe para bebê, mas não se sabe ainda qual é implicação disso na prática — visto que a proteção imunológica não se baseia apenas nos anticorpos", complementa sobre a proteção.

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Quais cuidados tomar na hora da imunização?

“Além de se vacinar, é importante saber o momento em que vai se vacinar. Não recomendo por estes casos de coagulopatia, tomar a vacina [contra a COVID-19] antes de 12 semanas de gestação. Isso porque, nesse período, a gestante tem maior chance de ameaças ou de abortos precoces", orienta o ginecologista. Também não é recomendado que a imunização ocorra quando a gestante relata algum outro sintoma sem causa definida — por isso, é importante sempre pedir orientação ao médico.

Mesmo que seja uma evidência anedótica (um dado informal), o médico afirma que, nos pré‐natais que acompanha, "não vi nenhum caso de problema com a vacinação [contra a COVID-19]. Inclusive, já fiz alguns partos de mães que foram imunizadas", completa.  

Fonte: Com informações: Anvisa e Agência Brasil