De ruas desertas a aglomerações: como está Wuhan após o primeiro caso de COVID?
Por Fidel Forato |
Com mais de 22 milhões de pessoas já diagnosticadas com a COVID-19, não é segredo que a pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2) afete todo o mundo, mas de formas muito diferentes. É o que se pode ver em relatos dos últimos dias vindos do primeiro epicentro da COVID-19, a cidade chinesa de Wuhan. Com a doença controlada, festivais e eventos com milhares de pessoas voltam a ocorrer.
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No começo da pandemia, fotos de Wuhan e do mercado de frutos do mar, onde se acredita que o coronavírus tenha começado a se propagar primeiro pela China e depois para o mundo, ganhavam manchetes. Agora, pouco mais de sete meses depois, a região retoma a normalidade e causa estranheza em muitas partes do mundo com imagens de aglomeração e de um show em uma pool party.
Idas e vindas na retomada
A retomada de Wuhan foi repleta de altos e baixos durante a pandemia do novo coronavírus, isso porque pode ser considerada a primeira região do mundo a entrar em quarentena. Com os primeiros casos da COVID-19 tomando forma, uma quarentena estrita foi imposta aos moradores da cidade a partir de 23 de janeiro, quando o agente infeccioso já havia infectado mais de 400 de pessoas, sendo pelo menos 17 óbitos.
Naquele momento, a cidade de 11 milhões de pessoas foi totalmente isolada de outras partes do país, em um esforço para controlar a transmissão do coronavírus. Em paralelo, milhares começavam a ser testados e colocados em quarentena ao longo dos meses. Inclusive, eventos culturais e qualquer aglomerações foram canceladas.
Houve períodos em que apenas um morador por causa tinha direito a sair na rua e essa permissão era de cerca de duas horas. Meses nessa situação, somente em março, as medidas de isolamento social começaram a ser aliviadas de forma gradual. Vale lembrar que apenas no dia 24 de março, o estado de São Paulo decretou quarentena por causa da COVID-19 e outros estados brasileiros começaram a fazer o mesmo.
Voltando para Wuhan, shoppings e o transporte público voltaram a funcionar, mesmo com medidas de distanciamento social sendo mantidas e uso de máscaras obrigatório. Em abril, a quarentena da cidade foi, oficialmente, foi encerrada. Esse movimento despertou uma enxurrada de eventos, como casamentos.
Entretanto, sinais de uma segunda onda da COVID-19 começaram a aparecer nos radares de autoridades de saúde pública. Até que no dia 12 de maio foram registrados seis novos casos da doença infecciosa. Assim, Wuhan investiu novamente em testes, agora na ordem dos milhões, e conteve o surto. Em julho, sim, era possível afirmar que a vida voltou ao normal na maior parte da China, incluindo a reabertura de cinemas, parques e outros estabelecimentos, inclusive aglomerações puderam ocorrer.
Entre as aglomerações esteve a festa eletrônica no parque aquático Wuhan Maya Beach, que viralizou nas redes sociais, e, no último final de semana, outra festa chamou a atenção no Wuhan Happy Valley. É possível ver milhares de pessoas aproveitando a noite, sem máscaras e comemorando. Segundo o jornal Global Times, publicado pelo Diário do Povo do Partido Comunista, as festas refletem o sucesso da cidade em seus esforços de controle de vírus.
Afinal, Wuhan não registra nenhum caso da COVID-19 desde maio, quando realizou milhões de testes. As estimativas de testagem da cidade apontam que 9,9 milhões de pessoas foram testadas para o novo coronavírus.
Risco de casos importados
Entretanto, não apresentar novos casos da doença não significa necessariamente que Wuhan esteja livre de casos da COVID-19, afinal eles podem ser importados. "O problema é que não erradicamos a COVID-19, e isso significa que enquanto a doença não for erradicada, ainda há o risco de contraí-la do exterior ou de outro lugar", explica Sanjaya Senanayake, professor associado de doenças infecciosas da Universidade Nacional da Austrália, para a BBC.
Como exemplo do estrago que casos importados podem significar no reaparecimento da COVID-19, o professor cita a Nova Zelândia, que não registrou casos de contágio doméstico por três meses, porém lida com o reaparecimento da doença hoje. "Então se você está juntando grandes grupos de pessoas, você tem que ter cuidado. Mesmo que uma pessoa tenha o vírus, você tem que se preparar para dias difíceis", completa Senanayake.