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COVID-19 no BR: USP testa tipos de materiais para produzir 1 milhão de máscaras

Por| 08 de Abril de 2020 às 21h30

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Taylor May
Taylor May

Um dos grandes problemas que vêm sendo debatidos no mundo todo é a falta de EPIs — conhecidos por equipamentos de proteção individual, como máscaras descartáveis ou não — para profissionais da Saúde, durante a pandemia do novo coronavírus (SARS-CoV-2). É essa falta de materiais básicos, que acontece também aqui no Brasil, que leva muitos médicos e enfermeiros a contraírem a COVID-19 e se tornarem pacientes. 

Diante desse cenário, pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) testam quais materiais podem ser usados na produção, em massa, de máscaras que previnam a transmissão do vírus da COVID-19. Para tanto, esse estudo testa matérias-primas (e tecidos), procurando uma eficiência de até 97% na retenção do coronavírus, para a produção de um milhão de máscaras.

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Especificações do coronavírus

De acordo com o professor do Instituto de Física (IF) da USP, Paulo Artaxo, o SARS-CoV-2 tem, em média, 120 nanômetros de tamanho. “Já existem evidências científicas de que a eficiência na retenção para partículas tão pequenas [um nanômetro é um bilhão de vezes menor que um metro] varia muito entre máscaras de uma mesma classe e entre diferentes produtos usados para confeccioná-las... O objetivo dos testes de diferentes máscaras é medir a sua eficiência para retenção de partículas nanométricas”, explica Artaxo.

Para impedir que o vírus seja transmitido, o tecido ideal para essas máscaras teria duas funções. A primeira é impedir que pessoas contaminadas, ao tossirem ou espirrarem, disseminem o vírus. Já a segunda é não permitir que eventuais gotículas expelidas cheguem ao sistema respiratório de pessoas saudáveis. Em ambos os casos, funcionam como barreiras que agem de dentro para fora e vice-versa.

Segundo o professor Vanderley John, da Escola Politécnica (Poli) da USP, “a máscara é uma barreira, um filtro, então foi medida a eficiência de retenção de partículas, comparando o número e as dimensões de partículas entre 10 a 600 nanômetros que chegam a um detector com ou sem máscara”.

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Para isso, o equipamento para a medição consiste em um gerador de aerossóis que gera partículas do tamanho do coronavírus e um sistema eletrônico de detecção de partículas, acoplado a um contador de nanopartículas chamado CPC (Condensation Particle Counter). “Ele [o equipamento] foi adquirido para medir nanopartículas em suspensão na atmosfera, que afetam o clima, e foi adaptado no laboratório para este uso”, comenta Artaxo.

Retenção do vírus

A seguir, o gráfico desenvolvido pela equipe do projeto da USP compara o nível de desempenho de diferentes materiais para a produção de máscaras contra o novo coronavírus, feito com as primeiras análises:

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No caso da USP, a prioridade dos testes foram as máscaras utilizadas em hospitais, que precisam ser de TNT (um tipo de “tecido” feito de plástico). Essas máscaras têm um nível de eficiência de filtragem superiores a 80%.“ Alguns TNTs têm eficiência de 97% na retenção de partículas, similar ao material das máscaras necessárias para equipes médicas que lidam diretamente com pacientes contaminados. Outros se mostram piores que tecidos convencionais”, afirma John.

Só que também são testadas máscaras produzidas com algodão de camiseta, ou seja, aquelas que poderão ser produzidas para uso doméstico. Nesses casos, a filtragem é inferior a 50%. “Algumas máscaras de algodão grosso com camada simples, que são baratas e podem ser facilmente esterilizadas com fervura”, esclarece John. “Produtos com este nível de eficiência podem ser bons para quem sai à rua ou vai fazer compras e teria possibilidade de ficar exposto momentaneamente ao vírus, mas todos poderão se beneficiar de proteções maiores”, conclui  professor.

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Produção

A partir da pesquisa, será possível selecionar melhor os materiais para a produção, em massa, desses equipamento de proteção para médicos e enfermeiros. “Como não há, no mercado internacional, onde comprar hoje estas máscaras em grandes quantidades, teremos que adaptar novos materiais e testar com a nossa tecnologia”, avisa Artaxo.

Com base nos resultados, o projeto RESPIRE!, coordenado pelo Centro de Inovação da USP, deve produzir um milhão de máscaras que serão destinadas para 8 mil profissionais em hospitais, através de grupos e cooperativas de costureiras, mobilizadas pela empresa Tecido Social. Essas recomendações também estarão disponíveis para indústrias, ONGs e pessoas interessadas em produzir máscaras caseiras com bom nível de proteção.

Fonte: USP